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Após mau exemplo de Bush com Katrina, candidatos mostram reação rápida a Sandy nos EUA

Obama discursa na Casa Branca após cancelar eventos de campanha para monitorar Sandy - Michael Reynolds/Efe
Obama discursa na Casa Branca após cancelar eventos de campanha para monitorar Sandy Imagem: Michael Reynolds/Efe

Fábio Luís de Paula

Do UOL, em São Paulo

30/10/2012 15h01Atualizada em 30/10/2012 15h12

Uma turbulência chamada Sandy veio agitar a última semana da campanha para a presidência dos Estados Unidos. O furacão, rebaixado para "ciclone pós-tropical" pouco antes de atingir o território norte-americano na noite desta segunda-feira (29), levou os candidatos à Casa Branca a cancelarem seus eventos de campanha.

"De imediato, o impacto foi a mudança das agendas, pois a opinião pública é muito sensível a esses eventos e pode colocar em cheque a candidatura para a presidência", analisou Denilde Oliveira Holzhacker, professora do curso de relações internacionais da ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing).

A apenas oito dias das eleições --que acontecem em 6 de novembro--, outro problema trazido por Sandy é a possibilidade de um número menor de eleitores sair de suas casas para votar --o voto nos EUA não é obrigatório.

"É possível que haja uma mudança nos resultados, tudo depende da reação pública em Ohio. De imediato, a tempestade causou um problema para Obama, pois com a campanha para o voto antecipado, eleitores que não votariam trariam um número muito maior de votos, e isso é importantíssimo para ele. Mas, agora há um problema de mobilização eleitoral", avaliou Denilde, considerando que a passagem de Sandy pode trazer falta de energia elétrica e dificuldades para as pessoas irem ao local de votação.

Já Ariel Finguerut, professor de relações internacionais da Unicamp, acha que Sandy não trará repercussão na decisão dos eleitores. "O furacão envolve mais questões de segurança e de Estado mesmo. Então, a menos que Obama ou alguém da sua administração cometa uma gafe muito ofensiva, aos moldes do que ocorreu no governo Bush, imagino que não tenha alguma repercussão na decisão dos eleitores", ponderou.

Fugindo de Bush

A rápida reação de Obama e os movimentos de Romney estão fugindo das atitudes que o ex-presidente George W. Bush teve em relação ao furacão Katrina, que atingiu principalmente a cidade de Nova Orleans, em 2005.

"A experiência Katrina foi bastante negativa. Então, desde domingo, tanto Obama quanto Romney já fizeram alertas e estavam acompanhando a situação", comentou Denilde, seguida de Finguerut, que diz que Bush foi acusado de negligência antes, durante e depois do furacão. "Ele errou desde as coisas que não fez antes e que poderia ter salvado vidas, como a preocupação com as questões climáticas, até a forma como não agiu durante o Katrina, que poderia ter evitado o tamanho da catástrofe."

Se os resultados da avaliação de Obama forem positivos diante da tempestade Sandy, ele pode relembrar Katrina --considerado uma das piores crises humanitárias da história dos EUA-- para mostrar como os democratas agem em um momento de crise e como o governo republicano reagiu.

"Claramente há uma preocupação desde o início do governo Obama em ser muito precavido em relação a eventos como furacões e intempéries, e todas as ações tomadas foram consideradas de sucesso. Mas também é uma situação em que Romney pode responder ao eleitorado sobre o que faria diferente do Bush", avalia Denilde.

Entretanto, diferente de 2005, hoje a tecnologia é muito mais avançada para companhar a evolução da tempestade, e isso facilita a tomada de decisões dos governantes. "Obama está agindo com muita cautela e alguns jornalistas dizem que ele está exagerando para se resguardar de qualquer situação que possa sair do controle", comentou Finguerut.

Obama

O presidente Barack Obama deixou de lado seu papel de candidato e, em um breve discurso, alertou os moradores das regiões potencialmente ameaçadas a seguirem as instruções para que deixem suas casas.

"Por favor, ouçam as autoridades locais. Quando lhes disserem para sair, vocês devem sair. Esta é uma tempestade séria e poderá ter consequências potencialmente fatais se as pessoas não agirem de forma rápida", disse Obama que, na manhã de ontem, deixou apressadamente a Flórida, onde cumpriria agenda de campanha. O democrata também tinha expectativa de passar por Ohio. Nesta terça (30), iria para evento em Green Bay, no Estado de Wisconsin, tudo prontamente cancelado.

Romney

O candidato republicano às eleições presidenciais, Mitt Romney, também cancelou seus eventos de campanha. Ele passaria por Virgínia, Ohio e New Hampshire. Mesmo em circusntâncias normais, a última semana de uma campanha sempre conta com improvisações e planos de última hora.

"Ann [sua mulher] e eu estamos juntos em pensamento e preces pelas pessoas que estão no caminho do furacão Sandy. Nunca estive tão orgulhoso em ver a união da América em uma crise. Não há nada que não possamos suportar juntos", disse Romney em seu site de campanha.