Com melhor formação que brasileiros, refugiados sofrem mais com desemprego
Os refugiados que vivem no Brasil têm maior escolaridade e falam mais idiomas que os nativos, mas estão sofrendo mais com o desemprego, segundo uma pesquisa do Acnur (Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados), publicada nesta quinta-feira (30) em Brasília (DF).
Enquanto 34,4% dos refugiados entrevistados concluíram o ensino superior, esse índice é de 15,7% entre a população brasileira.
Além disso, 92,2% dos entrevistados declararam falar português (e interagiram com o entrevistador no idioma local), sendo que 203 deles não estudaram o idioma e 235 fizeram ou estão fazendo esse tipo de curso -- segundo o Acnur, foram excluídos desse cálculo os angolanos, cuja língua nativa também é o português.
No entanto, esse perfil "diferenciado" não tem facilitado a inserção laboral: enquanto a atual taxa de desemprego, calculada pelo IBGE, é de 12,5%, a proporção de desempregados entre os refugiados é de 19,5% -- sem considerar os 5,7% que estão desocupados, ou seja, não estão empregados nem procurando emprego.
Além disso, dentre os 462 refugiados informantes, 68,2% não utilizam suas habilidades profissionais nos atuais trabalhos contra apenas 31,8% que as utilizam.
Segundo o Acnur, esse dado pode estar revelando falta de informações ou de oportunidades. "Porém, pode ser explicado pelo baixíssimo número daqueles que conseguiram revalidar seus diplomas, apenas 14 casos", diz o resumo.
As dificuldades para encontrar emprego foram atribuídas ao "mercado de trabalho" por 46,1%, mas "a falta de domínio do idioma" e o fato de ser estrangeiro também foram citados.
Homens, negros e islâmicos: quem são os refugiados no Brasil
- 59% se definiram como pretos (46%) e pardos (13%) -- a maioria é de congoleses; 40% se declararam brancos -- a maioria é de sírios;
- 88,2% têm entre 18 e 49 anos;
- 47% são homens, 22,4% mulheres, 26,8% não informaram o gênero; duas pessoas se declaram trans e duas definiram como "outros";
- 46,3% são casados, 43,2% solteiros e 10,5% viúvos ou divorciados;
- Quatro países concentram 71% da amostra: Síria, República Democrática do Congo, Angola e Colômbia;
- 95% dizem professar alguma religião; deles, 34,6% é islâmico, 24,6% é evangélico e 16%, católico.
A pesquisa é amostral, e foram entrevistados 487 refugiados em 14 cidades de oito estados: São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná, Rio Grande do Sul, Distrito Federal, Santa Catarina, Minas Gerais e Amazonas, que concentram 94% dos refugiados. O trabalho de campo foi realizado entre os dias 13 de junho de 2018 e 20 de fevereiro de 2019, por oito equipes.
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