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'Deu vontade de chorar', diz brasileiro testemunha de explosão na Argentina

 Bombeiros trabalham para apagar um incêndio em um edifício de dez andares, iniciado logo após uma explosão causada por um vazamento de gás - Carlos Carrión/EFE
Bombeiros trabalham para apagar um incêndio em um edifício de dez andares, iniciado logo após uma explosão causada por um vazamento de gás Imagem: Carlos Carrión/EFE

Carlos Alciati Neto

Do UOL, em São Paulo

06/08/2013 19h09

O brasileiro Raoni Rafael Soares de Carvalho Menezes mora a três quadras do edifício de dez andares que explodiu em Rosário, na Argentina, nesta terça-feira (6) por volta das 9h15, matando oito pessoas e deixando outras 62 feridas (as autoridades confirmam oficialmente seis mortes). O estudante do terceiro ano de medicina na Universidade Federal de Rosário disse que correu até ao local para tentar ajudar, mas ficou chocado com as cenas que presenciou.

“Deu vontade de chorar. A sensação foi horrível: famílias chorando e gritando por desaparecidos, pessoas nas janelas pedindo socorro. Não consegui ficar ali, até para não atrapalhar, pois tem muito curioso no local”, explica o estudante, que é de Recife (PE).

O local da explosão fica entre as ruas Boulevard Oroño e Salta, no microcentro de Rosário. Trata-se de um bairro antigo e, portanto, muitos edifícios vizinhos sofreram avarias, relata Menezes. “Há portas destroçadas, vidros pelo chão. Em um edifício atrás de onde ocorreu a explosão, toda a parede de trás estava ruindo. Era possível ver as pessoas dentro dos apartamentos pedindo ajuda”, disse o estudante, que completou: “Tem um supermercado ao lado, uma ciclovia, a tragédia poderia ter sido maior se fosse em outro horário diferente.”

Menezes acordou com o estrondo da explosão, mas só percebeu que se tratava de algo grave por conta das sirenes de ambulâncias. “Eu achei que fosse chuva.” De acordo com o estudante, vizinhos comentavam no isolamento da área, em cerca de 100 metros, que muitos moradores reclamaram de um cheiro forte de gás nos últimos dias. Até mesmo uma notificação formal foi feita à companhia que fornece o gás. “Muitos comentaram que a denúncia sequer foi recebida”, relata.

O estudante revelou que o avô de sua namorada passava pelo local minutos antes da explosão e que o porteiro do edifício teria saído correndo do local avisando que o cheiro estava muito forte. O Corpo de Bombeiros cogitou evacuar uma área de cinco quadras, mas como a válvula do gás que alimenta a região foi fechada, só o entorno da explosão foi isolado, de acordo com Menezes. “Mesmo assim eu estou na casa da minha namorada, fiquei com receio”, confessou.

No momento, equipes de resgate seguem buscando sobreviventes nos escombros e, como informa o estudante brasileiro, os Bombeiros conseguiram conter o fogo rapidamente. “Pelo o que eu pude perceber, a maioria das vítimas fatais tinham sofrido politraumatismo. Disseram que foi por conta da força expansiva da explosão, que fez com que as pessoas se chocassem contra as paredes. Há alguns queimados também”, relata.

No local moram muitos estudantes que vêm de outras regiões da Argentina, além de outros países, e idosos. Os vizinhos se solidarizaram com os sobreviventes que receberam alta e providenciaram abrigos em clubes, hostel e até casas de voluntários. Muitos doaram colchões, agasalhos e cobertores. “Muitos estudantes são de cidades pequenas e que moram ali. Conheço apenas um brasileiro que trabalha com serviço de entregas naquela área, mas ele está bem e já conversou comigo”, reporta Menezes.

O estudante brasileiro disse que se antecipou em ligar para os pais e tranquilizá-los e que o clima na Argentina é de comoção. “Algumas rádios dizem para abraçarmos os amigos, os vizinhos, as pessoas de quem gostamos, pois não sabemos o dia de amanhã. Eu me emocionei aqui e procurei ficar ao lado da minha namorada, das pessoas que convivem comigo”, finaliza.