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Deputado chavista acusa brasileiro preso na Venezuela de participar de organização criminosa

O dirigente chavista Diosdado Cabello, primeiro a divulgar a prisão de Jonatan Diniz - Foto: AFP
O dirigente chavista Diosdado Cabello, primeiro a divulgar a prisão de Jonatan Diniz Imagem: Foto: AFP

Do UOL, em São Paulo

28/12/2017 20h08

Em meio a uma crise diplomática entre Brasil e Venezuela, autoridades venezuelanas detiveram um cidadão brasileiro e o acusaram na quarta-feira (27) de pertencer a uma suposta organização criminosa.

Em seu programa de televisão matinal, o deputado chavista Diosdado Cabello anunciou a prisão do brasileiro Jonatan Moisés Diniz e de três venezuelanos. Eles foram detidos em Vargas, estado do litoral do país, segundo o jornal local "El Nacional". O jornal não informou quando as prisões ocorreram.

O governo venezuelano não explicou, porém, quais crimes Diniz ou a suposta organização teriam cometido. O UOL tentou entrar em contato com familiares de Diniz, mas não obteve resposta.

O Consulado do Brasil em Caracas afirmou em nota que "acompanha o caso e está em contato com autoridades locais e com a família do nacional para prestar a assistência consular cabível." Acrescentou ainda que, em respeito à privacidade do detido, não irá "prestar informações pessoais sobre o caso."

Em seu pronunciamento, Cabello disse que Diniz é diretor da ONG Time to Change the Earth (Hora de mudar a Terra, em tradução livre). O deputado chavista disse que a organização promovia em redes sociais atividades de entrega de alimentos para moradores de rua na Venezuela com o objetivo de obter financiamento em moeda estrangeira ou nacional.

Ele não explicou como isso poderia configurar crime, mas disse que a entidade é uma "organização criminosa com braços internacionais". Os outros três detidos também fariam parte da mesma organização. Com eles, foram apreendidos 50 camisetas e bonés vermelhos com o logo "Time to Change". 

Bonés da ONG Time to Change - Reprodução/Facebook - Reprodução/Facebook
Bonés da ONG Time to Change supostamente pelo governo venezuelano. A foto foi publicada no Facebook de uma militante chavista
Imagem: Reprodução/Facebook

O UOL não conseguiu confirmar com fontes independentes se a organização realmente existe e qual seria sua área de atuação. 

Em uma página no Facebook curtida por apenas 18 pessoas, a Time to Change é descrita como uma "organização que conecta organizações não governamentais de todo o mundo para compartilhar comida, medicação, brinquedos e e uma nova e saudável filosofia de vida". As únicas publicações são de imagens para serem usadas como fundo de tela. 

Ainda de acordo com Cabello, que é um dos homens fortes do governo Nicolás Maduro, Diniz seria também parte da organização Warriors for Angels (Guerreiros por Anjos, em tradução livre) e publicaria imagens nas redes sociais dos protestos antigoverno que aconteceram em 2017 no país. Cabello classifica essas manifestações como "atos terroristas". 

Diniz, 31, vive em Los Angeles, Califórnia. Nas redes sociais, ele diz ser "professor da Angels" e ter organizações não governamentais no Brasil e na Venezuela. Boa parte de suas publicações faz apelo a doações para combater a fome - em particular, de crianças venezuelanas.  

Imagem publicada na página do Facebook da organização Time to Change - Reprodução/Facebook - Reprodução/Facebook
Imagem publicada na página do Facebook da organização Time to Change
Imagem: Reprodução/Facebook

Crise diplomática

A prisão do brasileiro acontece em meio a um período turbulento nas relações Brasil-Venezuela. Parceiros políticos durante os governos de Lula e Dilma, os dois países estão com as relações estremecidas desde o impeachment de Dilma em agosto de 2016. 

A situação agravou-se nas últimas semanas quando o presidente venezuelano, Nicolás Maduro, declarou o embaixador brasileiro em Caracas persona non grata - o que na prática significa a expulsão do representante brasileiro da Venezuela. Obedecendo à tradição diplomática de reciprocidade, o Itamaraty expulsou o encarregado de negócios da Venezuela no Brasil dias mais tarde.