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Cristina Kirchner e Dilma têm mais diferenças do que semelhanças no estilo de governar

Andréia Martins<br>Enviada especial do UOL Notícias<br>Em Buenos Aires

18/10/2011 07h00

Apontadas pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva como mulheres que “vão fazer história” na América Latina, Cristina Fernández de Kirchner e Dilma Rousseff têm estilos bem diferentes de governar. A campanha que a atual presidente da Argentina está fazendo em busca de mais um mandato mostra claramente essas diferenças.

Na reta final para a eleição, marcada para o próximo domingo (23), Cristina assume o papel de “mãe dos argentinos” e mostra um carisma que explica em boa parte sua alta popularidade entre os argentinos, mesmo com o país enfrentando problemas como alta inflação (na casa dos 25%), aumento da pobreza em cidades ao redor da capital e desemprego.

A morte de Néstor Kirchner, há quase um ano, contribuiu ainda mais para a aproximação de Cristina da população. Os cartazes com os dizeres “Força Cristina” que dezenas de pessoas carregavam à época da morte de Kirchner, foram parar na campanha da atual presidente como seu principal slogan.

Em comparação com Cristina, a presidente Dilma Rousseff é vista como gerente severa e alvo de críticas pele falta de carisma. O que não impede Dilma de também ter um índice alto de aprovação: pesquisa Ibope divulgada no dia 30 de setembro apontou 71% de aprovação dos eleitores brasileiros.

De qualquer forma, o perfil de “gerente” também aponta outra diferença entre as duas presidentes: enquanto Dilma opta por escolher nomes mais técnicos para o governo, Cristina é conhecida por privilegiar um grupo específico do Partido Justicialista. Não à toa, 74% dos argentinos querem mudanças em seu gabinete, segundo pesquisa realizada pelo jornal “La Nación”.

Em ponto em comum entre as duas presidentes é que ambas lutaram na ditadura e foram eleitas por seus antecessores – Cristina pelo ex-marido, Néstor Kirchner, e Dilma pelo ex-presidente Lula.

Na campanha televisiva, Cristina explora pouco a figura de Kirchner, algo feito em excesso na eleição em 2007. Na época, ela precisou colar sua imagem na do marido para conquistar o eleitorado. Da mesma forma, Dilma fez uma campanha apoiada na figura do ex-presidente Lula e nas realizações de seu governo para conseguir se eleger.

A relação turbulenta com a imprensa também é outra marca de Cristina Kirchner. O país preserva a liberdade de expressão, mas os veículos críticos ao governo acabam punidos com corte no repasse de verbas da publicidade oficial. Cristina quase não promove encontros com jornalistas e entrevistas coletivas. A presidente Dilma também restringiu o contato com a imprensa no início do seu governo, postura que vem mudando com o passar do tempo e as crises que têm atingido vários de seus ministérios.

Outro ponto divergente está ligado à vaidade das duas presidentes mulheres. Dilma mudou o visual durante a campanha, abandonou os óculos e mudou o corte de cabelo. Mas, nem de longe chega aos alegados excessos de sua colega argentina. Em setembro, reportagens afirmaram que Cristina Kirchnerteria gastado US$ 110 mil (cerca de R$ 195 mil) em sapatos durante uma viagem a Paris. Foram 20 pares de sapatos por US$ 5.500 (quase R$ 10 mil), em média. Algo impensável de se ouvir sobre a presidente Dilma Rousseff.