Corrupção, omissão e xamanismo: os elementos que motivam impeachment na Coreia do Sul
Nesta sexta-feira (9), o Parlamento sul-coreano votará a moção de impeachment da presidente Park Geun-hye, que pode ser a primeira líder removida do cargo desde que seu pai, o ditador militar Park Chung-hee, foi assassinado em 1979. Entenda os próximos passos do impeachment e os motivos que acarretaram o pedido:
Como será a votação do impeachment?
Park, cujo mandato vai até o começo de 2018, será julgada pelos 300 deputados da Assembleia Nacional sob as acusações de abuso de poder e não ter protegido a população da corrupção.
Para a aprovação do impeachment, são necessários votos de 200 dos 300 deputados. Pelo menos 171 parlamentares já apoiam o texto, e a oposição precisa do voto de pelo menos 29 deputados do Saenuri, o partido da presidente, que está dividido e pode sacramentar sua queda.
A decisão do Parlamento remove a presidente definitivamente?
Não. Se a Assembleia Nacional aprovar a moção dos parlamentares, a presidente será suspensa de suas atividades e quem definirá seu destino é o Tribunal Constitucional, que decide sobre questões envolvendo a Constituição do país.
A Corte analisará o impeachment para saber se o pedido é justificado. O processo pode durar até seis meses e será votado entre seus integrantes; para a presidente ser afastada, seis dos nove juízes da Corte precisam aprovar o pedido.
Quais são as acusações?
As acusações giram em torno de Choi Soo-sil, confidente e amiga íntima da presidente, que teria usado sua influência sobre ela para enriquecer e manipular suas decisões políticas. Chamada de "Rasputina" pela imprensa, Choi foi detida em novembro e está esperando para ser julgada por coação e abuso de poder.
Choi é acusada de ter extorquido, com a cumplicidade da presidente, dezenas de milhões de dólares das principais empresas do país, através de doações para suas fundações Mim-R e K-Sports, para se apropriar de parte dos fundos, segundo a Promotoria do país. A Samsung, por exemplo, doou 20 bilhões de wons (cerca de R$ 58 milhões) para as fundações.
Segundo as acusações, Park também teria vazado a Choi documentos confidenciais do governo federal e forçado a demissão de um presidente de jornal, em 2014, depois da publicação de reportagens que citavam a influência da amiga da presidente sobre o governo.
A moção ainda acusa Park de não ter reagido de maneira adequada ao naufrágio de uma balsa que matou 304 pessoas em 2014, violando seu dever constitucional de proteger a vida de seus cidadãos.
O que diz a presidente?
No início de novembro, logo após a prisão de Choi Soo-sil, Park afirmou ser responsável pelo escândalo político envolvendo a amiga e confirmou que Choi editava trechos de seus discursos.
"É minha culpa e meu erro", disse a presidente, que, no entanto, negou posteriormente as acusações de corrupção. Park disse que poderia negociar uma transição com o Parlamento e renunciar ao cargo, mas a oposição rejeitou negociar com a presidente.
Por que Choi Soon-sil é chamada de "Rasputina"?
Políticos da oposição e a imprensa sul-coreana chamam Choi de "Rasputina" em alusão a Rasputin, o místico (chamado de "Monge Louco") que exerceu uma grande influência sobre o Czar Nicolau 2º da Rússia no início do século 20.
Choi, amiga de Park há 40 anos, relia e corrigia os discursos da presidente e até mesmo a aconselhava nas nomeações de integrantes de alto escalão.
O que é a suposta seita xamanista em que a presidente estaria envolvida?
O pai de Choi Soon-sil, Choi Tae-min, é o fundador da Igreja da Vida Eterna, e um autoproclamado messias, que foi mentor da presidente. Segundo um relatório da agência de inteligência coreana, ele a abordou após a mãe dela ter sido assassinada em 1974, dizendo-lhe que a falecida tinha falado com ele em seus sonhos.
O relatório disse que Choi Tae-min passou a cultivar sua influência sobre Park para solicitar propinas e acumular uma fortuna familiar - na época, a Coreia do Sul era governada pelo ditador Park Chung-hee, pai da atual presidente.
Não há evidência que as atividades xamânicas ainda sejam praticadas pela presidente ou mesmo por Choi Soon-sil, mas a imprensa sul-coreana publicou diversas histórias envolvendo o assunto - inclusive sobre a suposta existência de um grupo de assessoras informais, chamado de "as oito fadas", que influenciaria diretamente a presidente nos assuntos do governo.
A demora de Park em agir depois do náufrago de 2014 também gerou especulações na imprensa, que questionou o porquê de a presidente ter levado sete horas até convocar a primeira reunião de governo sobre o acidente.
Entre as teorias levantadas - nenhuma confirmada -, houve rumores de que Park estava realizando um ritual xamânico. A Casa Azul, sede da presidência sul-coreana, desmentiu as teorias, mas não esclareceu até hoje onde a presidente estava no dia da tragédia.
Qual é a reação da população diante do escândalo?
Desde a prisão da amiga da presidente, milhões de pessoas foram às ruas em protestos maciços para pedir a saída de Park Geun-hye, com sua aprovação caindo vertiginosamente para 5% em novembro, segundo uma pesquisa realizada pela Gallup Korea. É o número mais baixo para um presidente sul-coreano desde que essas pesquisas começaram com líderes democraticamente eleitos em 1988.
A pressão popular e da opinião pública foi crucial para que um alto número de deputados do partido da presidente decidissem apoiar o pedido da oposição.
Segundo o jornal "New York Times", os rumores envolvendo o envolvimento de Park com seitas religiosas também são uma séria questão para os sul-coreanos, que rejeitam a ideia de líderes xamânicos e outras figuras misteriosas exercendo influência no governo. (Com agências internacionais e "The New York Times")
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