EUA: Mortes por overdose passam de 100 mil em um ano pela 1ª vez no país
Só nos 12 meses encerrados em abril deste ano, 100.306 pessoas morreram por overdose de drogas nos Estados Unidos, informou hoje o Centro de Controle e Prevenção de Doenças do país. Homens com idades de 25 a 54 anos são cerca de 70% desse total.
Os números representam aumento de 28,5% em relação ao mesmo período do ano anterior. Essa foi a primeira vez que as mortes por overdose nos EUA ultrapassaram a marca de 100 mil.
"A todas as famílias que choraram por um ente querido e a todas as pessoas que enfrentam o vício ou estão em recuperação: vocês estão em nossos corações", disse o presidente Joe Biden em comunicado divulgado hoje pela Casa Branca.
O médico Rahul Gupta, que chefia o Gabinete de Política Nacional de Controle de Drogas da Casa Branca, classificou o aumento das mortes por drogas como inaceitável. "Uma overdose é um grito de socorro. Para muitas pessoas, esse choro fica sem resposta. Isso requer uma resposta contundente do governo e estratégias baseadas em evidências", afirmou em entrevista a jornalistas.
Houve variações regionais nas contagens de mortes. O Estado de Vermont registrou aumento de quase 70% no número de óbitos por overdose. Grandes aumentos também foram observados em West Virginia (62%), Kentucky (55%), Louisiana (52%) e Tennessee (50%).
As mortes por overdose de drogas diminuíram em apenas quatro Estados: Delaware, New Hampshire, New Jersey e South Dakota. O Estado de Dakota do Sul teve redução de quase 20% nas mortes por overdose, a maior para o período.
Opioides preocupam
Mortes devido ao abuso de opioides —principalmente os sintéticos, incluindo fentanil— respoinderam por mais de 75% do total de óbitos por overdose. Mortes por causa do uso de psicoestimulantes, predominantemente metanfetamina, também aumentaram.
E, embora a crise de opioides tenha sido caracterizada como uma das que afetam principalmente os norte-americanos brancos, um número crescente de negros americanos também foi afetado no período.
Relatório separado do CDC, publicado em julho, concluiu que a combinação de covid-19 e mortes por overdose foi a razão pela qual a expectativa de vida em 2020 teve a maior queda no período de um ano desde a Segunda Guerra Mundial.
Os pesquisadores estimaram que o aumento nas mortes por acidentes ou lesões não intencionais —um terço das quais foram overdoses de drogas— foi responsável por 11% do declínio na expectativa de vida no país.
"O vício em opioides é uma condição crônica e recorrente de tal forma que o estresse ou o isolamento social e a incapacidade de acessar grupos de apoio podem ter provocado recaídas. A pandemia pode também ter dificultado o acesso ao tratamento para dependentes", disse Andrew Kolodny, diretor médico de pesquisa de política de opioides da Escola Heller de Política e Gestão Social em Brandeis Universidade.
O que é o fentanil
O CDC estima que o fentanil é 80 vezes mais potente que a morfina e centenas de vezes mais potente que a heroína. Classificado como medicamento de Classe II pelo governo norte-americano, seus usos médicos são geralmente para o tratamento da dor após cirurgia ou para dor crônica.
Agora comercializado sob as marcas Actiq, Duragesic e Sublimaze, o fentanil foi originalmente sintetizado por Paul Janssen em 1959 e introduzido em 1960 como um análogo estruturalmente relacionado à petidina (mais comumente conhecido como Demerol), que havia sido criado alguns anos antes. O meio original para o medicamento eram os cuidados paliativos.
A droga é administrada clinicamente de várias maneiras, incluindo uma forma de spray por via oral e um pirulito. Também pode ser tomado por via intravenosa ou inalado em pó, de forma semelhante à cocaína.
Apesar de sua potência e do fato de estar na categoria de drogas —junto com a morfina e o oxicontin— com o maior potencial de abuso e fatalidades, os médicos continuam a administrá-lo aos pacientes porque, ao longo do tempo, eles foram treinados para prescrever essa droga para a dor. Além disso, os pacientes que tomam opiáceos desenvolvem uma tolerância que os leva a prescrições de maior concentração.
Embora a Drug Enforcement Administration —órgão de polícia federal do Departamento de Justiça dos Estados Unidos encarregado pela repressão e controle de narcóticos— tenha registrado laboratórios ilícitos de fentanil ao longo dos anos 1980 e 1990, foi só na década de 2000 que o aparecimento da droga nas ruas aumentou significativamente.
O CDC relata que, de 2005 a 2007, houve um total de 1.013 mortes relacionadas ao fentanil nos EUA. No início dos anos 2000, a droga também inundou a Europa Oriental. A Estônia foi atingida de maneira particularmente dura; a certa altura, a droga estava matando mais pessoas que acidentes de trânsito.
Mais recentemente, em 2013, um análogo do fentanil nunca foi o motivo de por 14 mortes por overdose entre usuários de drogas em Rhode Island. Na maioria dos casos, a droga era misturada com cocaína, heroína ou outras drogas. Em agosto de 2015, uma onda de overdoses no oeste do Canadá estava ligada à droga, que estava sendo traficada por uma rota de drogas que ia da Colúmbia Britânica a Alberta e Vancouver.
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