Bento 16 deixa legado positivo e entra para a história ao renunciar, opinam teólogos
Se para críticos de Bento 16 ele estava isolado e enfraquecido dentro da Cúria Roma, para teólogos e especialistas ouvidos pelo UOL ele se mostrou forte e hábil ao renunciar ao seu papado.
“É uma decisão revolucionária”, defende Valeriano dos Santos Costa, diretor da Faculdade de Teologia da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo). “A renúncia irá marcar seu pontificado de forma indelével e, em perspectiva histórica, será vista como um ato de coragem.”
O próprio Bento 16 reconheceu que seus oitos anos à frente do Vaticano tiveram “águas agitadas”. “Ele foi muito hábil para conduzir a Igreja num momento turbulento. Ele renunciou acho que por uma questão de estresse físico mesmo”, opina Costa.
As acusações de pedofilia contra o clero foram alguns dos percalços com os quais precisou lidar. Entidades que representam vítimas de abuso criticaram duramente a atuação de Bento 16 dizendo que pediu desculpas apenas, mas não tomou medidas concretas.
“Não é verdade. Bento 16 agiu com bastante energia", discorda Edson Luiz Sampel, doutor em direito canônico pela Pontifícia Universidade Lateranense, do Vaticano.
"Uma das medidas foi o aumento da prescrição da pena canônica, de dez para 20 anos. Ocorre que a Igreja é um 'mundo' e os problemas não se solucionam da noite para o dia. É ainda oportuno observar que a pedofilia não é um cancro exclusivo dos eclesiásticos”, afirma.
A contribuição intelectual de Bento 16 é apontada como outro aspecto positivo de seu legado. “Bento 16 é um teólogo refinado, colocou a Igreja de volta no debate cultural. Tem muito agnóstico querendo debater os textos dele”, avalia Francisco Borba, coordenador do Núcleo de Fé e Cultura da PUC-SP.
Em relação à atuação de Bento 16 no Brasil e no continente americano, o padre Oscar Duque Estrada, professor de história da Igreja no Seminário Maior de Brasília, diz que ele contribuiu ao traçar diretrizes para o continente.
“É difícil dizer se [Bento 16] esteve mais ou menos presente fisicamente. O primeiro que visitou o Brasil, que percorreu de norte a sul e do oriente ao Ocidente, foi João Paulo 2º, que deixou para todas as regiões e pessoas mensagens extraordinárias. [Mas] Bento 16 esteve na Conferência de Aparecida, que reuniu todos os bispos das Américas e do Caribe, ali deixou linhas de ação para o continente.”
No encontro, realizado no interior de São Paulo em 2007, a Igreja debateu problemas como a perda de fiéis e a desigualdade social na América Latina. “Assim como em outras ocasiões, Bento 16 mostrou que tem abertura para dialogar”, diz Valeriano Costa, da PUC-SP, citando a visita que Bento 16 fez a uma fazenda destinada a tratar dependentes químicos. “Foi um papa que não se isolou da realidade.”
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.