Jamil Chade

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Alemanha acusa Musk de tentar interferir em eleição ao apoiar ultradireita

O governo da Alemanha acusa o bilionário Elon Musk de tentar interferir na eleição e no destino do país europeu. Diante de uma crise política, o Parlamento alemão foi dissolvido e eleições antecipadas foram convocadas para fevereiro. Mas, desde meados de dezembro, o aliado de Donald Trump vem fazendo campanha pela extrema direita alemã, irritando tanto conservadores como a esquerda.

Musk, que terá um cargo no governo de Trump e passou a estar presente em reuniões do presidente eleito com líderes estrangeiros, não disfarça sua intenção de promover movimentos ultraconservadores pelo mundo.

Na Alemanha, sua aposta é a Alternativa para a Alemanha, AfD. O partido conta com herdeiros do nazismo e vem adotando uma postura crítica à imigração. Nas pesquisas de opinião, o movimento aparece em segundo lugar, com 18% das intenções de votos e superado apenas pela direita tradicional do país, o CDU.

Musk, porém, vem insistindo que o AfD é o "único que pode salvar" a economia da Alemanha e chamou o atual chanceler, Olaf Scholz, de "idiota". Uma das linhas de atuação do bilionário é ainda defender partidos e movimentos que tenham, em seus programas de governo, promessas de corte de impostos e desregulamentação, tanto no setor de redes sociais como ambientais.

Nos últimos dias, ele usou sua plataforma X para divulgar suas ideias sobre a eleição alemã e, no fim de semana, causou uma polêmica ao publicar um editorial num dos principais jornais do país em defesa da extrema direita.

"É verdade que Elon Musk está tentando influenciar a eleição federal", disse a porta-voz do governo alemão, Christiane Hoffmann, em uma coletiva de imprensa na segunda-feira. Ela insistiu que Musk é livre para expressar sua opinião. "Afinal de contas, a liberdade de opinião também abrange as maiores bobagens", alfinetou.

A porta-voz do governo disse que o endosso de Musk ao AfD era "uma recomendação para votar em um partido que está sendo monitorado pela inteligência doméstica sob suspeita de ser extremista de direita e que já foi reconhecido como parcialmente extremista de direita".

O candidato que lidera as pesquisas de opinião, o conservador Friedrich Merz, também atacou a postura de Musk. "Não me lembro na história das democracias Ocidentais um caso comparável de interferência na campanha eleitoral de um país aliado", disse.

O ministro da saúde alemão, Karl Lauterbach, criticou Musk e disse que suas ações são "indignas e altamente problemáticas".

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Musk tenta normalizar extrema direita

A polêmica ainda cresceu depois que, no final de semana, a coluna assinada por Musk no jornal Welt am Sonntag insistiu em normalizar a extrema direita e rejeitar qualquer relação com o nazismo.

"O retrato da AfD como extremista de direita é claramente falso, considerando que Alice Weidel, a líder do partido, tem uma parceira do mesmo sexo do Sri Lanka! Isso soa como Hitler para você? Por favor!", escreveu o bilionário.

Ele acrescentou que, em sua opinião, o AfD "pode levar o país a um futuro em que a prosperidade econômica, a integridade cultural e a inovação tecnológica não sejam apenas desejos, mas realidade".

Uma das defensoras da aproximação entre o AfD e Musk é Beatrix von Storch, deputada alemã do AfD. De um lado, ela é neta do ministro de Finanças de Adolf Hitler por 12 anos e condenado pelo Tribunal de Nuremberg por crimes de guerra. Seu outro avô não era menos conhecido da cúpula nazista e fazia parte da SA, uma milícia paramilitar. Em 2021, ela viajou ao Brasil e manteve encontros com o então presidente Jair Bolsonaro.

O partido é ainda o primeiro a ser colocado sob vigilância desde 1945 pelo serviço de inteligência doméstica da Alemanha. O motivo: suspeita de tentativa de minar a Constituição democrática da Alemanha. O Conselho Central dos Judeus na Alemanha saudou a decisão. "As políticas destrutivas da AfD minam nossas instituições democráticas e desacreditam a democracia entre os cidadãos", escreveu o grupo.

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O AfD conseguiu entrar no Bundestag em 2017, buscando votos da parcela que fez oposição à decisão da chanceler Angela Merkel de receber mais de um milhão de migrantes.

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