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Posse de Biden: O que muda na política internacional dos EUA

Joe Biden assume a Casa Branca e sucede Donald Trump na Presidência dos EUA - Drew Angerer/Getty Images
Joe Biden assume a Casa Branca e sucede Donald Trump na Presidência dos EUA Imagem: Drew Angerer/Getty Images

Guilherme Castellar

Colaboração para o UOL, no Rio

20/01/2021 04h00

A Presidência de Joe Biden, que tem início hoje, terá ao menos um ponto em comum com a de Donald Trump: a promessa de desfazer boa parte das políticas implementadas pelo seu antecessor.

Ao longo dos quatro anos na Casa Branca, o republicano Trump se esforçou para anular muitas decisões do democrata Barack Obama. "Biden assume indicando que vai fazer o processo inverso: desmontar o desmonte de Trump", resume Leonardo Paz Neves, pesquisador do Núcleo de Prospecção e Inteligência Internacional da FGV (Fundação Getúlio Vargas).

Biden sempre se posicionou como antagonista de Trump, apesar do discurso de que irá tentar a união dos Estados Unidos. Especialistas esperam algumas guinadas dos EUA tanto em questões domésticas quanto internacionais. Veja a seguir os principais pontos:

O foco de Biden em seus cem primeiros dias de governo será fortemente doméstico. Em especial para o combate à pandemia, a recuperação da economia e a crise institucional criada por Trump ao não reconhecer as eleições e incitar uma revolta entre seus apoiadores.
Felipe Loureiro, professor e coordenador do curso de relações internacionais da USP

Pandemia e economia

"A primeira mudança mais significativa de Biden será no combate à covid-19", aponta Loureiro. Enquanto Trump minimizou a doença, Biden terá uma atuação mais amparada em valores científicos. Vai promover testes em massa, apoiar o isolamento social e o uso de máscara.

Biden anunciou um pacote de US$ 1,9 trilhão (R$ 10 trilhões) para combater a doença e seu impacto na economia e na vida das famílias. O valor é quase o mesmo que foi aprovado pelo Congresso, com apoio de Trump, no início da pandemia, em março. Mas Biden disse que deve apresentar uma segunda proposta legislativa mais ambiciosa, com reformas estruturais para ajudar o país a se recuperar.

Energia verde

Biden deve retomar "políticas verdes" de Barack Obama, como a sobretaxação de empresas que atuam com fontes de energia mais poluentes, por exemplo os combustíveis fósseis, e a concessão de facilidades para companhias que investem em energia sustentável, como a eólica.

Em seu mandato, Trump foi pelo caminho inverso: reduziu gradativamente os impostos de empresas de combustíveis fósseis. Biden prometeu revogar essas medidas nos primeiros cem dias de seu governo.

Impostos para os mais ricos

Biden pretende inverter a política tributária republicana de cortes de impostos para os mais ricos. Em 2017, Trump cortou de 39,6% para 37% o imposto de quem tem renda superior a US$ 500 milhões. Entre as empresas, foi de 35% para 21%.

Na campanha, Biden prometeu reverter as taxas dos mais ricos para o patamar anterior e elevar o imposto para empresas para 28%.

Imigração

Com um discurso xenófobo, Trump perseguiu duramente os imigrantes ilegais na fronteira com o México, a ponto de separar famílias sem documentação. Os pais chegaram a ser deportados enquanto os filhos ficavam sob custódia dos EUA.

Biden se comprometeu a montar uma força de trabalho para reunir essas famílias. Também é esperada a regulamentação dos 10 milhões de imigrantes que vivem em situação ilegal nos EUA.

Pressão contra o México

"Contraditoriamente, a relação dos EUA com o México pode ter mais rusgas com Biden do que com Trump", afirma Loureiro. "Trump e o presidente mexicano, Lopes Obrador, construíram uma relação até bastante pragmática, apesar de todo o discurso racista e xenófobo do americano contra os mexicanos."

O México foi mais duro com a imigração para os EUA, enquanto estes respeitaram a soberania mexicana no que se refere à regulação ambiental (o México é grande consumidor de gás e petróleo) e trabalhista. Com Biden, a pressão dos EUA nessas questões pode mudar.

China e 5G

"A China é um tema ao qual tanto Biden quanto Trump possuem um pouco mais de convergência", afirma Neves, uma vez que ambos países são competidores comerciais.

Biden não deve voltar atrás na ofensiva americana contra a Huawei e a implementação internacional da tecnologia de telecomunicações 5G. "É uma questão estratégica para os EUA."

A diferença é que a guerra comercial deve mudar de tom. "Com Biden, as negociações vão voltar aos canais normais de diplomacia. Enquanto o Trump usava o Twitter para fazer ataques", diz Neves.

Diplomacia com o Irã

"Biden deve gradativamente se reengajar diplomaticamente com o regime dos aiatolás para tentar retomar o acordo nuclear com o Irã", afirma o pesquisador da FGV. Firmado em 2015 por Obama, Trump retirou os EUA do acordo em 2018. Desde 2020, o Irã tem retomou o enriquecimento de urânio.

"Mas a reaproximação vai ser lenta, pois será preciso negociar com muitos países aliados. Mesmo com o Irã não será fácil, pois eles se sentem passados para trás pelos EUA."

Retomada de acordos internacionais

Em seus quatros anos da Casa Branca, Trump retirou os EUA em diversos acordos ou alianças internacionais, alegando que eles prejudicavam o país. Biden prometeu reverter o isolacionismo americano.

Deve desfazer a ordem do republicano que tiraria os EUA da OMS (Organização Mundial de Saúde) em 6 de julho deste ano.

O mesmo com o Acordo Climático de Paris, do qual na prática os EUA ainda não saíram, já que há uma moratória de quatro anos. Biden pretende também retomar o protagonismo aos EUA na OMC (Organização Mundial de Comércio) e superar as discordâncias na Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte).