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Piñera deve buscar relação privilegiada com Brasil, diz diplomata chileno

Sebastián Piñera, presidente eleito do Chile, assume o cargo no dia 11 de março - Roberto Candia/AP
Sebastián Piñera, presidente eleito do Chile, assume o cargo no dia 11 de março Imagem: Roberto Candia/AP

Do UOL Notícias*

Em São Paulo

09/03/2010 15h59

O empresário Sebastián Piñera toma posse nesta quinta-feira (11) como primeiro presidente conservador do Chile após duas décadas de governo de centro-esquerda, e assumindo um país ainda abalado pelas réplicas do terremoto de 8,8 graus na escala Richter que atingiu a costa no país há pouco mais de uma semana.

Desde o final da ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990), a Concertación de Partidos por La Democracia elegeu todos os presidentes chilenos, culminando no mandato de Michelle Bachelet, que, apesar de uma alta aprovação popular, não conseguiu eleger como seu sucessor o candidato da coalizão governista, Eduardo Frei.

Piñera, que é dono da empresa aérea Lan Chile, foi eleito com promessas de reforçar a segurança, a retomar o crescimento econômico e guiar um governo voltado à classe média. Para analistas, esta eleição tinha conseguido superar o profundo vínculo entre direita e ditadura, herdado dos anos de Pinochet, e Piñera poderia refundar a classe conservadora no país.

Contudo, os tremores recentes obrigam o presidente eleito a mudar suas prioridades. “Não é o mesmo ponto de partida que se havia planejado antes do terremoto”, afirmou em entrevista à agência EFE o escritor e diplomata chileno Jorge Edwards.

De qualquer forma, a presença de um presidente conservador em uma região liderada por governos de esquerda deve mudar a política externa chilena, avalia Edwards.

“Eu acredito que se produzirá uma certa diferença na América Latina, não de poderes, mas de agilidade e amizade nas relações”, afirmou o intelectual, ganhador do prêmio Cervantes de 1999, maior condecoração literária na língua espanhola.

“É bastante interessante que o governo de Piñera projete uma relação muito particular e muito privilegiada com o Brasil”, acrescenta Edwards. “Afinal, Brasil tem um governo socialista, mas é um socialismo que internamente foi muito moderado e muito reformista.”

O escritor também elogia o fim da hegemonia da Concertación no país. “Eu acho que a alternância é a entrada na normalidade democrática. Por isso votei em Piñera”, afirmou. “Existe sim no Chile uma centro-direita e uma centro-esquerda civilizadas, Chile é uma democracia moderna”.

Ainda a respeito do terremoto, Edwards estima que a tragédia demonstra a falta de memória do povo chileno, que não deveria mais ser pego desprevenido por esse tipo de desastre, já que o país tem um histórico de tremores – que inclui até o mais potente terremoto da história, de 1960, que atingiu 9,5 graus.

Para o novo governo, o intelectual aponta que a tragédia traz também oportunidades. Em primeiro lugar, a reconstrução é uma chance de gerar empregos, um assunto recorrente na campanha eleitoral de Piñera. Em segundo lugar, acrescenta Edwards, “paradoxalmente, também o cataclismo vai facilitar acordos políticos [entre governo e oposição] que sem ele teriam sido muito difíceis”.

*Com informações da EFE