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EUA: Mortes por overdose passam de 100 mil em um ano pela 1ª vez no país

Fentanil preocupa autoridades médicas nos EUA. - Joe Amon/The Denver Post/GEtty Images
Fentanil preocupa autoridades médicas nos EUA. Imagem: Joe Amon/The Denver Post/GEtty Images

Weudson Ribeiro

Colaboração para o UOL, em Brasília

17/11/2021 14h16

Só nos 12 meses encerrados em abril deste ano, 100.306 pessoas morreram por overdose de drogas nos Estados Unidos, informou hoje o Centro de Controle e Prevenção de Doenças do país. Homens com idades de 25 a 54 anos são cerca de 70% desse total.

Os números representam aumento de 28,5% em relação ao mesmo período do ano anterior. Essa foi a primeira vez que as mortes por overdose nos EUA ultrapassaram a marca de 100 mil.

"A todas as famílias que choraram por um ente querido e a todas as pessoas que enfrentam o vício ou estão em recuperação: vocês estão em nossos corações", disse o presidente Joe Biden em comunicado divulgado hoje pela Casa Branca.

O médico Rahul Gupta, que chefia o Gabinete de Política Nacional de Controle de Drogas da Casa Branca, classificou o aumento das mortes por drogas como inaceitável. "Uma overdose é um grito de socorro. Para muitas pessoas, esse choro fica sem resposta. Isso requer uma resposta contundente do governo e estratégias baseadas em evidências", afirmou em entrevista a jornalistas.

Houve variações regionais nas contagens de mortes. O Estado de Vermont registrou aumento de quase 70% no número de óbitos por overdose. Grandes aumentos também foram observados em West Virginia (62%), Kentucky (55%), Louisiana (52%) e Tennessee (50%).

As mortes por overdose de drogas diminuíram em apenas quatro Estados: Delaware, New Hampshire, New Jersey e South Dakota. O Estado de Dakota do Sul teve redução de quase 20% nas mortes por overdose, a maior para o período.

Opioides preocupam

Mortes devido ao abuso de opioides —principalmente os sintéticos, incluindo fentanil— respoinderam por mais de 75% do total de óbitos por overdose. Mortes por causa do uso de psicoestimulantes, predominantemente metanfetamina, também aumentaram.

E, embora a crise de opioides tenha sido caracterizada como uma das que afetam principalmente os norte-americanos brancos, um número crescente de negros americanos também foi afetado no período.

Relatório separado do CDC, publicado em julho, concluiu que a combinação de covid-19 e mortes por overdose foi a razão pela qual a expectativa de vida em 2020 teve a maior queda no período de um ano desde a Segunda Guerra Mundial.

Os pesquisadores estimaram que o aumento nas mortes por acidentes ou lesões não intencionais —um terço das quais foram overdoses de drogas— foi responsável por 11% do declínio na expectativa de vida no país.

"O vício em opioides é uma condição crônica e recorrente de tal forma que o estresse ou o isolamento social e a incapacidade de acessar grupos de apoio podem ter provocado recaídas. A pandemia pode também ter dificultado o acesso ao tratamento para dependentes", disse Andrew Kolodny, diretor médico de pesquisa de política de opioides da Escola Heller de Política e Gestão Social em Brandeis Universidade.

O que é o fentanil

O CDC estima que o fentanil é 80 vezes mais potente que a morfina e centenas de vezes mais potente que a heroína. Classificado como medicamento de Classe II pelo governo norte-americano, seus usos médicos são geralmente para o tratamento da dor após cirurgia ou para dor crônica.

Agora comercializado sob as marcas Actiq, Duragesic e Sublimaze, o fentanil foi originalmente sintetizado por Paul Janssen em 1959 e introduzido em 1960 como um análogo estruturalmente relacionado à petidina (mais comumente conhecido como Demerol), que havia sido criado alguns anos antes. O meio original para o medicamento eram os cuidados paliativos.

A droga é administrada clinicamente de várias maneiras, incluindo uma forma de spray por via oral e um pirulito. Também pode ser tomado por via intravenosa ou inalado em pó, de forma semelhante à cocaína.

Apesar de sua potência e do fato de estar na categoria de drogas —junto com a morfina e o oxicontin— com o maior potencial de abuso e fatalidades, os médicos continuam a administrá-lo aos pacientes porque, ao longo do tempo, eles foram treinados para prescrever essa droga para a dor. Além disso, os pacientes que tomam opiáceos desenvolvem uma tolerância que os leva a prescrições de maior concentração.

Embora a Drug Enforcement Administration —órgão de polícia federal do Departamento de Justiça dos Estados Unidos encarregado pela repressão e controle de narcóticos— tenha registrado laboratórios ilícitos de fentanil ao longo dos anos 1980 e 1990, foi só na década de 2000 que o aparecimento da droga nas ruas aumentou significativamente.

O CDC relata que, de 2005 a 2007, houve um total de 1.013 mortes relacionadas ao fentanil nos EUA. No início dos anos 2000, a droga também inundou a Europa Oriental. A Estônia foi atingida de maneira particularmente dura; a certa altura, a droga estava matando mais pessoas que acidentes de trânsito.

Mais recentemente, em 2013, um análogo do fentanil nunca foi o motivo de por 14 mortes por overdose entre usuários de drogas em Rhode Island. Na maioria dos casos, a droga era misturada com cocaína, heroína ou outras drogas. Em agosto de 2015, uma onda de overdoses no oeste do Canadá estava ligada à droga, que estava sendo traficada por uma rota de drogas que ia da Colúmbia Britânica a Alberta e Vancouver.