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Sequestrador de Cleveland é condenado à prisão perpétua

Do UOL, em São Paulo

01/08/2013 14h40Atualizada em 01/08/2013 16h36

Ariel Castro, que se declarou culpado na semana passada pelo sequestro, estupro e espancamento de três mulheres em Cleveland, cidade do Estado de Ohio (EUA), foi sentenciado a prisão perpétua, com o adicional de mil anos de prisão. A sentença foi decretada pelo juiz Michael Russo durante audiência no condado de Cuyahoga, em Ohio (EUA), nesta quinta-feira (1º).

“Não há lugar neste mundo para aqueles que escravizam os outros. Você não pode tirar a dignidade delas, embora elas tenham sofrido. Elas perseveraram. Na verdade, elas prevaleceram. Essas notáveis mulheres estão de volta em liberdade”, disse Russo.

“Senhor Castro, você confiscou a verdade. Agora você é um número. Você ficará confinado pelo resto de seus dias”, concluiu o juiz.

Castro foi condenado por 937 crimes que correspondem a sequestro, estupro, conduta violenta e homicídio agravado --pela interrupção das gravidezes das jovens -- que envolveram as adolescentes e uma criança, sua filha nascida em cativeiro. Ele não terá direito a liberdade condicional. O ex-motorista de ônibus terá ainda que pagar uma multa de US$ 100 mil, além dos custos da corte.

Castro ouviu a sentença sem demonstrar emoção. Com os pés e as mãos algemados, disse sim quando o juiz perguntou se ele entendia que nunca mais sairia da prisão em vida.

"Eu não sou um monstro"

Antes, no entanto, ao ouvir a condenação por homicídio, Castro tentou argumentar dizendo que “nunca houve evidência de assassinato”. 

“Eu nunca matei ninguém. Eu não sou um assassino”, disse à corte. "Você é extremamente narcisista”, rebateu o juiz.

Russo lembrou que o sequestrador aceitou um acordo prévio de condenação proposto pela acusação, que o livraria da pena de morte, mas o levaria à prisão perpétua.  

Castro falou à corte que vivia em um ambiente de harmonia com as mulheres e que não era um predador sexual. "Eu não sou um monstro.", disse.

"Não sou violento com as mulheres, sou uma boa pessoa.", reforçou.

Irônico, o juiz disse “não tenho certeza se alguém na América iria concordar com você”.

Castro insistiu que a filha que teve com Amanda Berry em cativeiro nunca chegou a presenciar cenas de violência em casa. Por fim, pediu desculpas às mulheres que sequestrou e pediu que elas esqueçam dele.

"Você me fez viver 11 anos no inferno"

Pouco antes, uma de suas vítimas Michelle Knight, 32, deu um depoimento emocionado no tribunal. Com um papel em mãos, disse que Castro "vai morrer um pouco a cada dia" pelo que fez e que "ele a fez viver 11 anos em um inferno".

Michelle Knight

Aaron Josefczyk/Reuters
Eu vou superar tudo isso que aconteceu, mas você terá de enfrentar o inferno por toda a eternidade

Knight compareceu a corte com sua advogada que a amparou enquanto lia. Castro se manteve frio durante a leitura.

"Você pegou 11 anos de minha vida que eu tenho que recuperar. Quanto aos 11 anos de inferno, agora o seu inferno está apenas começando", disse a jovem. "Eu vou superar tudo isso que aconteceu, mas você terá de enfrentar o inferno por toda a eternidade. Deste momento em diante, eu não vou deixar você me definir ou dizer quem eu sou. Vou viver. Você vai morrer um pouco a cada dia. ", disse Knight.

Uma prima de Gina DeJesus, Sylvia Colon, falou pela vítima no tribunal. "Hoje vamos fechar esse capítulo de nossas vidas", afirmou emocionada.

"Ela ri, ela nada, ela dança e o mais importante, ela ama e é amada", disse Colon.

A irmã de Berry, Beth Serrano, também falou pela jovem. Chorando, disse que "sua mãe não pode saber que Amanda estava viva". A mãe das jovens morreu durante os anos de cativeiro.

Sequestradas mal comiam e não usavam banheiro

Um memorando detalhado dos atos de Castro, apresentado pelo procurador Timothy McGinty nesta quinta-feira (1º), afirmou que as jovens não tinham acesso ao único banheiro da casa, localizado no primeiro andar.

"Elas só tinham acesso a banheiros de plástico nos quartos. Eles eram esvaziados com pouca frequência", disse.

Segundo o promotor, Castro usava o "frio do porão" e o "calor do sótão" como técnicas de tortura das garotas.

Ainda segundo o memorando, as mulheres relatam cenas em que eram acorrentadas pelos tornozelos e trancafiadas em um quarto escuro antes dos abusos sexuais, como se fossem "prisioneiras de guerra".

As três mulheres refletiram em diários os abusos sexuais e psíquicos aos quais eram submetidas por Castro, que em uma ocasião as manteve fechadas em um veículo durante três dias enquanto tinha uma visita em sua casa, segundo o memorando.

Ele ainda as forçava o jogar roleta russa com uma revólver que tinha e jogava dinheiro sobre elas depois de estuprá-las.

Entenda o caso

As três vítimas de Castro - as jovens Amanda Berry, 27, Gina DeJesus, 23, e Michelle Knight, 32 - conseguiram escapar em maio deste ano da casa de Castro, onde foram mantidas em cativeiro por dez anos. Castro foi preso logo depois de Berry chamar a polícia pelo telefone de um vizinho.

Desaparecidas entre 2002 e 2004, quando tinham 14, 16 e 20 anos, todas aceitaram caronas de Castro, um ex-motorista de ônibus.

Durante o período de cativeiro, Castro se aproximou da família de uma de suas reféns e chegou a participar de uma vigília organizada quando ela estava sumida.

O ex-motorista também é acusado de provocar ao menos cinco abortos em uma das mulheres, que foi espancada e passou fome até perder os bebês.