Novo papa foi "resgatado do exílio" por João Paulo 2º, diz padre brasileiro que conviveu com ele
O padre brasileiro Deomar de Guedes, conselheiro-geral da Congregação Legionários de Cristo, recebeu a notícia da aclamação do papa Francisco com surpresa e felicidade, como todos que estavam na praça São Pedro na noite da quarta-feira (13), final da tarde no horário de Brasília.
Mas Guedes diz que sua alegria foi ainda maior porque ele conhecia a história do argentino. “Me emocionei bastante porque conheço a história dele. Ele sofreu até uma espécie de ‘exílio’ antes de virar arcebispo porque alguns [dentro da igreja] discordavam de suas idéias. Foi ‘resgatado’ por João Paulo 2º e, agora, virou papa. Acho que todo esse sofrimento o tornou uma pessoa mais humilde.”
Guedes morou em Buenos Aires entre os anos de 2005 a 2008, período em que Bergoglio era arcebispo da capital argentina. Hoje, o sacerdote vive em Roma. Nesses três anos em que trabalhou na paróquia de Santa Maria de Betani, na capital argentina, Guedes diz ter conversado o atual papa várias vezes.
Sempre encontros curtos, mas que teriam sido suficientes para que o padre percebesse a personalidade do então arcebispo. “Ele é uma pessoa muito humilde. Em Buenos Aires, era famoso por não ter carro e andar de metrô junto com todo mundo. Ele também não tinha secretário. Atendia pessoalmente a todos.”
Papado deve ter a marca de São Francisco de Assis
“Vai, Francisco, e reconstrói a minha igreja.” Para o padre Deomar, a ordem dada por Jesus a São Francisco de Assis durante uma visão do santo no século 12 resume o que deve ser o papado do primeiro sul-americano a governar a Igreja Católica.
“A escolha do nome já um programa de governo", afirma o religioso brasileiro. Quando disse ‘Francisco’, ele [novo papa] anunciou o que pretende”.
Segundo o sacerdote brasileiro, a administração do novo pontífice será mais voltada aos pobres e esquecidos pela sociedade porque este seria “o perfil” de Jorge Mario Bergoglio.
Um papa como João Paulo 2º
Para Guedes, a igreja - considerada ortodoxa por grande parte da sociedade - foi “atrevida” ao escolher um dirigente vindo, como o próprio papa Francisco falou em seu discurso de aclamação, “do fim do mundo”.
“Que outra instituição tem um dirigente latino-americano?”, pergunta o padre Deomar. Ele afirma ter “esperança” de que o papado de Francisco será tão importante quando o de João Paulo 2º.
“João Paulo 2º governou a Igreja no período da Cortina de Ferro [décadas de 40 a 90] e foi muito importante na redução de diferenças sociais. Acho que pode acontecer algo parecido com ele [papa Francisco].”
No atual momento de crise por que passa a Igreja Católica, com denúncias de pedofilia e corrupção em várias instâncias, a aclamação de Francisco, de acordo com Guedes, pode ser encarada como um sinal de que a instituição está preocupada com mudar a sua imagem.
“Penso que ele pode fazer a Igreja voltar a sua função primitiva, mais voltada aos pobres, aos excluídos", diz o sacerdote dos Legionários de Cristo. "Cristo era um revolucionário. Ele deu valor ao escravo, ao pobre, à viúva. Ele resgata essas pessoas do anonimato. A Igreja precisa voltar a essa originalidade".
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