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Em último dia, papa se despede de cardeais e oferece "obediência incondicional" a sucessor

Do UOL, em São Paulo

28/02/2013 08h29Atualizada em 28/02/2013 11h35

Ao se despedir dos cardeais no Vaticano, o papa Bento 16 disse nesta quinta-feira (28), seu último dia à frente da Igreja Católica, que oferece ao futuro papa sua "obediência incondicional".

ENTENDA O PROCESSO SUCESSÓRIO DO PAPA

Quando o chefe da Igreja Católica renuncia a sua função ou morre, seu sucessor é eleito pelos cardeais reunidos em conclave na Capela Sistina, onde ficam isolados do mundo exterior.

Cinco cardeais brasileiros deverão participar do conclave que se reunirá para eleger o sucessor do papa Bento 16.

Segundo a última lista do Vaticano, há um total de 115 cardeais aptos a escolher o novo pontífice, já que um deles (Keith O'Brien, da Escócia) renunciou ao cargo e outro (Julius Riyadi Darmaatmadja, da Indonésia) por problemas de saúde não poderá comparecer a eleição.

Para poder votar na escolha do papa, o cardeal precisa ter menos de 80 anos. O Brasil tem um total de nove integrantes no Colégio Cardinalício do Vaticano, mas quatro deles já ultrapassaram a idade limite.

"Entre vocês, do Colédio Cardenalício, está o futuro papa, a quem eu prometo meu respeito incondicional e obediência. Continuarei perto de vocês com orações, especialmente nestes dias [do conclave], para que sejais plenamente dóceis à ação do Espírito Santo na eleição do papa", afirmou Bento 16, que aparentava serenidade.

"Que o Colégio dos Cardeais seja como uma orquestra", afirmou após ressaltar que a diversidade deve conduzir à harmonia, em referência à eleição de seu sucessor. "Permaneçamos unidos, queridos irmãos, nas pregações e especialmente na Eucaristia. Assim servimos a Igreja e toda a humanidade."

Mais uma vez Bento 16 fez referência aos momentos turbulentos do seu papado: "Nestes anos, temos vivido com fé momentos belíssimos de luz radiante no caminho da Igreja, junto a momentos onde as nuvens se condensavam no céu." Joseph Ratzinger é o primeiro pontífice a renunciar em cerca de 600 anos.

Em discurso de agradecimento proferido no encontro, o decano do Colégio Cardinalício, Angelo Sodano expressou, em nome dos demais cardeais, "gratidão" pelos oito anos de pontificado e pelo "exemplo" dado pelo papa durante o período.

Mais de cem cardeais da cúria vieram de Roma para se despedir do papa no que, possivelmente, será o último encontro deles com o pontífice antes do conclave, ainda sem data para acontecer.

A convocação oficial para os cardeais eleitores chegarem a Roma será enviada amanhã pelo Vaticano.

Saída

A saída do papa do Vaticano para Castel Gandolfo, no sul de Roma, está programada para as 16h30 (12h30 no horário de Brasília). Bento 16 será conduzido de helicóptero até a residência de verão papal --onde permanecerá pelo próximos dois meses até que o fim das reformas no convento "Mater Ecclesiae", no Vaticano.

Já a chegada em Roma está prevista para as 17h15 (13h15 no horário de Brasília). Ao desembarcar, o pontífice aparecerá na sacada de seu aposento para saudar os fiéis que forem recepcioná-lo no local.

A Sede Vacante [período em que o Vaticano fica sem papa] terá início às 20h. Neste período, as decisões administrativas do Vaticano ficam sob a responsabilidade do camerlengo Tarcisio Bertone. 

A presidente Dilma Rousseff emitiu hoje uma nota sobre o último dia do pontificado de Bento 16. "Ao findar seu papado, manifesto o meu respeito pela decisão de Vossa Santidade de renunciar à Cátedra de São Pedro. Desejo que essa nova fase de recolhimento o encontre com saúde e paz. Na oportunidade, recordo os gestos de apreço com que o meu país foi distinguido nesses últimos anos."

A renúncia 

O papa Bento 16 anunciou sua renúncia no dia 11 de fevereiro em um discurso pronunciado em latim durante um encontro de cardeais no Vaticano. Ao justificar sua decisão, o pontífice de 85 anos alegou fragilidade por conta da idade avançada.

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O pontífice disse que "no mundo de hoje (...), é necessário o vigor tanto do corpo como do espírito, vigor que, nos últimos meses, diminuiu em mim de tal forma que eis de reconhecer minha incapacidade para exercer bem o ministério que me foi encomendado".

O Vaticano negou que uma doença tenha sido o motivo da renúncia. Mas, segundo o jornal "O Estado de S.Paulo", uma disputa interna de poder praticada por ex-aliados nos últimos meses pode ser uma das razões para a tomada de decisão do pontífice. Esta é a primeira vez na era moderna que um papa da Igreja Católica renuncia ao pontificado.

Já o jornal italiano "La Reppublica" relacionou à renuncia do pontífice a um relatório com cerca de 300 páginas sobre o escândalo do vazamento de documentos confidenciais da Santa Sé, redigido por três cardeais e entregue à Bento 16 em dezembro de 2012. O Vaticano reconheceu a existência do documento, mas descartou qualquer relação com a decisão do papa.

A renúncia de bento 16 será oficializada no dia 28 de fevereiro. E o cargo ficará vago até a eleição do próximo papa. A expectativa é  que o Conclave de cardeais, eleja um novo papa ainda em março, antes da Páscoa. 

Cinco cardeais brasileiros deverão participar do conclave. Segundo a última lista do Vaticano, há um total de 116 cardeais aptos a votar no próximo papa. Para participar da papa, o cardeal precisa ter menos de 80 anos. O Brasil tem um total de nove integrantes no Colégio Cardinalício do Vaticano, mas quatro deles já ultrapassaram a idade limite.

Últimas palavras

Em sua primeira aparição pública desde o anúncio da renúncia, o papa Bento 16 disse que tomou a decisão "pelo bem da igreja". Bento 16 agradeceu pelo "amor" e apoio dos fieis.

Ao fim do retiro espiritual de seis dias,o papa Bento 16 se reuniu com a Cúria Romana e informou que mesmo após a renúncia se manterá próximo "espiritualmente" da Igreja Católica.
 
O discurso também incluiu uma advertência sobre os "males deste mundo, o sofrimento e a corrupção" e um agradecimento aos cardeais que acompanharam o "peso do ministério papal" com "habilidade, afeto, amor e fé" nos últimos oito anos.
 
Já em sua última oração do Angelus, Bento 16 disse que Deus pediu para que ele se dedicasse à "oração e à meditação" e reafirmou que não abandonará a Igreja.
 
"Neste momento de minha vida, sinto que a palavra de Deus está dirigida a mim. O Senhor me chama a subir ao monte, a dedicar-me ainda mais à oração e à meditação. Isso não significa abandonar a Igreja, ao contrário, se Deus me pede isso é para que eu possa continuar a servi-la do mesmo modo dedicado com que o fiz até agora, mas de acordo com a minha idade e as minhas forças", disse o pontífice.
 
E o último sermão como papa foi dedicado à explicar sua decisão, afirmando que, nos últimos anos, sentiu as suas forças diminuírem. Ele disse ainda que tem "plena consciência da gravidade e inovação" da sua atitude, mas que era preciso "ter a coragem de fazer escolhas sofridas". E aproveitou ainda para fazer uma avaliação dos últimos oito anos: "O Senhor nos deu muitos dias de sol e ligeira brisa, dias nos quais a pesca foi abundante, mas também momentos nos quais as águas estiveram muito agitadas e o vento contrário, como em toda a história da Igreja e o Senhor parecia dormir."