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Ele passou 38 anos na cadeia e só saiu após testemunha 'recontar' história

Walter Forbes ficou preso por quase 40 anos nos Estados Unidos - Reprodução
Walter Forbes ficou preso por quase 40 anos nos Estados Unidos Imagem: Reprodução

Do UOL, em São Paulo

17/12/2020 14h50

Walter Forbes é um homem livre desde 20 de novembro, após passar quase 40 anos na prisão. Curiosamente, quem o "salvou" foi a mesma testemunha que o ajudou a ser condenado em 1982.

Ele era um estudante em Michigan, nos Estados Unidos, quando se intrometeu em uma briga generalizada do lado de fora de um bar. No dia seguinte, um dos homens, Dennis Hall, atirou quatro vezes em Forbes como retaliação.

Segundo a CNN, Hall apareceu morto em casa após um incêndio, e Forbes foi condenado à prisão perpétua — ele disse na época que só soube da morte do sujeito pelo rádio.

Testemunha

Três meses após o incêndio, uma jovem prestou depoimento. Annice Kennebrew disse que viu Forbes e dois outros homens carregando botijões de gasolina vermelhos perto do prédio durante o incêndio, de acordo com documentos judiciais.

Realmente, os investigadores encontraram botijões no prédio — só que azuis. Enquanto ela descreveu que viu gasolina sendo derramada no exterior do edifício, os investigadores encontraram carbonização e evidências apenas no interior.

Ainda assim, um dos acusados passou no polígrafo e as acusações contra ele foram rejeitadas. Um segundo foi absolvido. Apenas Forbes foi condenado.

A polícia não deu muita atenção para o dono do prédio, David Jones, que recebeu o seguro dois meses após o incêndio que matou Hall. Além disso, outra testemunha contou que Jones pagou US$ 1.000 para que ela colocasse fogo no local.

Já em 1990, Jones não contestou um esquema de fraude contra um incêndio criminoso no condado de Livingston. Ainda assim, Forbes seguiu preso e o caso não foi revisto.

A mudança começou em 2010

Após 28 anos preso, a defesa de Forbes recorreu ao Michigan Innocence Clinic, administrado por advogados e estudantes da Universidade de Michigan, que voltou a investigar o caso em 2010.

"Precisávamos de duas coisas: falar com a testemunha e ver qual era sua história. Também sabíamos que havia um outro suspeito desde o início neste caso", disse o advogado de defesa Imran Syed, em entrevista à CNN.

Annice Kennebrew,que tinha 19 anos na época, desta vez, contou que foi ameaçada para que incriminasse Forbes.

"Dois homens ameaçaram matar meus filhos, pais e irmãos se eu não denunciasse à polícia e testemunhasse no julgamento. Eu tinha que falar que vi Walter Forbes e os outros dois homens atearem fogo", disse Kennebrew, em uma declaração juramentada de 2017.

"Tudo o que eu disse à polícia e tudo o que testemunhei no julgamento em relação ao meu testemunho do início do incêndio foi uma invenção", continuou a declaração. "Pelo que eu sei, Frobes não teve nada a ver com este crime."

Mesmo assim, Syed e Forbes encontraram resistência da Justiça. Foi apenas há poucos meses que o juiz rejeitou a condenação de Forbes e o promotor do condado entrou com uma moção para encerrar o caso.

Livre, Forbes disse que espera continuar o trabalho que começou, quando cumpria pena, com grupos de reforma prisional.

Já Syed tomou conhecimento do caso de Forbes quando era estudante de direito na Universidade de Michigan, trabalhando na Michigan Innocence Clinic, e apontou que o caso demorou muito para ser resolvido.

"Não é tão complicado. Não é um caso de DNA. Não é um caso de ciência forense. É bastante simples", disse Syed. "É muito triste que tenha demorado 38 anos."