Amorim: Sancionar a Rússia é 'fanatismo ideológico'; 3ª Guerra é fantasia
O ex-ministro das Relações Exteriores do Brasil Celso Amorim afirmou que impor sanções à Rússia, após Vladimir Putin reconhecer as regiões separatistas da Ucrânia, é um "erro" e um "fanatismo político" que causa prejuízos à Europa, por acelerar a proximidade entre Moscou e a China.
Durante entrevista ao UOL News, Amorim disse considerar "lamentável" que países como Reino Unido e os Estados Unidos, além da União Europeia, tenham falado em sancionar a Rússia, pois isso faz com que Putin busque apoio da China, e propicie a criação de um "bloco eurasiano" que aprofundará as tensões com os EUA.
"Essas atitudes de sanções contra a Rússia apenas levam a Rússia a se aproximar mais da China. Então, em vez de você ter uma bipolaridade que já não é boa entre EUA e China, você passa a ter uma bipolaridade entre EUA e um bloco eurasiano que reúne o país mais populoso do mundo, que será ainda nesta década a maior economia mundial, com o país mais extenso do mundo. Então qual é o ganho de fazer isso?", declarou o ex-chanceler, ressaltando que já há temores na própria Europa de que sancionar a Rússia não será benéfico para os países europeus.
Celso Amorim avaliou que "já existe" um conflito armado entre os dois países, mas ponderou que a estratégia de Putin ao reconhecer as repúblicas de Donetsk e Luhanks consiste em barrar a entrada da Ucrânia na Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), e acredita que isso não descambará em uma Terceira Guerra Mundial.
"Terceira Guerra Mundial é uma fantasia nesse contexto. Não vai haver Terceira Guerra Mundial em hipótese alguma, ninguém vai arriscar a destruição total. Agora, há risco de escalada local, sempre há", opinou.
No UOL News, o ex-ministro também disse que não costuma elogiar a atual política externa brasileira, mas salienta que gostou do "discurso moderado" do Brasil na ONU (Organização das Nações Unidas) em relação ao conflito entre Rússia e Ucrânia.
Ainda, Celso Amorim criticou a "obsessão" da Otan em chegar cada vez mais próxima da Rússia, agora por meio da Ucrânia, e afirmou que essa investida da Otan de se "empurrar mais e mais em direção ao Oriente não é uma coisa boa".
O ex-chanceler garantiu que não defende Vladimir Putin nem endossa as ideias do mandatário, mas vê como "legítima" a reação de Moscou frente as investidas da Otan, e acredita que o presidente russo deseja "retomar" os acordos de Minsk.
Assinado em setembro de 2014, seis meses depois de a Rússia ter anexado a península ucraniana da Crimeia, Minsk I é um acordo de cessar-fogo, em 12 pontos, que nunca chegou a ser respeitado. Já o acordo de Minsk II, firmado em fevereiro de 2015, apresentou uma fórmula projetada para reintegrar à Ucrânia as regiões separatistas apoiadas pela Rússia, dando a Moscou alguma voz na política ucraniana.
Vladimir Putin reconheceu ontem de forma oficial como independentes a República Popular de Donetsk e a República Popular de Luhanks, regiões separatistas localizadas no leste da Ucrânia.
O reconhecimento veio acompanhado por reações imediatas dos países europeus e da União Europeia, que prometeram fortes sanções à Moscou, além do presidente dos EUA, Joe Biden, que ligou imediatamente para o presidente da Ucrânia, Volodomyr Zelensky.
Em meio à tensão e ao risco de um confronto bélico, a Rússia mudou a postura e agora diz que vai esperar para enviar suas tropas ao território ucraniano. O parlamento russo já aprovou os acordos de Putin com as regiões separatistas.
Veja análises de Joel Pinheiro e Leonardo Sakamoto, entrevista completa com Celso Amorim e mais notícias no UOL News com Fabíola Cidral:
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