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Peru: Castillo supera Fujimori por 44 mil votos; eleição depende da Justiça

Pedro Castillo fechou a eleição no Peru com 50,13% dos votos, superando Keiko Fujimori, que teve 49,87% - Ricardo Moreira/Getty Images
Pedro Castillo fechou a eleição no Peru com 50,13% dos votos, superando Keiko Fujimori, que teve 49,87% Imagem: Ricardo Moreira/Getty Images

Do UOL, em São Paulo

15/06/2021 20h04Atualizada em 15/06/2021 20h40

Com 100% das urnas apuradas, o candidato Pedro Castillo (Peru Livre) fechou as eleições presidenciais no Peru com 50,13% dos votos válidos, superando por 44.058 votos a adversária Keiko Fujimori (Força Popular), que alcançou 49,87%. O resultado ainda precisa ser confirmado pela Justiça eleitoral, que vai analisar pedidos para anulação de votos apresentados pelos dois lados.

A eleição teve início no último dia 6. Ao todo, segundo último balanço do ONPE (Escritório Nacional de Processos Eleitorais, na sigla em espanhol), Castillo teve 8.835.579 votos, contra 8.791.521 de Fujimori — mas a candidata de direita, filha do ex-ditador peruano Alberto Fujimori, contesta os números, e já acusou o processo de "fraude".

O JNE (Júri Nacional Eleitoral) começou a analisar nesta tarde as contestações — cinco do Força Popular e três do Peru Livre, segundo o jornal La República. Observadores da OEA (Organização dos Estados Americanos) já afirmaram que a eleição, que teve 74,5% de participação popular, correu sem "graves irregularidades".

Mais cedo, na sede do Peru Livre em Lima, Castillo disse a jornalistas que vai respeitar as autoridades eleitorais e pediu por uma rápida confirmação do resultado. Antes, ele já havia dito que não permitiria que seus rivais "quebrassem" a vontade do povo e tentassem reverter as eleições.

Não vamos permitir que um povo oprimido continue sendo discriminado por mais tempo. As coisas foram colocadas na mesa de maneira democrática, e precisa haver um caminho democrático para resolver.
Pedro Castillo (Peru Livre)

Tanto o ONPE quanto o JNE estão sob pressão dos setores mais radicais que apoiam Fujimori. Ontem, nas redes sociais, o almirante aposentado e parlamentar eleito Jorge Montoya pediu a anulação do pleito, dizendo que o sistema peruano — que o elegeu — não é confiável.

"[Precisamos de] Novas eleições com auditores internacionais durante todo o processo, nosso sistema eleitoral foi violado por dentro e por fora, já não inspira confiança. Os chefes do JNE e do ONPE devem renunciar aos seus cargos e assumir responsabilidades. O Peru é maior que seus interesses", escreveu.

Nas ruas, dezenas de fujimoristas realizam manifestações diárias em frente às casas dos chefes do ONPE, Piero Corvetto, e do JNE, Jorge Luis Salas, cujas residências estão agora sob custódia policial. Essa atitude foi denunciada pela comissária de direitos humanos da ONU (Organização das Nações Unidas), Michelle Bachelet, que também demonstrou preocupação com a tensão no Peru.

Quem é Pedro Castillo, possível novo presidente do Peru

Pedro Castillo - Sebastian Castañeda/Reuters - Sebastian Castañeda/Reuters
Imagem: Sebastian Castañeda/Reuters

Professor, Pedro Castillo, 51, saiu do anonimato há quatro anos, em 2017, como líder de uma greve nacional de professores que durou 80 dias. À época, irrompeu com um discurso de esquerda e a promessa de "não haver mais pobres em um país rico". Agora, ele quer se tornar o novo presidente do Peru.

Castillo nasceu em Puña, povoado do distrito de Chota, região norte de Cajamarca, onde viveu e trabalhou como professor em uma escola rural durante 24 anos. Ele é casado e tem três filhos. Sua esposa é evangélica, mas ele é católico.

Sua mistura de moral conservadora e reivindicações sociais por mudança se adaptou bem a um país onde a religião costuma ser um fator eleitoral. Ele está acostumado a citar passagens bíblicas quando apela à moralidade para justificar sua rejeição ao aborto, casamento homossexual e eutanásia.

Com um chapéu branco típico de Cajamarca, percorreu as regiões do Peru, até a cavalo, para obter votos.

"Castillo é uma espécie de Lula do campo, sem as habilidades sindicalistas do ex-presidente brasileiro, mas se mostra um bom comunicador", disse à AFP a jornalista e analista Sonia Goldenberg. "Ele é um candidato muito melhor do que Keiko Fujimori para transmitir emoções".

A proposta eleitoral do Peru Livre, seu partido, se baseia em uma tríade: saúde, educação e agricultura, setores prioritários para promover o desenvolvimento nacional, segundo Castillo. Também planeja convocar uma Assembleia Constituinte para redigir uma nova Constituição em seis meses para substituir a atual, que favorece a economia de livre mercado.

A Constituição de 1993 é um legado do governo de Alberto Fujimori (1990-2000), pai de Keiko, que se opõe a mudar a Carta Magna.

O Peru Livre é um dos poucos partidos de esquerda do país que defende o regime do presidente Nicolás Maduro. Castillo já anunciou que, se chegar ao poder, o país recuperará o controle de sua energia e riquezas minerais, como gás, lítio e ouro, agora sob controle de multinacionais. No entanto, não especificou como o fará.

(Com AFP e Reuters)