Com Lula, PT cresce em relação a 2020, mas 1º turno fica abaixo do esperado

Depois de duas eleições seguidas de derrocada, o PT cresceu nas disputas municipais deste ano, com vitórias em 248 municípios e presença em 13 segundos turnos, mas sofreu derrotas relevantes e inesperadas neste domingo (6).

O que aconteceu

Em 2020, o partido elegeu 183 prefeitos (179 no primeiro turno), pior resultado da história. O número deste ano, no entanto, é menor do que as 265 prefeituras atuais, que aumentaram após a eleição do presidente Lula (PT), e está muito aquém do período em que o partido estava no poder sob a presidente Dilma Rousseff (PT), quando elegeu 643 prefeitos em 2012.

Também está abaixo do esperado. Inicialmente o partido chegou a falar em ganhar mil prefeituras. Com a chegada da campanha, adotou expectativas mais "reais", mas, ainda assim, trabalhava com projeções entre 400 e 500 cidades. Ficou com metade disso.

O partido também tem a chance de retomar capitais, mas poucas. Sem nenhum candidato eleito em primeiro turno, o PT segue na disputa de quatro das 13 capitais onde disputou. Fortaleza já era esperada, mas Cuiabá foi uma surpresa. Em 2020, o partido não conquistou nenhuma capital e, em 2016, apenas uma.

PT também deve crescer em cidades grandes. Dos 103 municípios com segundo turno, o partido conquistou apenas dois e segue na disputa de outros 13, incluindo as capitais já mencionadas. O partido havia lançado candidato em 64 dessas cidades. Atualmente, o partido comanda apenas quatro dessas prefeituras.

Nem a ajuda de Lula evitou revezes. Perdeu em capitais como Teresina e Goiânia e em cidades relevantes do interior, como Campinas (SP) e Uberlândia (MG). Nem nas cidades que o governo investiu o partido teve sucesso.

Chances em capitais

Desde que o partido saiu da Presidência, o número de capitais despencou, mesmo nos estados em que conseguiu manter o governo. Em 2016, só elegeu Marcus Alexandre (MDB) em Rio Branco (AC), que deixou o partido antes de tentar reeleição. Em 2020, não elegeu ninguém e agora tenta quatro.

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Em Fortaleza, a aliança petista garantiu o deputado estadual Evandro Leitão (PT-CE) em primeiro lugar. Maior cidade onde o partido lançou candidato, foi uma das únicas três em que Lula foi pessoalmente. A aposta era que o partido, liderado localmente pelo ex-governador e ministro Camilo Santana, repetisse o sucesso de 2022, quando elegeu o governador Elmano de Freitas (PT) no primeiro turno. Leitão enfrenta o deputado bolsonarista André Fernandes (PL).

Natal seguiu caminho semelhante. Com apoio da governadora Fátima Bezerra (PT), a deputada Natália Bonavides (PT) saiu do empate triplo nas pesquisas e conseguiu ir ao segundo turno com o deputado Paulinho Freire (União), nome do prefeito Álvaro Dias (Republicanos).

Em Porto Alegre, a deputada Maria do Rosário (PT) passou por pouco. Ela chegou a liderar a disputa contra o prefeito Sebastião Melo (MDB), que passou em primeiro, mas viu uma ascensão da deputada Juliana Brizola (PDT), apoiada pelo governador Eduardo Leite (PSDB).

A grande surpresa desta eleição para o partido, no entanto, ficou por conta de Cuiabá. Reduto conservador, onde o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) venceu com folga em 2022, levou o deputado estadual Lúdio Cabral (PT) para o segundo turno, contra o deputado bolsonarista Abílio Brunini (PL).

O partido só passou a apostar em Lúdio na reta final, quando os trackings passaram a indicar a virada. O deputado estadual Eduardo Botelho (União), nome do governador Mauro Mendes (União), liderou as pesquisas durante quase toda a campanha, mas acabou em terceiro.

Decepções

Se em Cuiabá deu certo para Lula, em Teresina o partido viu sua maior decepção. A aliança do governador Rafael Fonteles (PT) e do ministro Wellington Dias (PT) tinha certeza de que emplacaria o deputado estadual Fábio Novo (PT), com apoio de Lula, no segundo turno, mas acabou derrotado já no domingo, com 43% dos votos. O ex-prefeito Silvio Mendes (União) foi eleito, com 52%.

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Reduto conservador, Goiânia também acabou sendo uma decepção. A deputada Adriana Accorsi (PT-GO) apareceu durante toda a disputa como nome para o segundo turno. Na campanha, adotou estratégia oposta à dos colegas petistas e evitou atrelar seu nome ao de Lula, sem abusar de sua imagem em propagandas eleitorais nem citá-lo em debates. Nem isso adiantou. Ela acabou atropelada pelo candidato bolsonarista Fred Rodrigues (PL), que vai ao segundo turno com o ex-deputado Sandro Mabel (União), bancado pelo governador Ronaldo Caiado (União).

Outros nomes se mostraram apostas erradas. Em meio a uma disputa acirrada em Belo Horizonte, o deputado Rogério Correia (PT-MG) acabou em quinto. Ele era uma aposta de crescimento de Lula, mas, com sua estagnação nas pesquisas, aliados já vinham alertando o presidente sobre o provável resultado.

Os resultados em Manaus, Aracaju e João Pessoa também não agradaram. Já era esperado que o partido não vencesse em nenhum dos três: as capitais paraibana e amazonense têm prefeitos populares atrás da reeleição e, apesar de Sergipe ainda ter nomes fortes do partido, uma vitória era vista como improvável.

O problema foram as colocações baixas. Em Manaus, o ex-deputado Marcelo Ramos (PT) acabou em quinto; em Aracaju, Candisse Carvalho, mulher do senador Rogério Carvalho (PT-SE), ficou em quarto; e em João Pessoa, o ex-prefeito Luciano Cartaxo (PT) ficou em quarto.

Em grandes cidades

O partido continua na disputa de outras nove cidades de grande porte. Além de capitais, conquistar cidades no interior do país, consideradas estratégicas, era um dos planos da presidente petista, Gleisi Hoffmann, para esta eleição. Mas o número não foi tão alto.

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O sucesos principal se deu pelas prefeituras já existentes. Em duas, já garantiu no primeiro turno: em Contagem (MG), a prefeita Marília Campos (PT) foi reeleita com 60%, e em Juiz de Fora (MG), Margarida Salomão (PT) ganhou com 54%. Cidades importantes, Lula visitou as duas no fim de julho, pouco antes do processo eleitoral.

As outras duas prefeituras que o partido quer manter são no ABC paulista, onde também não foi bem. O prefeito Filippi Júnior (PT) enfrenta o engenheiro Taka Yamauchi (MDB) em Diadema (SP), e Marcelo Oliveira (PT) enfrenta o ex-prefeito Atila Jacomussi (União Brasil) em Mauá (SP).

Há disputa ainda em outras sete cidades:

  • Anápolis (GO), com deputado estadual Antonio Gomide
  • Camaçari (BA), com o ex-prefeito Luiz Caetano
  • Caucaia (BA), com Waldemir Catanho, ex-secretário de articulação de Elmano de Freitas (PT)
  • Olinda (PE), com o vereador Vinicius Castello
  • Pelotas (RS), com o ex-prefeito Fernando Marroni
  • Santa Maria (RS), com o deputado estadual Valdeci Oliveira
  • Sumaré (SP), com o ex-vereador Willian Souza

Outros revezes

Não foi só em capitais que o partido ficou aquém do esperado. No ABC paulista, berço político de Lula e do sindicalismo brasileiro, o partido não foi nada bem, incluindo São Bernardo do Campo (SP). Retomar o berço político era questão de honra para o presidente, mas, segundo pessoas próximas, o próprio Lula, que foi no lançamento da campanha do deputado estadual Luiz Fernando (PT-SP), já havia começado, aos poucos, a entender que não ia dar certo. Luiz Fernando nem foi ao segundo turno.

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Na Grande São Paulo, os resultados em Guarulhos e Osasco também decepcionaram. O partido escalou o deputado Alencar Santana e o deputado estadual Emídio de Souza, amigo de Lula, para disputar nas duas cidades, respectivamente. Nenhum dos dois foi ao segundo turno. Em Guarulhos, Alencar foi derrotado ainda pelo ex-prefeito Elói Pietá (Solidariedade), fundador do PT, que deixou o partido em janeiro por não concordar com sua indicação.

O partido também esperava voltar a ter chance em Campinas, maior colégio eleitoral do interior paulista. O deputado federal Pedro Tourinho (PT) era esperado no segundo turno, mas já foi derrotado pelo prefeito Dário Saadi (Republicanos). Ele teve a candidatura cassada por abuso de poder econômico, mas recorreu e foi reeleito com 66% dos votos. Apesar de ter disputado segundos turnos, o PT não ganha na cidade desde 2000, quando elegeu o Toninho do PT, assassinado no cargo, em 2001.

A deputada Dandara Tonantzin (PT-MG) também era uma aposta em Uberlândia (MG). Liderança jovem e ligada ao ativismo negro, ela é uma das principais apostas nacionais do partido, em um estado importante, e chegou a liderar as pesquisas. Ela foi derrotada pelo ex-vice-prefeito Paulo Sérgio (PP), candidato do prefeito Odelmo Leão (PP), com 52% dos votos.

Outro baque foi Araraquara (SP). A vitória de Eliana Honain (PT), ex-secretária do prefeito Edinho Silva (PT), ex-minitsro e amigo de Lula, era dava como certa, inclusive pelas pesquisas, mas sofreu uma virada do bolsonarista Dr. Lapena (PL). A cidade do interior paulista também foi um dos locais em que o governo apostou e fez altos investimentos. Não adiantou.

Efeito ou ausência de Lula?

Mesmo aquém do esperado, o PT credita a melhora a Lula. Se as eleições de 2016 foram inflamadas pela Lava Jato e pelo impeachment de Dilma, e as de 2020, pelo bolsonarismo, 2024 está longe de ser uma eleição lulista, mas também indica que a legenda conseguiu estancar a sangria —pelo menos por enquanto.

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Lula participou pouco. Na campanha, só visitou três cidades: São Bernardo do Campo, seu berço político; São Paulo, a maior cidade do país; e Fortaleza, maior cidade em que o partido tem candidato próprio. Conseguiu segundo turno em duas. Além de Leitão em Fortaleza, em São Paulo, o deputado Guilherme Boulos (PSOL) foi ao segundo turno contra o prefeito Ricardo Nunes (MDB).

O presidente só entrou mesmo de cabeça na disputa da capital paulista. Ao passo que não foi a quase nenhuma outra capital, em São Paulo foi três vezes e participou de quatro comícios com Boulos, incluindo a caminhada final no último sábado (5), além de gravar programas de TV na casa do candidato.

Agora, ele deverá seguir se dedicando. É esperado que Lula vá em quase todas as cidades que o partido disputa durante este mês, seja para eventos de campanha, seja para eventos oficiais, em que os candidatos não podem participar, mas só sua presença já é vista como positiva na disputa.

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