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Taleban diz que não abrigará grupos terroristas no Afeganistão

Do UOL, em São Paulo

17/08/2021 13h35Atualizada em 17/08/2021 14h07

O porta-voz do grupo fundamentalista Taleban Zabihullah Mujahid disse hoje que o solo do Afeganistão "não será usado contra ninguém", quando questionado sobre o risco de o país abrigar terroristas da Al-Qaeda ou outros grupos extremistas.

"O solo do Afeganistão não será usado contra ninguém. Podemos assegurar isso à comunidade internacional", afirmou Mujahid na primeira entrevista coletiva após o grupo tomar o poder, no último domingo.

As relações entre os dois braços do islamismo ultrarradical são muito próximas em vários aspectos.

Em 2001, o então presidente dos Estados Unidos George W. Bush liderou a invasão do Afeganistão para derrubar o regime taleban que protegia o então líder da Al-Qaeda, Osama bin Laden, depois dos atentados do 11 de Setembro, nos EUA. Os ataques deixaram 2.977 mortos.

O porta-voz, que aparece pela primeira vez diante das câmeras, disse ainda que o grupo não quer nenhum inimigo e que perdoa "todos aqueles que lutaram contra nós". Segundo o grupo, "a guerra afegã acabou".

"Queremos assegurar que o Afeganistão não seja mais um campo de batalha. Perdoamos todos aqueles que lutaram contra nós, as animosidades acabaram. Não queremos inimigos externos nem internos", disse.

Após ter retomado o comando do país, o Taleban vem tentando vender uma imagem de "moderado" para facilitar seu reconhecimento pela comunidade internacional.

Apesar disso, essa imagem de moderação ainda é vista com ceticismo tanto pela comunidade internacional como internamente.

O Afeganistão caiu nas mãos dos talebans após uma ofensiva meteórica, antes mesmo do fim do prazo estabelecido pelo presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, para a retirada dos últimos soldados americanos em 31 de agosto.

Agora, os Estados Unidos tentam retirar seus cidadãos e os afegãos que trabalharam para as Forças Armadas americanas. Ontem, Biden, advertiu os talebans a não interromperem, nem ameaçarem a evacuação dos milhares de diplomatas americanos e tradutores afegãos. A resposta a qualquer ataque seria "rápida e contundente", disse ele.

Muitos afegãos temem que os talibãs imponham a mesma versão ultrarrigorosa da lei islâmica adotada quando governaram o país entre 1996 e 2001.

Formação do governo

O porta-voz disse ainda que o grupo está trabalhando "seriamente" na formação do governo.

O vice-líder e cofundador do Taleban, Abdul Ghani Baradar, retornou para o Afeganistão hoje, dois dias depois da tomada de Cabul.

Cotado como próximo presidente do Afeganistão, Baradar fundou o Taleban com o mulá Mohammed Omar em 1994 e virou um dos principais expoentes do movimento extremista.

Mujahid disse ainda que o grupo não quer que ninguém saia do país e que afegãos que trabalharam para potências estrangeiras "não serão perseguidos".

Imagens de multidões nas pistas do aeroporto em Cabul ontem chocaram o mundo. Centenas de pessoas corriam tentando alcançar aviões que estavam prestes a decolar para fugir do país — algumas até tentaram se segurar a uma aeronave em movimento. Houve relatos de tiros e mortes.

'Orgulho' e papel das mulheres

Mujahid disse ainda tratar de um "momento de orgulho para a nação" e afirmou que as mulheres poderão trabalhar e estudar "dentro de nossas estruturas", conforme a sharia, a lei islâmica, sem dar detalhes sobre o que isso significaria na prática.

O Taleban impõe uma interpretação radical e estrita da lei islâmica que restringe severamente os direitos das mulheres.

Com o retorno do grupo ao poder, as afegãs temem perder os direitos sociais e econômicos que conquistaram nas últimas duas décadas.

Suhail Shaheen, também porta-voz do grupo, disse que as mulheres não precisarão usar burca na rua, mas ainda terão de utilizar o hijab, véu islâmico que deixa o rosto à mostra, ao sair de casa.

* Com Ansa e AFP