Veja dez coisas que uma mulher não pode fazer na Arábia Saudita
Pela primeira vez na história da Arábia Saudita, as mulheres poderão votar e receber votos. A estreia do eleitorado feminino nas urnas do reino ultraconservador será em dezembro, nas eleições municipais. Ainda assim, homens e mulheres terão postos de votação separados, e elas só poderão votar acompanhadas de um homem.
A Arábia Saudita segue uma rígida interpretação da sharia, ou lei islâmica, que impõe a segregação de sexos em espaços públicos. A permissão para votar e ser votada é parte de uma série de tímidas reformas feitas pelo falecido rei Abdullah bin Abdul Aziz.
Mas a lista de proibições às mulheres sauditas ainda é longa. A reportagem do UOL conversou com a brasileira Débora Garcia, que vive há em 2 anos em Buraidah, cidade na região mais religiosa, conservadora e rica da Arábia Saudita. Professora de inglês para mulheres, ela não fala ou entende árabe e vive sozinha no país, de onde mantém um blog em que conta como é viver em um lugar tão cheio de restrições. Ela topou explicar algumas delas.
Veja dez exemplos de coisas que as mulheres não pode fazer por lá:
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Buscar justiça (de verdade) contra agressões
A Arábia Saudita aprovou apenas em 2013 a criação de leis contra a violência doméstica e o abuso sexual. Mas a punição dada é geralmente uma multa em dinheiro. Segundo um estudo de 2013 feito com informações dadas por 200 mulheres casadas ouvidas na cidade saudita de Jeddah, pelo menos 44,5% delas relatou ter sofrido agressões dos maridos --mas só 6,5% delas buscou tratamento médico. E mais da metade delas acredita que a mulher merece ser agredida se o marido descobrir uma traição. O agravante é o fato de a tradição determinar que os problemas familiares sejam resolvidos no próprio meio familiar.
A imprensa relata um caso em que uma jovem foi estuprada por uma gangue. Por causa disso, ela foi punida pela Justiça e recebeu mais chibatadas do que um de seus agressores. -
Viagens sem um guardião
As mulheres só podem viajar com a companhia ou a autorização de um guardião (um mahram), um homem da família como o pai, marido ou irmão. O governo já disse recentemente que pode levantar a restrição e permitir que a mulher viaje sem a permissão de seus familiares, mas a medida tem grande risco de ser vetada pelos religiosos. Já em território saudita elas circulam sem guardiões até mesmo nas áreas mais tradicionais.
Segundo Débora, as mulheres vão trabalhar sozinhas e voltam às vezes andando quando estão perto de casa, ou usam vans --com outras mulheres e um motorista. "Em Riad, elas até usam aplicativos como Careem e Uber para ir ao shopping ou sair para comer só com as amigas", conta. -
Dirigir
As mulheres são impedidas de dirigir há décadas. Segundo clérigos, mulheres motoristas minam os valores sociais e até prejudicam seus ovários, colocando suas futuras gestações em risco. Em setembro de 2007, um grupo de mulheres intelectuais sauditas criou a primeira associação no reino para reivindicar o direito a dirigir. O habitual é que as autoridades detenham as motoristas e apreendam o veículo, até que um tutor --um homem da família-- se apresente na delegacia e assine um documento no qual garanta que a infração não vai se repetir.
"Conheço várias mulheres que reclamam pelo fato de não poderem dirigir, acham um absurdo, gostariam de sair sozinhas. Mas, da mesma forma, conheço muitas que concordam com a lei e adoram o fato de terem motorista para levá-las para cima e para baixo. Isso basta para muitas delas", conta Débora. -
Vestir a roupa que quiserem
A vestimenta exigida para as mulheres segue a interpretação da sharia. Elas devem usar a abaya, um longo vestido preto de manga longa que cobre totalmente o corpo. Elas também devem cobrir os cabelos com um véu, mas não necessariamente o rosto todo. Débora diz que a liberdade de vestimenta pode ser maior (ou não) dependendo do quanto a família é conservadora. "No meu trabalho, só posso usar saia longa e blusa de manga comprida. Mas as alunas podem usar o que quiserem. Mesmo assim, a maioria delas continua de abaya quando entra no curso, e as que escolhem ir de calça comprida enfrentam os olhares das alunas mais conservadoras, que consideram haram [pecado] usar calça mais justa".
Débora diz ainda que a polícia religiosa tem uma rígida fiscalização. "Aqui é obrigatório cobrir o rosto. Em cidades grandes como Riad, Jidda e Dammam, nenhuma mulher é obrigada a usar o niqab para cobrir o rosto; mesmo assim a grande maioria usa."
O mesmo vale para a maquiagem. Mas, segundo Débora, a grande maioria das mulheres usa (e abusa) da maquiagem. "Elas vão super maquiadas para a faculdade e para o trabalho. O que não pode é fazer a sobrancelha --tirar os pelos não pode, mas fazer o desenho com descolorante é permitido." -
Interagir com homens
A mulher não deve falar com homens que não são de sua família. "Um homem e uma mulher que não sejam casados ou da mesma família não podem estar juntos em público, não podem estar sozinhos no mesmo veículo, não podem ir ao um restaurante juntos. Quando você vai a uma loja, ao banco ou restaurante, você obrigatoriamente vai ter de falar com um homem. Isso é aceitável em qualquer cidade da Arábia", relata Débora.
A maioria dos prédios possui entradas diferentes para homens e mulheres, e parques e até o transporte público têm áreas segregadas para mulheres. -
Entrar em cemitérios
Uma mulher será enterrada em um cemitério, mas não poderá participar do funeral de seus parentes, já que elas são proibidas de entrar no local. Mas não se engane: os sauditas não dão muita atenção a funerais; até o sepultamento do rei foi simples. "Eles acreditam que os mortos podem nos ouvir. Então as mulheres não devem ir aos enterros porque, emotivas por natureza, iriam chorar muito e incomodar os mortos", explica Débora. Outro motivo é o fato de que não se deve rezar ou fazer súplicas para os mortos, e supostamente as muheres poderiam fazer isso.
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Disputar competições esportivas em seu território
A participação de mulheres nos esportes tem grande oposição dos religiosos. Até o ensino de Educação Física é proibido nas escolas para elas. Neste ano, a Arábia Saudita se propôs a sediar os Jogos Olímpicos sem competições femininas --elas seriam disputadas no Bahrein, que participaria da candidatura conjunta. A ideia foi vetada pelo Comitê Olímpico, que classificou a proposta como discriminatória. Mas, em 2012, as mulheres sauditas puderam pela primeira vez disputar uma Olimpíada --ainda que tenham sido chamadas de prostitutas pelos clérigos radicais do país.
Aos 16 anos, a judoca Wodjan Ali Seraj Abdulrahim Shahrkhani foi uma das duas primeiras mulheres a disputar uma Olimpíada, em Londres. Ela disputou as provas com um véu depois de uma discussão com o comitê, que chegou a um acordo sobre um modelo que cobriria os cabelos dela. A outra é a atleta Sarah Attar, que também correu de véu e calças. -
Usar academias e piscinas sem restrições
Se você vive em uma cidade grande, há opções de academias femininas semelhantes às brasileiras. Mas, nas áreas menores e mais tradicionais do país, malhar é algo quase impossível. "Academias existem só dentro de clínicas ou salões de beleza ou estética e, mesmo assim, com várias restrições", relata Débora. "São poucos aparelhos e horários bem reduzidos".
Uma repórter da agência de notícias Reuters contou recentemente que, apesar de estar hospedada em um hotel de luxo em Riad com uma excelente academia e uma grande piscina, foi impedida até mesmo de conhecer os lugares. "Há homens em trajes de banho lá" disse o funcionário do hotel em choque com o pedido de Arlene Getz. O que foi disponibilizado para ela se exercitar foi uma pequena sala com uma esteira e uma bicicleta ergométrica. -
Se consultar com um médico sem a presença de seu guardião
Segundo a ONG Human Rights Watch, foi aprovada recentemente uma fatwa (decreto religioso) determinando que mulheres não sejam examinadas por médicos sem a presença de seus guardiões. Elas só podem expor partes do corpo para homens em casos de emergência médica. Mas Débora afirma que tanto ela como as outras mulheres do país conseguem atendimento sozinhas com médicas mulheres sem dificuldades.
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Comprar uma Barbie
A famosa boneca americana foi banida da Arábia Saudita em 2003, já que seria uma ameaça para a moralidade. As meninas do país têm a Fulla, criada na Síria e que no mesmo ano ganhou os mercados sauditas. Ela também vem em uma caixa rosa e tem uma coleção de véus que podem ser trocados. Ela não tem namorado (como o Ken) e, além de cozinhar, cantar e rezar (em vez de ter uma vida típica americana, como a Barbie), atendeu a um mercado consumidor que demandava uma boneca que representasse as tradições islâmicas. Além disso, a Fulla custa a metade do preço da Barbie.
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