Autoridades britânicas encobriram a verdade em escândalo de sangue contaminado, diz relatório

As autoridades de saúde e políticas britânicas encobriram a verdade sobre o escândalo do sangue contaminado que deixou cerca de 3.000 mortos no Reino Unido entre os anos 1970 e 1990, concluiu uma investigação pública nesta segunda-feira (20).

O caso em que milhares de pessoas foram infectadas por hepatite C e pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV) após receberem transfusões de sangue "poderia ter sido amplamente evitado", afirma o ex-juiz Brian Langstaff, que conduziu o relatório, resultado de sete anos de trabalho.

"A magnitude do ocorrido é assustadora", descreve nesta investigação de mais de 2.500 páginas, que percorre milhares de testemunhos e documentos que provam que "a verdade esteve oculta por décadas".

Brian Langstaff aponta sobretudo a responsabilidade dos sucessivos governos por demorarem a agir quando o escândalo surgiu e por terem assegurado erroneamente em várias ocasiões que os pacientes haviam recebido o melhor tratamento.

O premiê britânico conservador, Rishi Sunak, pediu perdão poucas horas depois durante uma intervenção no Parlamento, pela atuação dos governos conservadores neste escândalo. 

"Quero pedir desculpas de todo o coração e inequivocamente por esta terrível injustiça", disse o premiê conservador, prometendo pagar "o que for preciso" para compensar os afetados e as famílias dos falecidos.

Entre os anos 1970 e início dos anos 1990, mais de 30.000 pessoas que sofriam de hemofilia ou haviam sido submetidas a cirurgias foram contaminadas pelo vírus da hepatite C e pelo HIV após receberem transfusões, através de lotes de sangue provenientes principalmente dos Estados Unidos.

Devido à escassez de sangue, o serviço público de saúde, o NHS (National Health Service), recorreu a fornecedores americanos que pagavam aos seus doadores, entre os quais se encontravam prisioneiros e membros de outros grupos com um risco significativo de infecção.

"A resposta das autoridades vigentes apenas agravou o sofrimento" das vítimas, destacou o relatório.

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Em 2017, o governo britânico, então liderado pela conservadora Theresa May, decidiu abrir esta investigação pública para oferecer transparência sobre esta tragédia, considerada "o pior desastre médico" na história do NHS.

Em 2022, um relatório já havia solicitado às autoridades que pagassem uma indenização imediata às vítimas, sem esperar pelo fim das investigações.

O governo anunciou imediatamente um primeiro pagamento de 100.000 libras (R$ 649,6 mil) a milhares de pessoas.

O custo final da indenização pode alcançar bilhões de libras e será anunciado durante esta semana.

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© Agence France-Presse

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