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Mansão da família de Kim Jong-un não está na Coreia do Norte e você pode visitar

Hyung-jin Kim

Da Associated Press, em Goseong (Coreia do Sul)

23/02/2018 04h00

Uma antiga mansão à beira-mar da família governante da Coreia do Norte. Um submarino espião norte-coreano capturado. Um observatório na linha de frente que permite que visitantes curiosos espiem partes de uma pitoresca montanha norte-coreana do outro lado da Zona Desmilitarizada, coberta de minas terrestres.

São lembranças amargas das sete décadas da divisão coreana, encontradas na província sul-coreana de Gangwon, cujas três cidades estão sediando a Olimpíada de Inverno.

Conforme os jogos se transformam em palco para uma série de raras medidas de reconciliação entre as duas Coreias, muitos torcedores olímpicos e outros estão visitando esses lugares relacionados à Coreia do Norte para saber mais sobre a turbulenta história dos rivais.

Veja abaixo algumas das atrações mais famosas com tema da Coreia do Norte em Gangwon, a única província coreana dividida há décadas ao longo da fronteira mais fortificada do mundo.

Hwajinpo na Coreia do Sul - Jae C. Hong/ AP - Jae C. Hong/ AP
Visitantes do lado de fora do Castelo de Hwajinpo, antiga casa de férias do líder Kim Il-sung, na praia de Hwajinpo, na Coreia do Sul
Imagem: Jae C. Hong/ AP

Mansão de Kim Il-sung

A alguns quilômetros da Zona Desmilitarizada (DMZ na sigla em inglês), esta mansão de pedra perto da bela praia sul-coreana de Hwajinpo já foi a casa de férias do finado fundador da Coreia do Norte, Kim Il-sung, o avô do atual governante, Kim Jong-un.

Antes chamada de "Castelo de Hwajinpo", ela pertenceu ao território norte-coreano antes da guerra de 1950-53, mas acabou na Coreia do Sul depois que a fronteira foi ligeiramente redesenhada após o fim das lutas.

Uma foto em preto e branco na mansão mostra uma imagem de infância de Kim Jong-il, o falecido ditador pai de Kim Jong-un, sentado nos degraus de pedra. Então com 6 anos, Kim Jong-il foi fotografado com sua irmã mais moça, Kim Kyong-hui, um amigo soviético não identificado e dois outros amigos norte-coreanos.

A Coreia do Sul havia deixado seus generais usarem a mansão como balneário de férias, mas a transformou em local turístico em 1999. Diariamente, ela atrai hoje cerca de 5.000 visitantes na temporada de verão e 500 na de inverno. Mas a Olimpíada realçou temporariamente o número de visitantes diários em algumas centenas, segundo o guia Yeum Sang Bae.

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"Olhando para esta 'villa', eu pensava em nosso desejo de unificação das Coreias e ficava um pouco emocionado", disse Keum Hyo-kil, um visitante de 77 anos, com sua família, nesta semana depois de assistir à competição de trenó na véspera.

"Espero que Kim Jong-un desista completamente de suas armas nucleares por ocasião desta Olimpíada em Pyeongchang", disse ele.

Muitos visitantes dizem que a Coreia do Sul deveria preservar esta propriedade como um local histórico para as gerações mais jovens. Mas no passado um grupo de ativistas contra Pyongyang ameaçou explodir a mansão, e outros riscaram o rosto de Kim Jong-il na foto fixada à parede perto dos degraus de entrada. A foto exibida nesta semana não tinha riscos.

Em 2000, quando o ministro da Cultura sul-coreano, Park Jie-won, visitou a Coreia do Norte, entregou a Kim Jong-un um álbum de fotos da mansão. Park, hoje um político de oposição, disse que Kim fingiu não reconhecer o tempo que passou ali, mas depois lembrou-se de que brincava lá quando criança.

Kim Jong-il governou a Coreia do Norte durante 17 anos depois da morte de Kim Il-sung em 1994. Ele morreu no final de 2011, entregando o poder a seu terceiro e último filho, Kim Jong-un.

submarino norte-coreano - Johnson Lai/AP - Johnson Lai/AP
Visitantes entram no submarino norte-coreano exposto no Parque de Unificação em Gangneung
Imagem: Johnson Lai/AP

Submarino norte-coreano

Um submarino norte-coreano é exibido no "Parque da Unificação" à beira-mar em Gangneung, onde se realizam as competições olímpicas de patinação, hóquei e curling.

Esse submarino de 35 metros encalhou em 1996 durante uma missão de espionagem na região. Depois de determinar que os danos à embarcação foram graves demais para consertar, sua tripulação de 26 pessoas a abandonou e entrou nas montanhas próximas, muito escarpadas e cobertas de florestas, para encontrar uma rota de volta para o Norte.

Mas um motorista de táxi avistou o submarino encalhado e relatou às autoridades, provocando uma caçada humana de 49 dias que incluiu tiroteios com os soldados norte-coreanos em fuga. Afinal, 24 foram mortos por tiros ou encontrados mortos, um foi capturado e um foi dado como desaparecido. A caçada humana deixou 17 sul-coreanos mortos.

Os visitantes são obrigados a usar capacetes de segurança amarelos para entrar no submarino apertado. Os entrevistados pareciam em dúvida sobre o clima de reaproximação entre as Coreias inspirado na Olimpíada.

"Espero que sejamos unificados em breve e vivamos juntos com a mesma mentalidade", disse Hong Sun Kee, um funcionário de escritório de 47 anos que foi mobilizado na caçada em 1996 como reservista. "É apertado demais dentro do submarino. Não sei como eles ficavam aqui."

Yu Kyung Hee, uma dona de casa de 47 anos, estava um pouco desconfiada sobre o gesto recente do Norte e disse acreditar que se destinava a atenuar as sanções internacionais. "Acho que agentes da Coreia do Norte poderiam vir até aqui de novo a bordo de outro submarino."

No parque também há um barco de madeira motorizado que 11 norte-coreanos usaram para fugir para o Sul pelo mar em 2009. Um navio de guerra aposentado sul-coreano de 3.471 toneladas também está à mostra.

A Olimpíada provocou um aumento no número de visitantes estrangeiros ao parque, mas há menos sul-coreanos visitando neste mês. Isso se deve principalmente a uma medida de restrição do tráfego de automóveis durante os jogos, segundo um guia do parque, Kim Nam Hee.

observatorio coreia do norte - Jae C.Hong/AP - Jae C.Hong/AP
Pessoas olham a Coreia do Norte do Observatório Goseong para a União
Imagem: Jae C.Hong/AP

Observatório da unificação

Localizado pouco ao sul da DMZ, é um dos pontos mais setentrionais da Coreia do Sul aonde civis podem viajar para ter uma visão da Coreia do Norte.

Ao longo de uma rodovia litorânea que leva a este observatório, muitas vezes se vê à direita uma longa linha de cercas de arame farpado destinada a evitar a infiltração de agentes norte-coreanos.

Partes do monte Diamante, no Norte, são vistas daqui, onde as duas Coreias tiveram um projeto conjunto de turismo durante uma antiga era de distensão. O projeto empacou depois que um soldado norte-coreano matou um turista sul-coreano que visitava o resort na montanha em 2008.

Enquanto esse observatório fica perto da parte leste da fronteira de 249 quilômetros, uma atração turística mais famosa na DMZ fica na seção oeste e se situa de fato dentro da DMZ.

A aldeia na fronteira de Panmunjom foi o lugar onde tropas norte-coreanas dispararam contra um companheiro ousado que correu para a liberdade no ano passado. O soldado desertor foi atingido cinco vezes, mas sobreviveu e hoje está na Coreia do Sul.

No observatório litorâneo do leste na segunda-feira (19), muitos visitantes tiravam fotos com o monte Diamante ao fundo, depois de amarrar aos corrimãos fitas coloridas com mensagens pedindo a paz entre as Coreias, uma Olimpíada bem sucedida e a saúde de suas famílias.

"É triste porque não podemos ir à Coreia do Norte, embora esteja logo ali", disse Ha Go Eun, uma estudante de 18 anos que foi a Gangwon com amigas para assistir aos jogos.

"Eu gostaria que as relações entre as Coreias fossem um pouco melhores depois desta Olimpíada", disse ela. "Realmente quero conhecer o monte Diamante. É um lugar muito lindo."

Ali perto, uma bailarina solitária fazia uma apresentação que simbolizava um pássaro preso em fitas coloridas e rede de camuflagem.

"Eu gostaria de expressar uma ave que quer voar para onde quiser, sem ter qualquer limite", disse a artista, Doyu, 48. "Por que não podemos caminhar até o monte Diamante? Acho que levaria menos de cinco minutos de carro para chegar lá. Essa situação não é irônica?"

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AFP