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Bento 16 deixa legado positivo e entra para a história ao renunciar, opinam teólogos

Fernanda Calgaro

Do UOL, em São Paulo

02/03/2013 06h00

Se para críticos de Bento 16 ele estava isolado e enfraquecido dentro da Cúria Roma, para teólogos e especialistas ouvidos pelo UOL ele se mostrou forte e hábil ao renunciar ao seu papado.

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“É uma decisão revolucionária”, defende Valeriano dos Santos Costa, diretor da Faculdade de Teologia da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo). “A renúncia irá marcar seu pontificado de forma indelével e, em perspectiva histórica, será vista como um ato de coragem.”

O próprio Bento 16 reconheceu que seus oitos anos à frente do Vaticano tiveram “águas agitadas”. “Ele foi muito hábil para conduzir a Igreja num momento turbulento. Ele renunciou acho que por uma questão de estresse físico mesmo”, opina Costa.

As acusações de pedofilia contra o clero foram alguns dos percalços com os quais precisou lidar. Entidades que representam vítimas de abuso criticaram duramente a atuação de Bento 16 dizendo que pediu desculpas apenas, mas não tomou medidas concretas.

“Não é verdade. Bento 16 agiu com bastante energia", discorda Edson Luiz Sampel, doutor em direito canônico pela Pontifícia Universidade Lateranense, do Vaticano.

"Uma das medidas foi o aumento da prescrição da pena canônica, de dez para 20 anos. Ocorre que a Igreja é um 'mundo' e os problemas não se solucionam da noite para o dia. É ainda oportuno observar que a pedofilia não é um cancro exclusivo dos eclesiásticos”, afirma.

A contribuição intelectual de Bento 16 é apontada como outro aspecto positivo de seu legado. “Bento 16 é um teólogo refinado, colocou a Igreja de volta no debate cultural. Tem muito agnóstico querendo debater os textos dele”, avalia Francisco Borba, coordenador do Núcleo de Fé e Cultura da PUC-SP.

Em relação à atuação de Bento 16 no Brasil e no continente americano, o padre Oscar Duque Estrada, professor de história da Igreja no Seminário Maior de Brasília, diz que ele contribuiu ao traçar diretrizes para o continente.

“É difícil dizer se [Bento 16] esteve mais ou menos presente fisicamente. O primeiro que visitou o Brasil, que percorreu de norte a sul e do oriente ao Ocidente, foi João Paulo 2º, que deixou para todas as regiões e pessoas mensagens extraordinárias. [Mas] Bento 16 esteve na Conferência de Aparecida, que reuniu todos os bispos das Américas e do Caribe, ali deixou linhas de ação para o continente.”

No encontro, realizado no interior de São Paulo em 2007, a Igreja debateu problemas como a perda de fiéis e a desigualdade social na América Latina. “Assim como em outras ocasiões, Bento 16 mostrou que tem abertura para dialogar”, diz Valeriano Costa, da PUC-SP, citando a visita que Bento 16 fez a uma fazenda destinada a tratar dependentes químicos. “Foi um papa que não se isolou da realidade.”