Maria do Rosário: clientelismo e discurso de ódio explicam Melo à frente

A candidata do PT à Prefeitura de Porto Alegre, Maria do Rosário, afirmou que a atual gestão está marcada pelo clientelismo e que o posicionamento de ódio é uma das chagas da política na capital gaúcha. Ela participou, nesta quinta-feira (24), de sabatina promovida pelo UOL e pelo jornal Folha de S.Paulo.

O que aconteceu

Maria do Rosário disse que seu adversário, o atual prefeito, Sebastião Melo (MDB), só chegou ao segundo turno graças ao clientelismo e à direita. "A não ser pelo clientelismo, pelo tipo de campanha e junção de todas as forças da direita com o meu adversário no primeiro turno, eu não tenho como explicar uma votação tão grande. Mas notem que a votação dele, grande, não foi suficiente para a vitória no primeiro turno e esgotou, do meu ponto de vista, grande parte da capacidade de ampliação dele".

Melo quase levou a disputa já no primeiro turno, com 49,72% dos votos (345.420). A candidata do PT chegou ao segundo turno com 26,28% dos votos (182.553).

A política local virou uma política clientelista muito ruim. As pessoas, para acessarem o que é do direito delas hoje, na lógica que está imperando em Porto Alegre com a atual administração, precisam ter algum amigo ou aliado dentro da prefeitura. Isso tudo, o clientelismo político junto à extrema direita e ao discurso ideologizado, machista muitas vezes, racista outras tantas vezes, que ataca a esquerda simplesmente por ser esquerda, esse posicionamento de ódio é uma das chagas que a política gaúcha tem e que Porto Alegre também vive
Maria do Rosário (PT), em sabatina UOL/Folha

Apesar da vantagem do atual prefeito nas pesquisas mais recentes, a candidata do PT acredita que tem mais chances de crescer até o próximo domingo, em relação a seu adversário. "O presidente Lula (PT) ganhou aqui [em Porto Alegre, em 2022], e a eleição ainda não aconteceu. Eu vou para as urnas no domingo com grande chance. Pode estar acontecendo uma virada importante. Na segunda-feira, quando vocês forem analisar os resultados, talvez essa visão mais derrotista de vocês e de quem está olhando do centro do país não seja aquilo que nós estamos vivendo, caminhando nas ruas", afirmou.

Maria do Rosário disse não acreditar que a ausência do presidente Lula em sua campanha tenha tido algum peso em seu desempenho. "O presidente Lula esteve aqui cinco ou seis vezes este ano, no momento mais difícil. Ele não saiu daqui, veio muitas vezes e, em todas, eu estive com ele. Nas últimas, não pude estar com ele em atividade pública porque era o anúncio de recursos e, como candidata, eu não podia estar. Acho honroso da parte dele não misturar as visitas ao Rio Grande do Sul com a campanha eleitoral".

Não carrego derrotismo. PSOL e PT ampliaram o número de vereadores na Câmara Municipal [de Porto Alegre], e o PT fez a maior votação na legenda, desde 2008 --coincidentemente, quando eu fui candidata. O que nós estamos disputando aqui é um projeto de cidade, uma eleição politizada
Maria do Rosário (PT), em sabatina UOL/Folha

Enchentes em Porto Alegre

Para a candidata do PT, a capital gaúcha foi vítima do negacionismo científico da atual gestão, durante a pandemia e na enchente histórica que atingiu a região, em maio. Maria do Rosário acusou o prefeito de ter ignorado alertas de sobrecarga do sistema contra enchentes. "Entre setembro de 2023 e maio de 2024, mesmo com todos os alertas da meteorologia, de cientistas, de universidades e pesquisadores, não foi feita a devida preparação, prevenção e atualização do sistema de proteção contra as cheias", afirmou.

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Questionada sobre o fato de Melo liderar as pesquisas, apesar dos desastres causados pela chuva, a candidata afirmou que o tema só não domina mais a disputa porque a cidade tem muitos outros problemas. "A cidade de Porto Alegre tem tantos e tantos problemas que ela não pode só ficar pensando na enchente. Disso eu me dei conta do primeiro para o segundo turno. A gente falava da enchente, e as pessoas queriam falar da saúde. A gente falava da enchente, e as pessoas queriam dizer 'antes da enchente, eu também não tinha vaga na creche para o meu filho", disse.

'Quem defende a família sou eu'

Maria do Rosário disse que a defesa da família não é exclusividade dos grupos de direita. "Acho ruim quando a extrema direita busca utilizar a questão sobre família como se fosse só sua. Eu me sinto uma defensora da família, muito mais que muitos outros colegas, parlamentares que jogaram as famílias na morte com a covid, jogaram as famílias na fome com um projeto de destruição das responsabilidades públicas do Estado, e mesmo aqui, em Porto Alegre. Sinceramente, quem defende a família, porque trabalha com os mais pobres e não julga como é a família, sou eu".

Discordou também de análises atribuindo o enfraquecimento da esquerda ao destaque a pautas identitárias, em vez de temas de classe. A crítica foi feita pelo sociólogo Jessé Souza.

A esquerda brasileira não é uma esquerda que não carregue consigo o tema da família. Quando Lula criou o Bolsa Família, ele abordou o tema a partir da necessidade de renda, de melhoria econômica e mais: da transversalidade dessa política com a permanência das crianças na escola, com a vacinação. Ele criou uma tecnologia nova de superação da extrema pobreza a partir de uma unidade central, a família
Maria do Rosário (PT), em sabatina UOL/Folha

A sabatina foi conduzida pelo jornalista Diego Sarza, com participação dos repórteres Graciliano Rocha, do UOL, e Idiana Tomazelli da Folha.

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Melo também foi convidado, mas não quis participar. Maria do Rosário já havia sido sabatinada em junho, no primeiro ciclo de entrevistas, que ouviu candidatos de 18 cidades do país. Melo recusou o convite também na ocasião.

Esperança do PT para reconquistar a prefeitura depois de 20 anos, Maria do Rosário disputa o cargo pela segunda vez. Em 2008, perdeu para o então prefeito, José Fogaça (MDB).

No sexto mandato como deputada federal, a petista foi eleita pela primeira vez para a Câmara dos Deputados em 2002. Nesse período, licenciou-se apenas uma vez, em 2011, para assumir a Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, no governo Dilma Rousseff (PT).

A candidata foi coordenadora da Frente Parlamentar de Promoção e Defesa dos Diretos da Criança e do Adolescente. Ela também relatou a CPI Mista que investigou redes de exploração sexual de menores.

Sabatinas do segundo turno

Maria do Rosário fechou o segundo ciclo de sabatinas promovido pelo UOL e pelo jornal Folha de S.Paulo. Ele foi realizado com os candidatos que disputam o segundo turno das eleições municipais.

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Além de Porto Alegre, fizeram parte da nova série outras três capitais. Em Belo Horizonte, Fuad Noman (PSD) foi sabatinado. O adversário dele, Bruno Engler (PL) cancelou sua participação. Em São Paulo, Guilherme Boulos (PSOL) foi entrevistado e o atual prefeito Ricardo Nunes (MDB) recusou o convite. Em Curitiba, participaram do ciclo Eduardo Pimentel (PSD) e Cristina Graeml (PMB).

O segundo turno das eleições municipais ocorre neste domingo, 27 de outubro. Ele será realizado em 51 municípios —sendo 15 capitais.

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