Vacinas e 'cadeia' do frango podem aumentar comércio entre árabes e Brasil
Resumo da notícia
- Bolsonaro termina hoje tour por cinco países de Ásia e Oriente Médio
- Presidente foi atrás de investimentos e de melhora nas relações comerciais
- Fundo soberano da Arábia Saudita vai investir US$ 10 bi no Brasil
- Para chefe da Câmara de Comércio, exportação precisa de alternativa a carne
O presidente Jair Bolsonaro (PSL) termina hoje na Arábia Saudita seu tour por cinco países da Ásia e do Oriente Médio em busca de negócios e investimentos. Foi na capital Riad que o governo brasileiro anunciou ontem o principal resultado concreto da viagem oficial: o fundo soberano árabe vai investir US$ 10 bilhões no Brasil.
Ainda não se sabe onde, nem quando, deve ser investido o dinheiro, mas a expectativa é que projetos de infraestrutura e agronegócio tenham prioridade.
Na cidade, onde deve encontrar nesta quarta o rei, Bolsonaro afirmou que seu principal objetivo é ampliar as exportações brasileiras, em especial na agropecuária.
O presidente da Câmara de Comércio Árabe-Brasileira, Rubens Hannun, diz enxergar com bons olhos o posicionamento do governo, mas afirma ser preciso que o Brasil explore melhor a variedade de produtos exportados e que invista em maior valor agregado para otimizar os negócios entre os dois países.
A Arábia Saudita é um dos maiores compradores de frango do Brasil. A proteína compõe a dieta diária dos sauditas. No entanto, o governo do país quer limitar a importação da carne para passar a produzi-la internamente. Na opinião de Hannun, o Brasil poderia focar em elementos necessários à cadeia de produção de carne de frango, e não apenas no abate e na venda do produto congelado.
"Já que eles vão trabalhar a autossuficiência, você tem oportunidades na complementaridade. Como é que fazem para alimentar o frango? O Brasil poderia vender mais grãos, alfalfa, germoplasmas e vacinas", diz.
Atualmente, uma das plantas dos maiores frigoríficos brasileiros, a BRF Foods, não consegue mais exportar carne de frango para a Arábia Saudita. A alternativa encontrada foi a abertura de uma fábrica no país. Além de lucrar com a linha de produção, a expectativa é que a empresa ganhe dinheiro exportando tecnologia e experiência do Brasil.
Segundo Hannun, o Brasil conseguirá manter o nível de competitividade se firmar parcerias estratégicas a médio e longo prazo com os árabes. Uma possibilidade aventada é o estabelecimento de uma linha marítima entre o Brasil e o Oriente Médio.
Hoje, o navio com a carga tem de passar pela Europa ou pela África até chegar à região, gerando mais custos e demora até destino final. A preocupação, porém, é que, por falta de parceria que crie um planejamento sólido, o navio acabe voltando bem mais vazio do que se fosse bem explorado.
Venda de vacina está no radar
A indústria farmacêutica brasileira também está de olho nas oportunidades sauditas. A Eurofarma pretende exportar mais remédios genéricos e realiza estudo sobre a viabilidade de abrir uma fábrica no país árabe.
O Instituto Butantan, por sua vez, quer aumentar o portfólio de vacinas na Arábia Saudita e também examina se vale abrir um laboratório local. A ideia é vender vacinas devido à peregrinação de milhares de muçulmanos todo ano para Meca e Medina, cidades sagradas para o Islã localizadas no país.
Todo cidadão que entra na Arábia Saudita precisa estar imune a uma série de doenças, como febre amarela, ou então se vacinar no país ao chegar.
Produtos que têm grande potencial de serem mais bem aproveitados pelos brasileiros incluem ainda cosméticos, roupas, móveis e pedras, de acordo com Hannun, que acompanhou, junto de empresários brasileiros, o giro de Bolsonaro pelo Oriente Médio.
O presidente da Câmara de Comércio Árabe-Brasileira classificou a relação entre brasileiros e árabes como "muito boa" e ressaltou a importância da visita de Bolsonaro.
"Os árabes dão muito valor ao contato pessoal. Percebem que o presidente e o Brasil estão respeitando, abrindo as portas. Pode ser um passo para incrementar a relação", afirmou.
Fora o agronegócio, a comitiva presidencial apresenta aos árabes projetos de privatização e concessão em infraestrutura e logística, como ferrovias e aeroportos, e produtos de alto valor agregado no setor de defesa.
Arestas aparadas
Questionado se a ideia de se transferir a embaixada do Brasil em Israel de Tel-Aviv para Jerusalém prejudicou os negócios com países árabes, Hannun afirmou que não, "porque não aconteceu mesmo".
Após críticas de árabes e empresários brasileiros preocupados com um eventual efeito negativo na balança comercial, o governo federal decidiu por somente abrir um escritório comercial em Jerusalém, sem status diplomático.
"Para o comércio não teve grande problema, tanto que estamos vendendo 13% a mais de janeiro a setembro deste ano em comparação com o ano passado. Mas também porque não aconteceu mesmo. Não teve efetividade. Ficamos preocupados porque achamos que havia risco de ter ruídos mais duradouros", disse Hannun.
A situação está resolvida, segundo ele, porque a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, visitou o Oriente Médio e acalmou os ânimos, além de Bolsonaro se mostrar sensível aos pleitos árabes em benefício do comércio dos dois países.
"Agora precisa ver como é que [a situação] caminha", afirmou Hannun.
*A jornalista viajou a convite do governo da Arábia Saudita.
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