Topo

Esse conteúdo é antigo

Monte Etna: Corpo em caverna pode ser de jornalista desaparecido há 50 anos

Corpo encontrado em caverna pode ser o do jornalista Mauro de Mauro, desaparecido em 1970 - Reprodução/Wikimedia Commons
Corpo encontrado em caverna pode ser o do jornalista Mauro de Mauro, desaparecido em 1970 Imagem: Reprodução/Wikimedia Commons

Colaboração para o UOL, em Santos*

12/11/2021 12h53

Um corpo localizado recentemente por uma sonda em uma caverna no Monte Etna, na Itália, pode ser o do jornalista investigativo Mauro de Mauro, que desapareceu em 1970. Muitos acreditam que o profissional teria sido assassinado pela máfia por saber a verdade sobre o suposto assassinato do empresário do petróleo Enrico Mattei.

A filha do jornalista, Franca De Mauro, entrou em contato com a polícia depois de saber que o corpo tinha malformações na boca e no nariz, como as que seu pai tinha, devido a um ferimento durante a Segunda Guerra Mundial. Ela, entretanto, não reconheceu nenhum dos itens pessoais encontrados com o corpo e disse à polícia que não se lembrava de seu pai carregando um pente, como o encontrado na caverna.

Depois que Franca De Mauro se apresentou, promotores de justiça ordenaram, na quinta-feira (11), que comparações de DNA fossem realizadas. Em janeiro de 2014, um tribunal de apelações de Palermo absolveu Salvatore Riina, o chefe mais sangrento da Cosa Nostra, pelo assassinato de De Mauro.

Riina, que morreu na prisão em 2017, foi capturado em 1993 e cumpriu prisão perpétua por diversos crimes, incluindo os assassinatos dos juízes antimáfia Giovanni Falcone e Paolo Borsellino, em 1992. De acordo com o promotor Antonio Ingroia, Riina e dois outros membros da cúpula de mafiosos decidiram eliminar o jornalista em setembro de 1970, quando ele estava prestes a divulgar informações sobre a morte de Mattei, ocorrida oito anos antes, em um acidente de avião, em 1962, no norte da Itália.

Havia também um segundo motivo para se livrar de De Mauro, argumentou Ingroia. Graças às conexões fascistas do tempo de guerra, afirmou o promotor, o jornalista descobriu planos para encenar um golpe de Estado da extrema-direita, apoiado pela Máfia, em dezembro daquele ano. "A sentença de morte de De Mauro foi aprovada por causa de uma convergência de dois elementos", disse ele à agência de notícias italiana ANSA.

Jornalista tinha informações sobre morte de Mattei

De Mauro desapareceu da rua de casa, em Palermo, no dia 16 de setembro de 1970, enquanto fazia pesquisas para o filme de Francesco Rosi, 'Il Caso Mattei' (O Caso Mattei). O mais conhecido informante da máfia da Itália, o falecido Tommaso Buscetta, alegou que Mattei foi morto por ter irritado as maiores empresas de petróleo do mundo, ao firmar acordos no Norte da África, Rússia e Irã, que visavam tornar a Itália independente delas.

Uma investigação sobre o acidente de avião concluiu que ele foi causado por uma falha técnica, mas outra investigação, 30 anos depois, disse que uma bomba explodiu a bordo.

"De Mauro estava muito ocupado reunindo os elementos da trama e sua morte impediu que ela fosse descoberta", disse Ingroia ao tribunal. "O outro elemento convergente da sua morte foi o fato de conhecer, desde o início, o projeto subversivo de espiões, neofascistas e grupos mafiosos", para montar o chamado 'Golpe Borghese', afirmou o procurador.

Ingroia disse que as investigações revelaram um "encobrimento institucional" na investigação inicial sobre o desaparecimento de De Mauro. Uma investigação sobre esses supostos acobertamentos está em andamento.

Sucessor de Riina até sua prisão em 2006, Bernardo Provenzano, que morreu em 2016, também foi colocado sob investigação em um inquérito separado sobre o assassinato. O corpo de De Mauro nunca foi encontrado. Vários informantes contaram à polícia sobre supostos locais de sepultamento, mas os corpos recuperados não corresponderam ao DNA do jornalista.

*com informações de agências