Senado do Arizona aprova revogação de lei antiaborto de 1864

O Senado do Arizona votou a favor, nesta quarta-feira (1º), de revogar uma lei de 1864 que proíbe quase completamente o aborto, reinstalada no mês passado pela Suprema Corte deste estado, em meio a crescentes tensões políticas.

O resultado apertado, de 16 votos a favor e 14 contrários, foi possível graças ao apoio de dois senadores do Partido Republicano aos democratas nesta terceira tentativa de tornar sem efeito esta lei arcaica promulgada quando o Arizona ainda não era um estado e os Estados Unidos, então governados por Abraham Lincoln, eram cenário de uma Guerra Civil.

Durante a sessão houve choro, gritos e inclusive a reprodução do som das batidas do coração da filha de um senador republicano, que fez tocar o áudio para defender a proibição do aborto.

Shawnna Bolick, a republicana que fez a balança se inclinar a favor da revogação, justificou seu voto com uma longa fala sobre sua experiência pessoal, quando suas gestações se tornaram inviáveis.

"Esta lei do Arizona teria me deixado ter acesso a este procedimento médico, apesar de que naquele momento a minha vida não estivesse em perigo?", questionou Bolick, que foi vaiada várias vezes pelo público presente na Câmara.

Seu correligionário, Anthony Kern, defendeu a lei arcaica e criticou Bolick e o outro senador republicano que se juntou aos democratas, acusando-os de terem uma posição discricionária e comparando-os a oficiais da Alemanha nazista.

Nas redes sociais, a governadora democrata Katie Hobbs, que deve promulgar o projeto, se disse "feliz" com o resultado.

"Embora isto seja essencial para proteger a saúde das mulheres, é apenas o começo", disse.

Além disso, a procuradora-geral Kris Mayes qualificou a votação como "uma vitória para a liberdade no nosso estado".

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A votação no Senado ocorre uma semana depois de a iniciativa ser aprovada na Câmara dos Representantes do Arizona, também com o apoio de três deputados republicanos, que decidiram apoiar o projeto democrata.

- Em campanha -

A lei de 1864 proíbe o aborto em qualquer circunstância, exceto quando a vida da mãe correr risco. Não prevê exceções para gestações resultantes de estupro ou incesto.

A Suprema Corte do estado reinstalou esta lei em 9 de abril, em consequência das mudanças jurídicas sobre o acesso ao aborto nos Estados Unidos.

Em 2022, a Suprema Corte americana, de maioria conservadora, retirou a proteção para este direito reprodutivo, que esteve amparado por quase cinco décadas em nível federal, provocando uma série de ações em estados conservadores para proibir a interrupção voluntária da gravidez.

No Arizona, onde a maioria dos eleitores se declara favorável ao aborto, a medida gerou estupor e levou milhares de pessoas a se manifestarem nas ruas.

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O tema se tornou o eixo central da campanha do democrata Joe Biden para as eleições presidenciais de 5 de novembro, que disputará a reeleição contra Trump.

- 'Crise de saúde' -

"Donald Trump é o arquiteto desta crise de saúde no Arizona e no país", considerou, nesta quarta-feira, em nota, a vice-presidente Kamala Harris.

"Ele afirmou que se deveria permitir aos estados controlar o corpo das mulheres e 'puni-las'. E está disposto a ir além, proibindo o aborto em todo o país, com ou sem a ajuda do Congresso", acrescentou.

A impopularidade das medidas contra o aborto afeta os republicanos e obrigou Trump a abaixar o tom, no meio de sua campanha, para manter sua base religiosa sem afastar outros potenciais eleitores.

"Estou muito triste de que nosso Partido Republicano não se una sobre este ponto", disse o senador Kern.

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"Estamos impulsionando este projeto porque acreditamos que vai nos ajudar na próxima eleição. Bom, penso o contrário. Se nos unirmos a favor da vida, definitivamente venceremos a próxima eleição", assegurou.

Com a revogação desta lei, o Arizona mantém a legislação de 2022, que permite o aborto apenas nas primeiras 15 semanas de gestação.

Defensores do direito a interromper a gravidez coletaram assinaturas para convocar um referendo em novembro, que busca incluir o acesso ao aborto na Constituição estadual, e aumentar a janela legal do procedimento até as 24 semanas de gestação.

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