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Equador declara estado de exceção; presidente denuncia tentativa de golpe

Policiais protestam contra o governo de Rafael Correa no quartel do Regimento Quito, na capital - Rodrigo Buendia/AFP
Policiais protestam contra o governo de Rafael Correa no quartel do Regimento Quito, na capital Imagem: Rodrigo Buendia/AFP

Do UOL Notícias

Em São Paulo

30/09/2010 15h45Atualizada em 30/09/2010 16h08

O governo do Equador anunciou estado de exceção no país na tarde desta quinta-feira (30), pelo período de cinco dias, após setores policiais se rebelarem contra uma reforma salarial. O presidente do país, Rafael Correa, denunciou tentativa de golpe "por aqueles que não conseguem chegar no poder pelas urnas".

Forças policiais tomaram hoje o controle do aeroporto e de uma base aérea na capital, Quito, e detém o avião presidencial, segundo informações da rede TeleSur. O presidente se pronunciou mais cedo afirmando que não iria derrubar a lei que reduz parte dos benefícios de carreira dos policiais, e acabou agredido por manifestantes.

Saiba mais sobre o governo do
presidente Rafael Correa no Equador

  • Rafael Vicente Correa Delgado, "humanista cristão de esquerda", como ele mesmo se considera, nasceu em 6 de abril de 1963 numa família de classe média de Guayaquil. Conseguiu bolsas para estudar nos Estados Unidos, onde se formou economista. Foi vice-presidente e Ministro da Economia e Finanças de Alfredo Palácio, que substituiu Lucio Gutiérrez, deposto do poder pelo Congresso. Foi eleito presidente em 2006, após derrotar o magnata Álvaro Noboa.

    Diferente da postura dos governantes anteriores a Alfredo Palácio, Correa procurou reduzir a dependência econômica do Equador em relação aos Estados Unidos e alinhou o país à Alba (Alternativa Bolivariana para as Américas), da qual fazem parte Venezuela, Bolívia --dos seus aliados Hugo Chávez e Evo Morales--, entre outros países.

    Na presidência, adotou uma política nacionalista, de fortalecimento do desenvolvimento interno. Reviu contratos com multinacionais do petróleo, renegociou a dívida externa e se posicionou contrariamente à assinatura de tratado de livre-comércio com os Estados Unidos.

    Com maioria no Congresso, convocou uma Assembleia Constituinte, que promulgou uma nova Constituição em setembro de 2008. Entre as principais mudanças estão a possibilidade da reeleição do presidente, valorização dos direitos dos povos indígenas, aumento da independência do Judiciário e maior preocupação com o meio ambiente. Seu mandato termina em janeiro de 2011.

Hospitalizado, Correa afirmou que o motim é "uma conspiração da oposição, daqueles que não conseguem ganhar nas urnas", e disse temer por sua vida. De sua parte, o vide-presidente, Lenín Moreno, negou que vá assumir o cargo máximo do país neste momento.

Em resposta à rebelião dos policiais, centenas de pessoas se reuniram diante do palácio presidencial para manifestar apoio ao governo e prometeram "resgatar" Correa no hospital, que está cercado por policiais rebeldes.

Apesar dos distúrbios, o chefe das Forças Armadas, Ernesto González, afirmou que as tropas militares estão subordinadas à autoridade do presidente equatoriano. Outras autoridades disseram à rede TeleSur que as cúpulas militares e da polícia apoiam o governo.

Segundo o ministro da Segurança, Miguel Carvajal, forças militares vão assumir tarefas de polícia enquanto vigorar o estado de exceção.

A Organização dos Estados Americanos (OEA) realiza uma reunião de emergência em Washington para discutir o caso, mas até o momento não emitiram uma posição.

Apoio internacional

Na tarde de hoje, o ministro das Relações Exteriores do Brasil, Celso Amorim, manifestou seu apoio ao governo do Equador.

De acordo com o Itamaraty, Amorim telefonou para o chanceler do Equador, Ricardo Patiño, para expressar “total apoio e solidariedade do Brasil ao presidente Rafael Correa e às instituições democráticas equatorianas”.

A chancelaria brasileira informou que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva está informado sobre as gestões em curso “para uma resposta firme e coordenada do Mercosul, da Unasul e da OEA, a fim de repudiar qualquer desrespeito à ordem constitucional naquele país irmão”.

No twitter, o presidente venezuelano, Hugo Chávez, afirmou que "estão tentando derrubar o presidente Correa". "Alerta aos povos da Aliança Bolivariana! Alerta aos povos da Unasul! Viva Correa!", disse Chávez.

Outros governos da região, como Chile, Peru e Argentina, além do governo da Espanha e da França, também se manifestaram.

"Acompanhamos de perto a situação", afirmou também Philip Crowley, porta-voz do Departamento de Estado dos Estados Unidos.

Tensão nas ruas

Segundo informações da Radio Quito, cidades como Guayaquil, Manta, Portoviejo e Quevedo observam uma onda de assaltos a bancos e furtos, diante da falta de policiamento local, já que parte das forças de segurança entraram em greve.

Escolas também decidiram encerrar suas tarefas e mandaram os alunos para casa. O ministério da Educação suspendeu as aulas até a próxima segunda-feira (4).

O chanceler equatoriano, Ricardo Patiño, em declaração feita diante de centenas de pessoas diante do palácio presidencial, convidou a população a sair às principais ruas do país "de modo democrático, pacífico e valente" para defender o governo.