"Parecia o fim do mundo", diz brasileira que vive em Beirute sobre explosão
Resumo da notícia
- Fumaça química causa tosse em brasileira que vive a 2,5 quilômetros do local onde ocorreram as explosões
- Moradores de prédio chegaram a pensar tratar-se de um terremoto
- País vive uma profunda crise econômica por conta da pandemia do novo coronavírus
"Beirute foi praticamente destruída, como se fosse a bomba de Hiroshima. Foi como se fosse dentro da minha casa a explosão, foi horrível. Logo em seguida entrou uma ventania estranha, quente, como se fossem gases, e foi derrubando tudo, inclusive eu fui levada por essa ventania. Quando passou, eu corri pra janela e vi as nuvens de poeira vermelha. Parecia o final do mundo", conta ao UOL a paulista Zilda Naves, 64, que vive em Beirute há 30 anos.
Com uma tosse marcante, ela diz nunca ter passado por algo como as explosões de hoje no porto da cidade, que deixaram dezenas de mortos e milhares de feridos. "Desculpa, é essa fumaça de produtos químicos que está entrando pela minha janela", diz ela, que mora a cerca de 2,5 quilômetros do local onde ocorreram as explosões.
Em comunicado, a embaixada dos Estados Unidos na cidade pediu que as pessoas usem máscaras e fiquem em casa após "relatos de gases tóxicos" liberados.
De acordo com a cúpula de segurança geral do Líbano, a explosão na zona portuária hoje foi causada por chamas em um armazém onde material altamente explosivo estava armazenado — inclusive nitrato de amônio, substância usada para a fabricação de explosivos e fertilizantes. O material havia sido confiscado de um navio. Aproximadamente 2,7 toneladas estavam no porto a caminho da África.
Naves diz que o país vive uma profunda crise econômica por conta da pandemia do novo coronavírus. Ela trabalhava na área do turismo e perdeu o posto assim que o vírus obrigou o país a fechar as portas, incluindo as fronteiras e aeroportos. A brasileira se mudou recentemente, saindo de um prédio que ficava mais próximo do local das explosões.
"Vi que lá as vidraças foram todas destruídas, me mostraram um vídeo. Fiquei assustadíssima", conta. "Agora estávamos com uma certa esperança de que a economia melhorasse, mas, com isso que aconteceu hoje, vai ser mais difícil."
Sinceramente, parecia uma bomba atômica, era gente gritando pelas ruas, gente saindo correndo."
Zilda Naves, brasileira que vive em Beirute
Segundo o Itamaraty, não há relatos de mortos brasileiros. Contudo, há informações de que a esposa do adido brasileiro estava próxima ao local e foi atingida por estilhaços.
"Pensei que era um terremoto"
Brasileiros que moram no Líbano têm em comum nos seus relatos a apreensão vivida nos momentos seguintes à explosão. Moradora de um bairro próximo à região central de Beirute, Romilda Carvalho Salman conta que ouviu um forte barulho seguido de um tremor de terra, o que fez com que ela e seus vizinhos pensassem que a cidade passava por um terremoto.
"Eu senti o tremor e vi todos os meus vizinhos descendo às pressas pelas escadas de incêndio. A situação foi horrível, já que não sabia onde era o foco daquele tremor e nem para onde correr", afirma.
Romilda, que mora no Líbano com o marido, também sofre com a dificuldade de comunicação com o Brasil. Sem sinal de internet e com acesso restrito à telefonia, muitos brasileiros têm colaborado para fazer com que as famílias da comunidade residente no país sejam tranquilizadas.
Outra brasileira moradora de Beirute, Lenni Ferreira estava em um táxi quando ouviu a explosão.
"Eu estava saindo do Centro de Beirute, dentro de um táxi, quando vi os estilhaços de vidro caindo por cima do carro. Sem saber o que acontecia, conforme o carro andava, eu e o motorista víamos mais destruição e pânico de pessoas nas ruas que corriam", conta Ferreira.
Foi o pior momento da minha vida
Lenni Ferreira, brasileira que mora em Beirute
De acordo com ela, tão angustiante quanto a sensação de não saber o que estava provocando aquela cena foi avistar de longe a fumaça vinda da região portuária da cidade.
"O motorista fez uma curva e chegamos em uma região com vista mais aberta de Beirute. Ao longe, vi a cortina de fumaça e imaginei que o foco da explosão tinha sido ali, a poucos quilômetros de distância. Logo pensei nas vidas que podiam ter se perdido."
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