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Kim e Trump assinam acordo para desnuclearização das Coreias; EUA oferecem "garantias de segurança"

Do UOL, em São Paulo

12/06/2018 02h47Atualizada em 12/06/2018 10h15

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e o líder da Coreia do Norte, Kim Jong-un, assinaram uma declaração conjunta nesta terça-feira (12), em Singapura, que estabelece como meta a desnuclearização completa da península coreana. O presidente dos EUA afirmou também que dará garantias de segurança ao regime de Kim.

Em uma coletiva realizada após o encontro, Trump afirmou que os EUA vão parar os exercícios militares na Coreia do Sul. "O que vamos fazer é parar os 'jogos de guerra' e vamos economizar bastante dinheiro com isso."

O documento selado hoje após uma histórica cúpula de mais de quatro horas entre o presidente dos EUA e o líder norte-coreano afirma que os dois países se comprometem em cooperar para desenvolver novas relações e para a "promoção da paz, prosperidade e segurança".

Kim Jong-un "reafirmou seu firme e inabalável comprometimento pela desnuclearização completa da península coreana", segundo o texto.

Apesar dos compromissos, o texto é vago, e não informa o formato ou o prazo em que a desnuclearização será feita nem detalha quais seriam as "garantias de segurança" dos EUA à Coreia do Norte.

O documento estabelece que o secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, se reunirá na "data mais próxima possível" com um alto funcionário norte-coreano para continuar o diálogo bilateral sobre a desnuclearização.

Mundo vai presenciar uma "grande mudança", diz Kim

No momento em que assinaram a declaração, os dois líderes falaram sobre o que foi chamado de "acordo de cooperação entre EUA e Coreia do Norte". Foi o último momento conjunto de Trump e Kim após quase cinco horas de reuniões no hotel Capella, na ilha de Sentosa.

"Hoje nós tivemos uma reunião histórica, e estamos prontos para deixar o passado para trás. O mundo vai presenciar uma grande mudança", disse Kim, durante a assinatura, onde também agradeceu a Trump pela sua disposição em realizar a reunião.

Por sua vez, Trump disse estar desenvolvendo "um vínculo muito especial" com Kim. "Nós vamos lidar com um problema muito grande e muito perigoso para o mundo", enfatizou Trump. O presidente norte-americano afirmou que o processo de desnuclearização da Coreia do Norte começará "em breve".

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Quatro temas na mesa

Nos próximos meses, está previsto novos encontros entre norte-americanos e norte-coreanos para um diálogo sobre quatro pontos principais. O primeiro objetivo é "estabelecer novas relações entre os Estados Unidos e a DPRK de acordo com o desejo dos povos dos dois países que haja paz e prosperidade", o segundo indica que as duas nações, que agora não têm relações diplomáticas, "unirão seus esforços para construir um regime de paz durável e estável na península coreana".

Em terceiro lugar a "reafirmação da Declaração de Panmunjom", selada pelas duas Coreias no final de abril, em que Pyongyang se compromete com a desnuclearização.

Por último, acordaram em "recuperar os corpos dos prisioneiros de guerra ou desaparecidos em combate" depois da Guerra das Coreias (1950-1953), "incluindo o repatriamento imediato daqueles que já foram identificados".

kim e trump - Saul Loeb/AFP - Saul Loeb/AFP
Imagem: Saul Loeb/AFP

Trump diz que Kim é um homem de talento

Em declarações aos jornalistas quando se separou de Kim, Donald Trump descreveu o líder norte-coreano como um homem "com muito talento" que "ama muito seu país", e acrescentou que os dois se reunirão "muitas vezes" a partir de agora.

Perguntado pelos jornalistas se convidaria Kim para visitar a Casa Branca, Trump respondeu: "Absolutamente, eu farei isso".

Como foi o encontro

O evento, preparado para as primeiras páginas dos jornais, começou com os dois líderes posando diante de um cenário formado por bandeiras dos Estados Unidos e da Coreia do Norte.

Após a fotografia histórica, Trump deu um tapinha nos ombros de Kim e os dois seguiram para uma antessala. Sentados e sorridentes, fizeram breves declarações para a imprensa e tiraram fotos. Em seguida, os líderes fizeram uma reunião fechada, acompanhados apenas de seus tradutores, que durou cerca de 40 minutos. Uma outra reunião, dessa vez na companhia dos respectivos assessores e aberta, ocorreu em seguida.

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Participaram do almoço ao lado de Trump o secretário de Estado americano, Mike Pompeo, o chefe de gabinete da Casa Branca, John Kelly, e o assessor de segurança nacional, John Bolton. Também estavam a porta-voz da Casa Branca, Sarah Huckabee Sanders; o embaixador dos EUA nas Filipinas, Sung Kim, que liderou as negociações com a Coreia do Norte para preparar a agenda da cúpula, e o chefe na Ásia do Conselho de Segurança Nacional dos EUA, Matt Pottinger.

Da parte da Coreia do Norte, além do líder, participaram do almoço Kim Yong-chol, considerado um dos seus principais colaboradores, Ri Yong-ho, atual ministro das Relações Exteriores, e o ex-chanceler Ri Su-yong.

Esta foi a primeira vez em que um presidente norte-americano em exercício se encontra com um líder norte-coreano. Antes de Trump, Bill Clinton viajou à Coreia do Norte, mas já havia deixado a Casa Branca quando isso aconteceu. 

    Tanto o pai quanto o avô de Kim, líderes da Coreia do Norte antes dele, chegaram a iniciar negociações para abandonar as ambições nucleares do país, em troca de assistência econômica. Todos os acordos no entanto acabaram fracassando. 

    O contexto histórico da reunião

    A Coreia do Sul e a Coreia do Norte se enfrentaram durante três anos (1950-1953), no contexto da Guerra Fria (1947-1991). Na época, Washington e Moscou apoiavam lados opostos como forma de garantir seus espaços de influência no mundo. 

    Sem um desfecho oficial para a guerra, em 1953 as Coreias assinaram um armistício em vigor até hoje, quase 70 anos depois, mas nunca assinaram um acordo de paz. Ou seja, tecnicamente, as Coreias ainda estão em guerra.

    Nesse período, o pequeno país ao norte tornou-se um poço de reclusão e hostilidade. Extremamente fechado e isolado da comunidade internacional, a Coreia do Norte teve momentos de maior e menor tensão com o vizinho e também com os Estados Unidos. A intensidade das ameaças variou de acordo com a disposição dos líderes no poder e do contexto mundial. 

    A constante realização de testes com mísseis de longo alcance tornaram o país uma ameaça crescente. Em 2002, o então presidente norte-americano, George W. Bush classificou o país como integrante do que chamou de "Eixo do Mal", conjunto de governos inimigos dos Estados Unidos.

    Neste contexto de ameaças que se arrastam há décadas, com potencial de conflito global, o encontro entre Trump e Kim acena para a paz.

    (Com agências de notícias)

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