Como racha na direita e na esquerda elegeu novato de 28 anos em Guarulhos

Desprezado por Jair Bolsonaro (PL) no 1ª turno, o candidato do PL, Lucas Sanches, venceu a eleição para prefeito de Guarulhos neste domingo, 27.

Sua vitória foi resultado de uma dupla divisão na política de Guarulhos, tanto do campo da direita como da esquerda.

Ele explorou esse racha de forma eficiente e contou com uma ajuda discreta, mas milionária, de Valdemar Costa Neto, presidente do PL.

O que aconteceu

  • À direita, Bolsonaro apoiou um rival de Sanches -- mesmo estando no mesmo partido dele.
  • À esquerda, o PT se desentendeu com um quadro histórico -- que acabou saindo do partido.
  • Sanches, 28 anos, derrotou Elói Pietá, 80. O veterano era filiado ao PT desde 1980 e migrou em 2024 para o Solidariedade.
  • Sanches teve 58,55% dos votos (361.971). Pietá teve 41,45% (256.295).
  • No 1º turno, Sanches também havia superado o candidato apoiado por Bolsonaro, Jorge Wilson, conhecido como Xerife Consumidor (Republicanos).

Bolsonaro virou a chave (mas nem tanto)

  • O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), também havia apoiado Wilson. O "Xerife" foi líder do governo na Alesp (Assembleia Legislativa de São Paulo).
  • Só após a vitória no 1º turno, Bolsonaro e Tarcísio declararam apoio a Sanches. "É o nosso candidato, eu tenho certeza de que vai ganhar a eleição e vai fazer um grande mandato", disse o governador, no dia 16 de outubro.
  • Bolsonaro disse que apoiava Sanches, mas que não iria a Guarulhos participar da campanha. "Lá está resolvido já. O Lucas vai ser o prefeito lá. Boa sorte a ele", o ex-presidente disse em uma entrevista ao lado de Tarcísio a cinco dias do 2º turno.

Como foi o racha na direita?

  • Wilson é deputado estadual e ficou conhecido como defensor do direito dos consumidores. Ele também era apoiado pelas principais figuras da direita na cidade, inclusive o atual prefeito, Guti (PSD). Até Pablo Marçal (PRTB) apoiava o "Xerife".
  • Sanches chegou a pedir à Justiça Eleitoral para impugnar a candidatura de Wilson. Segundo ele, o registro da candidata a vice, Edna Sarlo (PRTB), havia sido feito fora do prazo legal.
  • Após a vitória neste domingo, Sanches postou um vídeo comemorando com a família e prometeu "mudança". "A gente vai mudar a história da cidade. [N]os primeiros 100 dias de governo, vocês já vão ver as mudanças acontecendo."
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Valdemar Costa Neto, presidente do PL (centro), com Lucas Sanches (direita) e o vice-prefeito eleito, Thiago Surfista
Valdemar Costa Neto, presidente do PL (centro), com Lucas Sanches (direita) e o vice-prefeito eleito, Thiago Surfista Imagem: Divulgação

E o racha na esquerda?

  • Elói Pietá foi prefeito de Guarulhos entre 2001 e 2008. Ele também foi vereador da cidade entre 1983 e 1991 e deputado estadual, entre 1991 e 2001. Todos mandatos pelo PT.
  • Elói também havia tentado, sem sucesso, a eleição para prefeito de Guarulhos em 2016 e 2020. Em 2024, o político entrou na Justiça após o diretório municipal do PT anunciar o deputado federal Alencar Santana como pré-candidato.
  • Pietá não conseguiu reverter a escolha e, após o desentendimento, migrou para o Solidariedade. Alencar Santana, candidato do PT, teve apenas 9,67% dos votos no 1º turno em 2024. No 2º turno, o apoio do PT de Guarulhos a Pietá foi pouco firme.

Qual foi o segredo de Sanches?

  • Sanches não tinha padrinho famoso, mas tinha um apoio importante em Brasília. Valdemar Costa Neto, presidente do PL, apostou no político jovem. Com o investimento do partido, conseguiu surpreender no 1º turno.
  • O presidente do PL liberou R$ 8,5 milhões de recursos do partido para a campanha de Sanches. Foi a campanha mais cara do ano na cidade. A de Pietá custou R$ 5,6 milhões.
  • Valdemar estava em cima do palco em Guarulhos neste domingo, na comemoração de Lucas Sanches. Sorridente, foi elogiado e muito aplaudido.
  • O contexto político é muito desfavorável para a esquerda em Guarulhos, com o antipetismo ainda em alta, analisa o consultor de marketing político Giuliano Salvarani.
  • "O PT praticamente abandonou seu candidato no 1º turno. Enquanto isso, o ex-prefeito petista Pietá sofria uma rejeição acima de 60%. Sanches só precisou se posicionar junto ao campo mais radicalizado à extrema-direita, que hoje representa quase 30% do eleitorado, e se mostrar como alternativa viável ao antigo petismo", diz.
  • "Wilson não representou a voz da mudança dentro do campo da direita. Ele foi para o eleitor médio o candidato da continuidade", afirma Giuliano.
  • "Guarulhos é a prova de que o campo bolsonarista não precisa mais de Jair Bolsonaro para vencer eleições", conclui o consultor.

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