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Tomada de Cabul pelo Talibã completa uma semana com mortes e medo

Bebê sendo passado em frente ao muro do aeroporto de Cabul, no Afeganistão - Reprodução/Instagram
Bebê sendo passado em frente ao muro do aeroporto de Cabul, no Afeganistão Imagem: Reprodução/Instagram

Do UOL, em São Paulo

22/08/2021 17h08

A tomada de Cabul, capital do Afeganistão, pelo Talibã completa hoje (22) uma semana. Domingo passado (15), a cidade passou para o controle do grupo fundamentalista sem muita resistência. Desde então, cenas de medo e caos, principalmente dentro e nos arredores do aeroporto de Cabul, estão correndo o mundo.

Há o receio de represálias pelo Talibã às milhares de pessoas que colaboraram com os Estados Unidos durante os 20 anos de ocupação do Afeganistão. Além disso, teme-se um retorno a uma versão mais rígida da lei islâmica, aplicada pelo Talibã da última vez que esteve no poder, até outubro de 2001.

Ao longo da semana, 17 mil pessoas —sendo 2,5 mil americanos— já haviam sido evacuadas pelo aeroporto de Cabul, que está sob controle dos Estados Unidos, de acordo com um general americano. Outras 14 mil pessoas estavam no entorno do aeroporto no sábado (21), segundo a CNN.

Pelo menos 20 pessoas morreram nos últimos sete dias no aeroporto e em seus arredores. Alguns foram baleados por membros do Talibã. Outros morreram em meio aos tumultos. Sete afegãos morreram esmagados neste fim de semana, disse o Ministério da Defesa britânico.

Um dirigente do Talibã, Amir Khan Muttaqi, culpou os Estados Unidos pelo caos. "A América, com toda a sua potência, não conseguiu levar ordem ao aeroporto. Todo o país está em calma, o caos está apenas no aeroporto", disse. No restante do Afeganistão, no entanto, há diversos relatos de repressão do Talibã contra manifestantes e de buscas contra ex-colaboradores das forças de ocupação.

O Ministério das Relações Exteriores do Brasil informou que cinco brasileiros estão no Afeganistão. Dois deles manifestaram o desejo de deixar o país, mas ainda não há planos de evacuação.

Retorno após 20 anos

É a primeira vez desde outubro de 2001 que o Talibã volta a Cabul. O risco de que isso ocorresse já vinha sendo alertado por especialistas, que viam com apreensão a saída total das tropas americanas do Afeganistão, depois de 20 anos de ocupação. Em abril deste ano, o presidente americano Joe Biden anunciou que os Estados Unidos deixariam o país.

A saída das tropas americanas, somada à tomada de Cabul pelo Talibã, gerou desespero no Afeganistão. De acordo com o jornal The New York Times, mais de 300 mil civis afegãos ajudaram as forças americanas durante as duas décadas de ocupação americana. Essas pessoas agora temem retaliação por parte do Talibã —que, por sua vez, disse que irá anistiar quem colaborou com as forças estrangeiras.

Defensores dos direitos humanos, jornalistas e ativistas políticos também se consideram em posição vulnerável. Da última vez que o Talibã esteve no poder no Afeganistão, houve grande violação de direitos, principalmente das mulheres, que não podiam estudar, sair de casa sem acompanhamento de um homem da família, e eram condenadas a morte por apedrejamento em local público se fossem consideradas adúlteras.

Após a tomada de Cabul, o presidente do Afeganistão, Ashraf Ghani, deixou o país.

Civis tentam fugir pelo aeroporto de Cabul

O governo dos Estados Unidos tomou controle do aeroporto de Cabul. O país deve deixar totalmente o Afeganistão em apenas oito dias, até 31 de agosto. O prazo apertado vem sendo criticado pela Inglaterra, ex-aliada dos Estados Unidos na invasão do Afeganistão.

Em desespero, milhares de pessoas estão buscando entrar no aeroporto e, assim, tentar embarcar em um dos aviões que estão evacuando americanos e seus colaboradores.

"Não há ninguém mais importante para evacuar do que os cidadãos americanos, eu admito. Mas quase todos aqueles... Que realmente nos ajudaram são igualmente importantes", disse Biden, observando que os Estados Unidos estão "em contato permanente" com o Talibã para "garantir que os civis tenham acesso seguro ao aeroporto".

Cenas de dezenas de afegãos correndo ao lado de aviões, tentando se agarrar do lado de fora, rodaram o globo. Um dos vídeos mostra pessoas despencando de um avião já no ar.

Em 15 de agosto, um avião militar americano transportou 823 cidadãos afegãos, muitas vezes acima da capacidade máxima de passageiros. "Isso representa um recorde para esta aeronave", disse o comando do Pentágono.

Na quinta-feira (19), imagens de bebês afegãos sendo entregues a soldados americanos para serem retirados do país, sem acompanhamento dos pais, chocaram o mundo.