Líder do Irã ameaça retaliação por morte de cientista e aumenta tensão
O líder supremo do Irã, o aiatolá Ali Khamenei, prometeu hoje retaliação pela morte do principal cientista nuclear do país, Mohsen Fakhrizadeh, aumentando a tensão na relação com Israel e outros países como os Estados Unidos.
Khamenei ainda prometeu continuar o trabalho de Mohsen Fakhrizadeh, que israelenses e outros governos acreditam ter sido o arquiteto de um programa secreto iraniano para fabricar armas.
Khamenei, que é a autoridade máxima do Irã e que diz que o país nunca procurou armas nucleares, chamou Fakhrizadeh de "o mais proeminente e distinto cientista nuclear e defensivo do país".
Ele ainda disse que a primeira prioridade do Irã após o assassinato era "a punição definitiva dos perpetradores e daqueles que a ordenaram". Ele não deu mais detalhes.
O assassinato de ontem, que o presidente do Irã rapidamente atribuiu a Israel, pode complicar os esforços do presidente eleito Joe Biden para reviver uma distensão com Teerã que foi forjada quando ele estava no governo de Barack Obama.
Trump tirou Washington do pacto nuclear internacional de 2015 acordado entre Teerã e as principais potências.
Fakhrizadeh, que tinha pouco perfil público no Irã, mas que Israel apontou como um ator principal no que diz ser a busca por armas nucleares, foi morto ontem quando foi emboscado perto de Teerã e seu carro foi atingido por balas. Ele foi levado às pressas para o hospital onde morreu.
Presidente fala em "caos"
Mais cedo, o presidente iraniano, Hassan Rohani, acusou Israel de querer semear o "caos" em um crime que, segundo as autoridades de Teerã, deve ser "castigado".
"Mais uma vez, as impiedosas mãos da arrogância global, com o usurpador regime sionista como mercenário, foram manchadas com o sangue de um filho desta nação", afirmou Rohani em um comunicado oficial.
As autoridades iranianas utilizam a expressão "arrogância global" em referência aos Estados Unidos.
"A nação iraniana é muito inteligente para cair na armadilha da conspiração dos sionistas. Estão pensando em criar o caos, mas deveriam saber que conhecemos suas intenções e não terão êxito", disse Rohani, minutos depois da publicação do comunicado, em um discurso exibido na televisão.
Rohani se comprometeu a impedir que a morte de Fakhrizadeh prejudique os avanços científicos do país e disse que o assassinato do especialista foi motivado pela "incapacidade" dos inimigos do Irã de impedir seu desenvolvimento.
"Os inimigos do Irã deveriam saber que a coragem do povo e das autoridades iranianas é tamanha que este ato criminoso não ficará sem consequências", disse Rohani, em uma reunião semanal dedicada à luta contra a pandemia do coronavírus.
O programa nuclear iraniano
O cientista assassinado havia sido apontado pelo primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, como o pai do programa iraniano que tem como objetivo produzir a bomba nuclear, intenção que o Irã sempre negou.
O Departamento de Estado americano indicou em 2008 que Fakhrizadeh executava "atividades e transações que contribuíam para o desenvolvimento do programa nuclear do Irã".
"Este assassinato bárbaro mostra que nossos inimigos vivem semanas difíceis nas quais sentem (...) que sua pressão diminui, que a situação mundial muda", afirmou Rohani.
Os inimigos do Irã "querem aproveitar ao máximo (...) estas semanas para criar uma situação incerta na região", completou, sem revelar detalhes.
O assassinato aconteceu a menos de dois meses da posse do democrata Joe Biden, vencedor das eleições de 3 de novembro, como presidente dos Estados Unidos.
Biden pretende modificar a política americana a respeito do Irã, depois que Donald Trump decidiu retirar de maneira unilateral o país do acordo internacional de 2015 sobre o programa nuclear iraniano. Washington restabeleceu a partir de então as sanções contra Teerã.
O movimento libanês pró-Irã Hezbollah criticou o assassinato do cientista, cometido nas palavras do grupo "por grupos criminosos e terroristas para impedir que a República Islâmica (...) preserve seus progressos científicos e sua independência política e intelectual".
Na sexta-feira, o ministro da Defesa do Irã, Amir Hatami, afirmou que o cientista assassinado teve um "importante papel nas inovações de defesa".
"Administrava a defesa nuclear e fazia um grande trabalho", completou, sem apresentar mais explicações.
Mohamad Javad Zarif, ministro das Relações Exteriores da República Islâmica, pediu à comunidade internacional o "fim das vergonhosas posições ambivalentes e a condenação do ato terrorista".
Vários cientistas especializados no programa nuclear iraniano foram assassinados nos últimos anos. Teerã responsabiliza sistematicamente a Israel por estas mortes.
Com informações da agência Reuters, AP e AFP
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