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Militares e diplomatas veem precipitação de Guaidó; governo mantém cautela

Chefe do GSI (Gabinete de Segurança Institucional), general Augusto Heleno - 13.abr.2019 - Aloísio Maurício/Fotoarena/Estadão Conteúdo
Chefe do GSI (Gabinete de Segurança Institucional), general Augusto Heleno Imagem: 13.abr.2019 - Aloísio Maurício/Fotoarena/Estadão Conteúdo

Leandro Prazeres

Do UOL, em Brasília

30/04/2019 19h29

Integrantes do governo Bolsonaro, entre eles militares e diplomatas, avaliam que o presidente autoproclamado da Venezuela, Juan Guaidó, se precipitou ao anunciar na manhã de hoje que tinha apoio de militares venezuelanos para derrubar o governo do ditador Nicolás Maduro.

Em meio ao cenário ainda indefinido, o governo adota um tom de cautela e aguarda os eventos das próximas 24 ou 48 horas para estudar o que fazer em relação ao país vizinho.

Na manhã de hoje, Guaidó postou um vídeo e fotos em redes sociais afirmando ter apoio de militares até então leais ao governo de Maduro. Ele estava ao lado do também opositor Leopoldo López, que fugiu da prisão domiciliar à qual estava submetido.

O anúncio de Guaidó gerou uma onda de protestos em Caracas e fez com que os militares brasileiros, o Itamaraty e a Abin (Agência Brasileira de Inteligência) iniciassem um monitoramento mais intenso do assunto.

O objetivo era avaliar qual o tamanho da adesão dos militares venezuelanos à oposição a Maduro, considerados pelo governo como o "fiel da balança" para o fim da crise venezuelana.

Militares ouvidos pelo UOL disseram que a sensação é que Guaidó teria se precipitado ao anunciar um apoio que, até o momento, ele ainda não tem.

"De manhã, a gente começou a monitorar a situação e havia a impressão de que o apoio era maior. No decorrer das horas, o que a gente percebeu é que o apoio é menor do que parecia e ainda insuficiente, pelo menos até agora, para um desfecho da situação", afirmou um militar do Exército que falou sob a condição de anonimato.

Um outro militar mencionou o fato de que esta não teria sido a primeira vez que Guaidó anunciou uma capacidade de articulação que não se comprovou.

A primeira ocasião teria sido em fevereiro. Após ter se autoproclamado presidente da Venezuela, Guaidó convocou a comunidade internacional a enviar ajuda humanitária ao país. A manobra foi vista como o primeiro grande teste do seu poder junto aos militares venezuelanos.

Maduro, no entanto, mostrou que ainda tinha controle da maior parte das Forças Armadas e fez com que os militares impedissem a entrada da ajuda.

No Itamaraty, comandado pelo chanceler Ernesto Araújo, diplomatas, em caráter reservado, também têm a impressão de que Guaidó tenha se precipitado.

"A situação ainda está muito instável, e as informações ainda estão muito conflitantes, mas o que sentimos é que houve uma precipitação nesse episódio. O apoio dos militares não parece ter a dimensão do que foi anunciado", disse um diplomata também sob anonimato.

Além da quantidade de militares dispostos a apoiar Guaidó, o que também vem chamando a atenção dos observadores brasileiros é a patente deles. O governo confirmou que 25 militares teriam pedido asilo à embaixada do Brasil em Caracas. As informações preliminares é que nenhum deles é do alto comando, o que indicaria pouca capacidade de mobilização de Guaidó em relação à espinha dorsal das Forças Armadas da Venezuela.

Oficialmente, governo adota cautela e reforça apoio a Guaidó

Um dos principais apoiadores de Guaidó, o governo brasileiro, oficialmente, continua mantendo o apoio ao líder oposicionista.

Questionado sobre se ele teria se precipitado, o chefe do GSI (Gabinete de Segurança Institucional), Augusto Heleno, disse que um eventual erro de Guaidó seria justificável.

"O anúncio dele foi em busca de apoio. Se você entra numa partida [de futebol] e diz que na sua torcida tem três caras, você já começa perdendo [...]. É natural que ele fizesse uma autopropaganda, perfeitamente válido. Já que estava acontecendo uma manifestação, ele tinha que tentar engrossar", disse o ministro.

O tom da nota oficial divulgada pelo Palácio do Planalto indicou que o governo continua monitorando a situação no país vizinho e reforçou o apoio a Guaidó.

"O Brasil acompanha com grande atenção a situação na Venezuela [...] exortamos todos os países, identificados com os ideais de liberdade, para que se coloquem ao lado do presidente encarregado Juan Guaidó na busca de uma solução que ponha fim na ditadura de Maduro", disse um trecho da nota.

Enquanto o cenário não se define, militares, diplomatas e agentes da Abin que estão na Venezuela continuam a fornecer informações a Brasília para que o governo monitore a situação.

O Brasil tem adidos militares do Exército, da Marinha e da Aeronáutica em Caracas. A informação que agentes da Abin estão na Venezuela foi confirmada hoje por Augusto Heleno.

Uma fonte ouvida pelo UOL afirmou que generais brasileiros acionaram os seus colegas venezuelanos para ter informações sobre o real tamanho do apoio deles a Guaidó. Ela disse que esse contato é constante e foi retomado hoje.

"Muitos deles já fizeram cursos aqui no Brasil. Nós também já viajamos para lá. Esse tipo de vínculo se mantém e esses canais já foram acionados para que a gente pudesse ter uma ideia melhor do que está acontecendo. Até agora, ainda não dá pra saber o tamanho desse apoio. Precisamos continuar monitorando a situação", afirmou.

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