Turma da Mônica vira 'embaixadora' do Brasil no Japão e lança até guaraná
Na terra do mangá e do anime, quadrinhos "made in Brazil" desenham novas páginas na história das relações nipo-brasileiras. No consulado geral do Brasil em Tóquio, neste mês, o cartunista Mauricio de Sousa, 83, anunciou o lançamento de um escritório no Japão e distribuiu uma edição comemorativa do gibi: "Turma da Mônica - Brasil e Japão: 110 Anos de Amizade", em português.
A obra vem na sequência de "A Turma da Mônica e a Escola no Japão", entregue gratuitamente para as crianças brasileiras que estudam no país, e sela o que Mauricio descreve como "a terceira maior aventura de sua carreira: a incursão no mercado japonês". "As primeiras foram aprender a desenhar e a criar a Turma da Mônica", disse ao UOL
A expansão nipônica pega carona na comunidade brasileira no país: o Japão é casa da terceira maior colônia brasileira no exterior, atrás apenas de Estados Unidos e Paraguai.
"Entrar no Japão tem duas razões. Tem o lado empresarial, mas também tem o lado humano, tenho contato com descendentes de japoneses desde pequeno e sei da tragédia que acontece com os filhos de brasileiros no Japão", conta Maurício.
Segundo dados mais recentes do governo japonês, há 186 mil brasileiros no país --a quinta maior comunidade estrangeira. A maioria é formada por filhos, netos e bisnetos de japoneses que, facilitados pelo visto de residência e trabalho no Japão, se mudaram ao país para trabalhar como operários nas linhas de produção japonesas.
A integração das crianças brasileiras no Japão, porém, é uma dificuldade: sem entender o idioma, muitas chegaram a ser consideradas autistas pelos professores japoneses.
As barreiras do idioma e da cultura criam dificuldades, mas também um mercado grande e rico: o de produtos e serviços em português. Diferente do que ocorre em muitos países, a grande maioria dos brasileiros no Japão estão legalizados, têm acesso a crédito e poder aquisitivo não muito distante dos nativos.
Há, no país, pelo menos 20 colégios particulares com aulas em português, que emitem diplomas reconhecidos pelo MEC no Brasil. E até uma Associação das Escolas Brasileiras no Japão, que contabiliza 4.000 alunos.
"Mas quem não vai à escola brasileira enfrenta dificuldades para se integrar no sistema japonês. As crianças não sabem como as coisas funcionam, não entendem os professores, nem os colegas. Então fizemos uma edição explicando essas coisas. A primeira tiragem eu paguei do meu bolso. Mas repercutiu bem e lançamos versões em inglês e espanhol para ajudar crianças de outras nacionalidades, com financiamento de governos e empresários", explicou Maurício.
"Além de orientar as crianças, queremos tornar os personagens mais conhecidos no Japão”, disse Mauricio ao lado de diplomatas brasileiros no Japão.
Estudantes de escolas brasileiras no país foram convidados para o lançamento em Tóquio. Muitos viajaram do interior do país para participar do evento, que contou com a presença de atores fantasiados com roupas dos personagens.
“Foi maravilhoso, um sonho realizado, porque ele influenciou muito a minha infância. Valeu a pena a viagem”, diz Beatriz Sayuri Hassegawa, 15.
"O contato com as crianças aqui é emocionante. Um garoto veio pedir autógrafos para os gibis, chorando, ele nasceu no Japão e aprendeu português em casa, com os pais, e também lendo as historinhas da Turma da Mônica", diz Mauricio.
Integração
Apesar de separados por quase 20 mil quilômetros de distância e por culturas bastante diferentes, os países compartilham há mais de um século uma história de vaivém populacional: em 1908, aportou em Santos o Kasato Maru, navio com a primeira leva de japoneses que imigrou para o Brasil. Em 1990, o Japão começou a receber brasileiros filhos, netos e bisnetos dos imigrantes japoneses.
Essa história da vida real funciona como pano de fundo da trama de Mônica, Magali, Cebolinha e Cascão, com direito a quimono e tudo, no Japão.
“O Japão para mim é um novo planeta. Mas não estou descobrindo agora. Tenho vindo, negociado muito e chegou o momento da explosão”, disse Mauricio de Sousa ao UOL.
Além dos quadrinhos, a Turma da Mônica está no Japão há alguns anos com produtos licenciados. O personagem Horácio estampa uma embalagem de cebolinha --o vegetal, não o personagem-- muito consumida na culinária japonesa. Um dos maiores produtores da verdura no país é um brasileiro.
A Turma da Mônica também é associada a frios, modem portátil com wi-fi para turistas e refrigerante à base de guaraná.
Os produtos deixam de focar no consumidor brasileiro no Japão e começam a ganhar popularidade também entre os japoneses, com embalagens traduzidas para o idioma local.
“A abertura da empresa do Mauricio no Japão é exatamente o que precisamos para equilibrar a presença japonesa lá no Brasil e a presença brasileira aqui. Só temos que agradecer a ele a essas duas dimensões”, afirmou João de Mendonça Lima Neto, cônsul do Brasil em Tóquio.
Além das historinhas com temática nipo-brasileira, a Turma da Mônica também já ensaia os primeiros passos nos mangás locais. Mauricio de Sousa firmou parceria com a editora TezuComi, da família do famoso cartunista Osamu Tezuka, de quem Mauricio era amigo.
Com a parceria, há histórias em que personagens de Mauricio de Sousa convivem com os de Osamu Tezuka, publicadas nos dois idiomas.
"Vamos testando a aceitação dos produtos, dos personagens, e acho que a última etapa vai ser um processo natural: o lançamento dos gibis da Turma da Mônica no Japão", disse Mauricio.
Nascido em Santa Isabel, na Grande São Paulo, Mauricio de Sousa morou em Mogi das Cruzes, cidade paulista com grande presença japonesa. Em 2013, o desenhista ganhou uma honraria emitida pelo imperador do Japão, a 'Ordem do Sol Nascente, Raios de Ouro com Roseta', concedida a quem contribui pela divulgação da cultura japonesa.
Mauricio é casado com uma descendente de japoneses, Alice Takeda, com quem tem três filhos.
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