Em nova dinâmica, periferias viram tema central de campanha nas eleições

Nas eleições municipais atuais, um movimento tem ganhado força: a crescente inclusão das periferias como tema central nas campanhas. Cada vez mais candidatos estão destacando suas conexões com esses territórios, seja mencionando suas origens, suas vivências ou buscando se aproximar das narrativas locais. Isso não é por acaso. A relevância das periferias, seus moradores, líderes e ídolos, que há tempos vinha sendo apontada como essencial, agora se impõe de forma clara e incontestável no cenário político.

É notório o esforço de alguns candidatos para parecerem familiarizados com os desafios, talentos e ícones que emergem dessas regiões. Enquanto alguns enaltecem suas histórias de vida nas periferias, outros adaptam seus discursos para soarem como conhecedores das lutas e esperanças de quem vive longe do centro expandido das grandes cidades. Ainda que, em alguns casos, essa tentativa pareça superficial ou meramente eleitoreira, o fato é que as periferias, antes ignoradas ou subestimadas, agora são palco obrigatório de qualquer candidatura séria.

Esse movimento reflete o peso crescente que esses territórios exercem, não só em termos de população, mas como polos culturais, econômicos e sociais. As lideranças comunitárias, os movimentos locais e até as manifestações culturais dessas regiões têm mostrado um protagonismo indiscutível, forçando o debate sobre questões como mobilidade, segurança, saneamento, educação e oportunidades de emprego ir muito além do centro expandido.

Essa transição política, ainda em andamento, aponta para um futuro em que as demandas das periferias não poderão mais ser relegadas a um segundo plano. O próximo mandato, seja em São Paulo ou em qualquer outra grande cidade, terá que priorizar essa agenda para que o impacto e o desenvolvimento dessas regiões sejam efetivos e contínuos. As periferias não querem mais ser apenas um tema de campanha. Elas exigem presença nas decisões, nas políticas públicas e nas prioridades de governo.

Com o potencial dessas regiões, que durante muito tempo foi ignorado, mas agora se torna cada vez mais evidente, espera-se que esse movimento não seja uma moda passageira, mas uma virada estrutural que, de fato, promova avanços concretos para todos os moradores da cidade. Afinal, uma cidade só será verdadeiramente desenvolvida quando todas as suas partes, inclusive as mais afastadas, forem incluídas e valorizadas no processo.

*Joildo Santos é fundador e CEO do Grupo Cria Brasil - hub de comunicação de impacto social especializado no público e linguagem de favela, cujo propósito é conectar empreendedores da comunidade ao mercado e grandes marcas ao mercado ao público da periferia. Entre as frentes de atuação do Grupo está a Agência Cria Brasil, Cria de Periferia, Cria de Favela, Marcas das Favelas, Instituto Crias. Nascido em Ituberá, no Estado da Bahia, Joildo Santos é também membro da diretoria da União dos Moradores e do Comércio de Paraisópolis e co-fundador do G10 Favelas. Ha 25 anos é morador da "megalópole" chamada Favela de Paraisópolis, trabalhando com o propósito de criar polos de inovação e comunicação em todos os Estados brasileiros, causando impacto e renda para quem vive nas mais diversas regiões periféricas desse Brasil.

Opinião

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