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Com melhor formação que brasileiros, refugiados sofrem mais com desemprego

Omana Kasongo Ngandu Petench, refugiado da República do Congo, com seus filhos Steevana Wembonyama, Leticia Enungu Omana e Kevin Omana Kalema. Omana criou uma ONG para ajudar outros refugiados que chegam a São Paulo - Marcelo Justo/UOL
Omana Kasongo Ngandu Petench, refugiado da República do Congo, com seus filhos Steevana Wembonyama, Leticia Enungu Omana e Kevin Omana Kalema. Omana criou uma ONG para ajudar outros refugiados que chegam a São Paulo
Imagem: Marcelo Justo/UOL

Do UOL, em São Paulo

30/05/2019 10h00

Os refugiados que vivem no Brasil têm maior escolaridade e falam mais idiomas que os nativos, mas estão sofrendo mais com o desemprego, segundo uma pesquisa do Acnur (Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados), publicada nesta quinta-feira (30) em Brasília (DF).

Enquanto 34,4% dos refugiados entrevistados concluíram o ensino superior, esse índice é de 15,7% entre a população brasileira.

Além disso, 92,2% dos entrevistados declararam falar português (e interagiram com o entrevistador no idioma local), sendo que 203 deles não estudaram o idioma e 235 fizeram ou estão fazendo esse tipo de curso -- segundo o Acnur, foram excluídos desse cálculo os angolanos, cuja língua nativa também é o português.

No entanto, esse perfil "diferenciado" não tem facilitado a inserção laboral: enquanto a atual taxa de desemprego, calculada pelo IBGE, é de 12,5%, a proporção de desempregados entre os refugiados é de 19,5% -- sem considerar os 5,7% que estão desocupados, ou seja, não estão empregados nem procurando emprego.

Além disso, dentre os 462 refugiados informantes, 68,2% não utilizam suas habilidades profissionais nos atuais trabalhos contra apenas 31,8% que as utilizam.

Segundo o Acnur, esse dado pode estar revelando falta de informações ou de oportunidades. "Porém, pode ser explicado pelo baixíssimo número daqueles que conseguiram revalidar seus diplomas, apenas 14 casos", diz o resumo.

As dificuldades para encontrar emprego foram atribuídas ao "mercado de trabalho" por 46,1%, mas "a falta de domínio do idioma" e o fato de ser estrangeiro também foram citados.

Homens, negros e islâmicos: quem são os refugiados no Brasil

  • 59% se definiram como pretos (46%) e pardos (13%) -- a maioria é de congoleses; 40% se declararam brancos -- a maioria é de sírios;
  • 88,2% têm entre 18 e 49 anos;
  • 47% são homens, 22,4% mulheres, 26,8% não informaram o gênero; duas pessoas se declaram trans e duas definiram como "outros";
  • 46,3% são casados, 43,2% solteiros e 10,5% viúvos ou divorciados;
  • Quatro países concentram 71% da amostra: Síria, República Democrática do Congo, Angola e Colômbia;
  • 95% dizem professar alguma religião; deles, 34,6% é islâmico, 24,6% é evangélico e 16%, católico.

A pesquisa é amostral, e foram entrevistados 487 refugiados em 14 cidades de oito estados: São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná, Rio Grande do Sul, Distrito Federal, Santa Catarina, Minas Gerais e Amazonas, que concentram 94% dos refugiados. O trabalho de campo foi realizado entre os dias 13 de junho de 2018 e 20 de fevereiro de 2019, por oito equipes.

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