Maioria da população alemã rejeita nazismo, mas extrema-direita persiste
Mesmo 70 anos após a queda de Berlim e a descoberta dos horrores perpetrados pelos nazistas, a Alemanha ainda tenta exorcizar o fantasma do Nacional Socialismo. Apesar de os alemães de gerações posteriores à guerra sentirem vergonha da associação do país ao genocídio dos judeus, acontecimentos recentes contra imigrantes têm mostrado que essa mentalidade não se reflete na camada mais jovem da população.
"Existem quatro grupos principais", explica o professor de ética comparada da Universidade Livre de Berlim Markus Tiedemann. "Os dois primeiros representam a esmagadora maioria da população alemã. Em comum, eles têm a clara rejeição de todas as formas de fascismo e do racismo e têm um claro compromisso com a história alemã, o Holocausto e a Segunda Guerra Mundial. Em comum também é o desejo de paz, tolerância e solidariedade internacional. No entanto, apenas uma parte da maioria se importa em ter um conhecimento substancial do compromisso passado e ativo para com a humanidade”, disse.
O segundo grupo, conta Tiedemann, toma esses valores como garantidos, no sentido de que eles não precisarem apoiá-los o tempo todo. Eles tendem a ignorar os perigos ou a encarar a miséria humana com horror e impotência.
Escolas mudaram abordagem
A partir dos 16 anos, os estudantes alemães começam a ler textos básicos de história que os desafia a aceitarem o fardo de um passado coletivo muito mais cruel e destrutivo do que os adolescentes de qualquer outro lugar do mundo são obrigados a contemplar.
Isso faz parte da tentativa da geração do pós-Guerra explicar por que o passado não deve se repetir para aqueles que um dia vão governar uma potência econômica e política da Europa. O esforço, alguns educadores argumentam, tem fraquejado e é visto na onda de ataques a estrangeiros e na ascensão de grupos neonazistas, desde a queda do Muro de Berlim, em 1989.
No entanto, alguns analistas também notam que, embora muitos jovens alemães não sintam nenhuma culpa pessoal pelos crimes de uma geração passada, eles sentem a responsabilidade de impedir qualquer retorno de racismo, antissemitismo, militarismo e nacionalismo.
No esforço para diminuir a influência nazista, autoridades de vários Estados assumiram a responsabilidade da educação no pós-Guerra, por isso não há um currículo padronizado único para o ensino de história alemã moderna. Mas, em 1991, a agência educacional de monitoramento do governo federal pediu que os nazistas se tornassem objeto de um "tratamento intensivo e completo" nas escolas e que "a memória do Holocausto fosse mantida viva".
Na Alemanha Ocidental, durante as primeiras décadas do pós-Guerra, livros de história foram escritos por professores da era nazista, e o desejo de reprimir o passado foi generalizado.
Os novos textos oferecem um quadro mais completo. O capítulo sobre a era nazista e o Holocausto ensina os jovens a perguntar: "Quem sabia o quê? Quem participou e quem manteve distância? De que forma as convicções das pessoas foram afetadas pelo sistema de dominação do Partido Nacional Socialista?", conta o professor. Ser membro do Partido Nazista prometia influência, segurança profissional e uma carreira.
Imigração e xenofobia
O terceiro grupo da população recebe muita atenção da mídia na imagem do Pegida (Patriotas Europeus contra a Islamização do Ocidente, na sigla em alemão). De acordo com Tiedemann, eles condenam o período do nacional-socialismo, mas também representam os valores atrasados como nacionalismo, egoísmo e falta de solidariedade.
Finalmente, há o quarto grupo de pessoas que insistem em viver no passado e que infelizmente é encontrado em todas as nações.
"Temos de distinguir entre qualidade e quantidade. O grupo de fanáticos de direita pode ser muito pequeno, mas os assassinatos do Nacional-Socialismo Subterrâneo --grupo que comete assassinatos de estrangeiros no interior da Alemanha-- mostraram que poucas pessoas podem ser terroristas horríveis."
A reverência deste grupo ao nazismo é grande e eles são mais fortes nos novos Estados federados. Uma resposta a essa situação é a economia mais delicada nesta região. Outra seria o rescaldo da educação autoritária na antiga Alemanha Oriental.
Extrema-direita na ex-Alemanha Oriental
Segundo estudo publicado em 2012 sobre tendências de extrema-direita na Alemanha, realizado por pesquisadores da Universidade de Leipzig, quase 16% dos alemães do leste –até 1990 sob governo comunista– cultivam uma visão de mundo de extrema-direita. Em 2002, essa taxa era de 8,1%.
No oeste alemão, em contrapartida, a percentagem caiu de 11,3% para 7,3%. Autores atribuem a tendência a fatores sociais, como o elevado desemprego.
Na pesquisa, foram medidas seis dimensões do extremismo de direita: simpatia por uma ditadura autoritária de direita, chauvinismo, xenofobia, antissemitismo, darwinismo social e minimização do nazismo.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.