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Mercosul fala em "ruptura democrática" e exige que Venezuela respeite divisão de poderes

Oposicionistas protestam contra o governo Nicolás Maduro, em Caracas - Juan Barreto/AFP
Oposicionistas protestam contra o governo Nicolás Maduro, em Caracas Imagem: Juan Barreto/AFP

Do UOL, em São Paulo*

01/04/2017 17h01

Após de reunirem em caráter de emergência para discutir a situação política da Venezuela, os países do Mercosul exortaram o país a garantir a separação de poderes e a respeitar o cronograma eleitoral previsto, em uma declaração conjunta assinada neste sábado (1º) em Buenos Aires.

O encontro ocorreu poucas horas após a Corte Suprema de Justiça do país ter anunciado que se retrata na decisão de assumir as funções do Parlamento

Os chanceleres de Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai resolveram aplicar a cláusula democrática com relação à Venezuela, além de emitir um documento "tendo em conta a ruptura da ordem democrática na República Bolivariana da Venezuela". Eles pediram ao país que tome medidas "para assegurar a efetiva divisão de poderes" e que "respeite o cronograma eleitoral". O processo pode levar à expulsão da Venezuela do bloco sul-americano.

Em nota conjunta, os países afirmam que decidiram "instar o Governo da Venezuela a adotar imediatamente medidas concretas, concertadas com a oposição, de acordo com as disposições da Constituição da República Bolivariana da Venezuela e demais normas aplicáveis, para assegurar a efetiva separação de poderes, o respeito ao Estado de Direito, aos direitos humanos e às instituições democráticas".

Cronograma eleitoral

Em entrevista coletiva logo após o término do encontro, a chanceler argentina, Susana Malcorra, afirmou que a pedra de toque para "o restabelecimento da ordem democrática é a manutenção do calendário eleitoral".

"Claramente, há uma situação na qual a separação dos poderes, que é essencial para a democracia, não está funcionando", disse Susana, citando as longas batalhas legais da corte contra o Congresso.

O documento divulgado em conjunto pelos países do bloco exorta ainda o governo venezuelano "a respeitar o cronograma eleitoral derivado de sua normativa institucional, a restabelecer a separação de poderes, a garantir o pleno gozo dos direitos humanos, das garantias individuais e das liberdades fundamentais e a libertar os presos políticos".

Posição do Brasil

O ministro das Relações Exteriores do Brasil, Aloysio Nunes, afirmou, em entrevista coletiva, que a reunião deste sábado pode ser o primeiro passo para a saída da Venezuela do Mercosul.

"Nós estamos iniciando com um processo que poderá levar à exclusão, mas esperamos que não leve, esperamos que possamos ser um instrumento facilitador para chegarmos a uma solução positiva para a crise da Venezuela", declarou Nunes.

"Esses passos começam com uma consulta entre os membros, o que foi feito hoje, e em seguida haverá uma consulta também aos poderes da Venezuela, e nós acompanharemos o processo que nós almejamos que seja o processo do pleno restabelecimento da democracia naquele país", acrescentou o chanceler brasileiro.

Nunes declarou que não participou da reunião com uma "posição fechada" -- em referência à eventual exclusão da Venezuela.

"O importante para mim é que as decisões tomadas aqui sejam unitárias. O que suscitou a criação do Mercosul foi uma mudança no ambiente político da América do Sul, com a redemocratização de nossos países. Isto faz que a democracia seja um pilar fundamental da existência dessa construção."

Nunes afirmou ainda que "um país que se coloca à margem da democracia não pode ficar ao longo sendo membro do Mercosul." E completou: "No entanto, se for verificado os instrumentos jurídicos que sustentam a existência do bloco, você verá como uma decisão como essa, a de exclusão de um país, não se toma em um único momento. A própria normativa do Mercosul exige uma série de passos que se forem bem-sucedidos, como eu espero que seja, evitariam uma medida mais drástica." 

Por sua vez, a chanceler argentina, Susana Malcorra, afirmou que a aplicação da cláusula democrática "não implica a expulsão do Estado em questão. E sim um acompanhamento da situação, em busca de soluções pela via do diálogo".

Suprema Corte revoga decisão

A Suprema Corte da Venezuela, que tem apoiado o presidente socialista Nicolás Maduro, revogou neste sábado sua polêmica decisão de anular o Congresso liderado pela oposição em meio a condenações internacionais e protestos contra o governo.
 
"Esta controvérsia acabou", disse Maduro pouco depois da meia-noite para um comitê de segurança especialmente convocado para ordenar que a corte reconsiderasse a decisão anterior.
 
Enquanto Maduro, de 54 anos, busca lançar um movimento para resolver um conflito de poder, seus adversários afirmam que se trata de um recuo de um governo impopular que exagerou na mão. 
 
"Você não pode fingir normalizar a nação depois de realizar um 'golpe'", disse Julio Borges, líder da Assembleia Nacional Legislativa. Protestos contra governo foram registrados nas ruas de Caracas neste sábado. (Com agências internacionais)