A jovem de 18 anos que deixou Washington em silêncio e é alvo da extrema-direita
Na frente de milhares de pessoas, a estudante de 18 anos Emma González, sobrevivente do ataque armado que matou 17 pessoas em uma escola da Flórida, manteve sua cabeça erguida em silêncio por longos minutos em um protesto pela regulamentação das armas no sábado (24), em Washington.
Em seu discurso, após citar todos os nomes das vítimas, a estudante se manteve calada enquanto lágrimas escorriam por seu rosto. Nos primeiros minutos, a multidão gritou seu nome, aplaudiu-a e puxou um coro de “nunca mais” (never again). Depois, todos ficaram quietos até que um alarme digital tocou.
“Desde que estou aqui, se passaram seis minutos e vinte segundos. O atirador parou de atirar e logo vai abandonar seu fuzil, se misturar com os estudantes e andar livremente por uma hora até ser preso”, disse a menina, com uma voz limpa, finalizando seu tempo no palco com a frase “lute por sua vida antes que seja responsabilidade de outra pessoa”.
Desde seu forte discurso, Emma González foi alvo de notícias falsas que viralizaram na extrema-direita, afirma o jornal Washington Post. Uma foto falsa em que a garota aparece rasgando a Constituição do país foi compartilhada milhares de vezes, sobretudo entre os que defendem o porte de armas nos Estados Unidos.
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Emma tem sido uma das porta-vozes dos alunos norte-americanos que pedem por uma legislação mais forte para a compra de armas. No sábado, uma manifestação contra armas sob o nome “March for Our Lives” (marcha pelas nossas vidas, em tradução livre) reuniu jovens em mais de 800 cidades mundo afora.
Centenas de milhares de pessoas saíram às ruas para pedir um basta à facilidade para se comprar armas nos Estados Unidos, onde morrem 30 mil pessoas por ano devido à violência.
No dia 14 de fevereiro, um ex-aluno atacou a escola com um fuzil AR-15, matando 17 pessoas e ferindo outras 15 em apenas seis minutos e vinte segundos. Em seu discurso, a menina homenageou as 17 vítimas do colégio e disse que tudo que bastou para que eles não estivessem mais aqui foi um fuzil AR-15 e pouco mais de seis minutos.
Rosto do movimento
Quatro dias após o ataque ao colégio Marjory Stoneman Douglas, Emma González já virava um símbolo da juventude norte-americana que não iria se calar diante do atentado. Em um protesto em Fort Lauderdale, Emma fez um discurso pedindo o controle de armas que se tornou viral.
"Isto não é uma questão de saúde mental", afirmou a estudante de origem cubana em fevereiro. "Ele não teria machucado tantos alunos se estivesse com uma faca. Se o presidente quiser vir até mim para dizer na minha cara que foi uma terrível tragédia (...), eu irei felizmente perguntar quanto dinheiro ele recebeu da NRA (Associação Nacional de Rifles, na sigla em inglês)".
Assim como aconteceu no Brasil após a morte da vereadora e defensora de direitos humanos Marielle Franco, que foi alvo de imagens falsas, Emma González também sofreu com a propagação de fake news. Após seu discurso em Washington, a menina se tornou alvo dos defensores do porte de armas nos Estados Unidos, que falsificaram uma foto.
As imagens falsificadas mostram Emma rasgando a Constituição. O vídeo original, na verdade, é uma peça da revista americana Teen Vogue em que Emma aparece rasgando um alvo de tiros em um especial sobre os jovens que lutam pelo controle de armas.
O argumento dos defensores de armas é que a segunda emenda da Constituição norte-americana garante o direito dos cidadãos manterem e portarem armas de fogo. Assim, qualquer proibição ou restrição a isso seria uma forma de destruir a Constituição do país.
Juventude cansada
"Livros, não armas", "Protejam a vida dos jovens, não às armas", "Chega de armas!": essas eram algumas das frases repetidas milhares de vezes pela multidão que se mobilizava pela Avenida Pensilvânia, que liga a Casa Branca ao Capitólio, sede do Congresso, durante a manifestação de sábado.
O presidente Donald Trump não falou, mas a Casa Branca emitiu um comunicado aplaudindo "os inúmeros jovens norte-americanos corajosos" que foram às ruas.
No palco principal, no centro de Washington, os oradores se alternavam no microfone com apresentações de cantores como Ariana Grande, Demi Lovato, Miley Cyrus e Jennifer Hudson, que perdeu sua mãe e seu irmão em um tiroteio em 2008.
Cidades como Nova York, Boston, Chicago, Dallas, Miami, Los Angeles e Seattle também tiveram marchas similares, ainda que menores. Fora do EUA, Londres e algumas cidades do Canadá também tiveram mobilizações em prol da causa. (Com agências internacionais)
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