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10 vezes em que Eduardo Bolsonaro foi antidiplomático

Talita Marchao

Do UOL, em São Paulo

04/09/2019 04h00

O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) foi recebido às pressas na Casa Branca na semana passada em uma visita para, segundo o governo brasileiro, agradecer ao presidente dos EUA, Donald Trump, por ter apoiado o país no G7, durante a crise internacional provocada pelas queimadas na Amazônia.

O encontro, entretanto, foi interpretado como uma espécie de recado para os senadores responsáveis por sabatiná-lo e por aprovar sua indicação a embaixador nos EUA: o filho do presidente Jair Bolsonaro teria trânsito livre com o clã Trump.

A proximidade de Eduardo com a família do presidente americano foi um dos atributos citados para compensar a falta de experiência em diplomacia no comando da principal embaixada brasileira no exterior —além de ter 35 anos, feito intercâmbio no país e fritado hambúrguer.

Apesar de toda a polêmica em torno do nome de Eduardo e da aprovação dada pelo governo americano ao agremént —o pedido para que alguém possa assumir a embaixada no país—, a indicação ainda não foi publicada no Diário Oficial. Segundo pesquisa Datafolha, 70% dos brasileiros são contra a indicação.

O UOL selecionou algumas declarações do 03 que sinalizariam a sua inexperiência ou falta de tato diplomático para lidar com questões de política externa.

Quem vive ilegalmente fora é vergonha para o Brasil

Após evento com o ex-estrategista de Donald Trump Steve Bannon, Eduardo afirmou que "um brasileiro ilegalmente fora do país é problema do Brasil, isso é vergonha nossa". Ele lembrou ainda os casos de Rodrigo Gularte, executado na Indonésia em 2015 por tráfico de drogas, e de Marcos Archer, morto no país pelo mesmo crime.

"Eu fiquei com vergonha, poxa. Até porque, além de tudo, colocou droga dentro da prancha de surfe. Outro botou droga dentro de asa-delta. A gente não tem que ver com orgulho, não. Tem que ver com vergonha", disse.

O comentário despertou críticas da comunidade brasileira vivendo no país. Segundo dados do governo americano, o Brasil ocupava o sexto maior grupo de estrangeiros deportados no ano passado

Macron, o idiota e moleque

Em meio às críticas do presidente da França, Emmanuel Macron, à gestão ambiental do governo Bolsonaro, o deputado qualificou o chefe de Estado francês como moleque. "Acho que o termo molecagem ficou até barato", disse Eduardo, ao acusar Macron de exagerar na questão das queimadas "para ter ganhos políticos".

Antes, ele ainda compartilhou um vídeo no Twitter em que Macron é chamado de idiota. Ao republicar o post do youtuber Bernardo Küster, o deputado escreveu: "Recado para o Emmanuel Macron".

Eduardo Bolsonaro diz que Macron fez "molecagem" contra o Brasil

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Uso da força para derrubar Maduro

Em entrevista ao jornal chileno La Tercera, Eduardo afirmou que "de alguma maneira vai ser necessário o uso da força na Venezuela" para que Nicolás Maduro deixe o poder. A afirmação foi feita em março, enquanto ele acompanhava o pai na visita oficial a Santiago.

Ele disse ao jornal que "ninguém quer uma guerra, a guerra é ruim. Haverá vidas perdidas e consequências colaterais, mas Maduro não vai sair do poder de maneira pacífica", disse. "De alguma maneira, será necessário o uso da força, porque Maduro é um criminoso", disse.

Posteriormente, ao ser questionado pelos jornalistas que acompanhavam a visita do pai presidente, Eduardo recuou, justificando que "o Brasil não pensa nisso". "O presidente e os generais que estão a cargo disso dizem que a intervenção militar não é uma opção."

Argentina vai virar a Venezuela

Em entrevista ao jornal argentino La Nación, o deputado afirmou que, "se Cristina Kirchner vencer as eleições, há o risco de que o país vizinho se torne a nova Venezuela". A afirmação foi feita em maio, antes de a chapa de Cristina, como vice, e seu candidato à Presidência, Alberto Fernández, vencerem as prévias eleitorais com folga, sinalizando uma provável derrota do presidente Mauricio Macri nas urnas.

Sai da Venezuela para ter filho no Brasil e ganhar Bolsa Família

Em visita à fronteira do Brasil com a Venezuela, em maio deste ano, Eduardo criticou a lei de migração brasileira. "A autoridade que trabalha aqui na fronteira para o Brasil não tem qualquer poder para conseguir brecar uma migração, uma entrada no território nacional. Ele é obrigado a aceitar todo mundo, bastando que a pessoa se diga refugiada", diz o deputado.

"É uma lei que dá benefícios assistencialistas aos estrangeiros, como se nós, brasileiros, tivéssemos a obrigação de ser provedores do mundo inteiro. Quando o estrangeiro chega ao Brasil, recebe alguns benefícios assistencialistas, algumas bolsas. Não tem a menor necessidade de ele ter que, previamente, ter contribuído para receber este tipo de benefício. O que acontece aqui em Pacaraima? A pessoa sai da Venezuela, entra aqui para ter o filho, só para que o filho nasça brasileiro, e passa a ter direito ao Bolsa Família. É um atrativo para que as pessoas venham para cá", disse o deputado.

A Venezuela hoje vive uma crise sem precedentes, com o colapso completo do sistema de saúde, sem medicamentos e atendimentos médicos precários. O Brasil, em suas participações do Grupo de Lima —criado por países da região para encontrar uma saída democrática para a crise venezuelana—, comprometeu-se a acolher os refugiados do país vizinho.

Doação para a Igreja da Natividade é para terroristas

No ano passado, depois da vitória do pai nas urnas, Eduardo afirmou que a doação de R$ 700 mil para a obra de restauração da Basílica da Natividade, no território palestino da Cisjordânia tinha "sérios riscos de ir parar em grupos terroristas da região".

A Igreja foi erguida em Belém no século 4º no local onde, segundo a tradição cristã, Jesus Cristo nasceu. Na ocasião, o embaixador palestino no Brasil, Ibrahim Albezen, lamentou a fala do filho de Bolsonaro, afirmando que cuidar "da cristandade na terra palestina deve ser um dever de todos os cristãos e de toda a humanidade, independentemente de credo".

Nazismo não é de direita, mas sim de esquerda

A frase equivocada ganhou notoriedade neste ano, em meio às afirmações polêmicas do chanceler Ernesto Araújo. Mas, em 2015, Eduardo afirmou que a "maioria das pessoas acredita que o nazismo foi fruto da extrema-direita fascista, graças a um discurso bem orquestrado e repetitivo da nossa mídia esquerdista. O nazismo jamais poderia ser considerado de direita, pois para isso precisaria ser a favor do liberalismo econômico, do capitalismo e do Estado reduzido, e isso nunca aconteceu".

Eduardo argumenta que a nacionalização e a divisão compulsória de lucros são "coisa da esquerda", associando com a política nacional-socialista —como a União Soviética, que defendia educação e saúde para todos, por exemplo. A associação de que o nazismo é um movimento de esquerda é equivocada.

Diplomacia sem armas é música sem instrumentos

Em evento da Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional da Câmara, que é presidida por Eduardo, o deputado disse que "diplomacia sem armas é como música sem instrumentos", atribuindo a frase ao rei Frederico 2º, da Prússia. Para Eduardo, "diplomacia e defesa são faces da mesma moeda. Instrumentos de exercício da soberania nacional e da garantia da autonomia em nosso relacionamento externo".

Eduardo defende cargo na embaixada

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Ele comparou ainda que "tanto para o diplomata quanto para o soldado, o cenário com que se defrontam é imprevisível e instável. As ameaças são difusas e invisíveis".

Eduardo não tem nenhuma formação diplomática. É formado em direito e atuou como policial federal.

Amazônia é mulher bonita para quem querem pagar um drinque

Já afirmou que o Brasil, ao aceitar as doações do Fundo Amazônia, estaria se "prostituindo".

Também comparou a maior floresta do mundo a uma mulher. "A Amazônia, essa mulher tão bonita, o outro cara vai lá, pisca para ela, quer pagar um drinque para ela, não posso achar que esse drinque está sendo pago de graça, né?", disse o deputado. "Aqui quem manda somos nós."

Hezbollah não é partido político, é terrorista

Eduardo afirmou desconhecer "argumentos plausíveis que justifiquem considerar o grupo terrorista Hezbollah como partido político". Segundo ele, "essa questão do Hezbollah envergonha o Brasil no exterior. Temos que mudar essa realidade o quanto antes".

O Hezbollah —Partido de Deus, na tradução do árabe— é, ao mesmo tempo, uma milícia e uma organização social, além do partido político (com cadeiras no Parlamento libanês). É considerado grupo terrorista pelos EUA e pela Arábia Saudita, ambos fortes críticos do Irã, aliado histórico do Hezbollah. A Alemanha considera o braço militar como terrorista, mas não a parte civil. O Brasil considera como terroristas os mesmos grupos que a ONU (Organização das Nações Unidas), como o Estado Islâmico e a Al-Qaeda.