Belarus diz não ter participado militarmente de ataque da Rússia à Ucrânia
O presidente bielorrusso, Aleksandr Lukashenko, afirmou hoje que suas forças militares do país não apoiam o ataque da Rússia à Ucrânia.
Moscou lançou durante a madrugada uma grande ofensiva militar, com bombardeios aéreos e disparos de mísseis contra as principais cidades ucranianas, entre elas a capital Kiev.
"Nossas tropas não participam de nenhuma maneira desta operação", declarou o presidente bielorrusso durante uma reunião com os chefes das Forças Armadas do país.
Segundo Lukashenko, o presidente russo, Vladimir Putin, o telefonou para fazer "um briefing muito detalhado da situação".
"Por volta das 5h de hoje (23h de ontem em Brasília), ocorreu uma conversa telefônica" entre os dois líderes, disse a Presidência bielorrussa em um comunicado.
O documento reiterou que Putin disse a Lukashenko sobre "a situação na fronteira com a Ucrânia" e nas regiões separatistas pró-Rússia da Ucrânia.
Mais cedo, Putin indicou que o objetivo da invasão era de "colocar um fim ao genocídio da população nas regiões de Donetsk e Lugansk".
Esses dois territórios separatistas pró-russos estão em guerra desde 2014 contra as forças ucranianas e foram reconhecidos como soberanos no início desta semana pela Rússia.
Em discurso nesta manhã, Putin denunciou um "genocídio" contra a parcela da população no leste ucraniano que fala russo e detém a dupla nacionalidade.
O líder assegurou que não se trata de uma operação de "ocupação", mas de uma "desmilitarização da Ucrânia", para livrar o país dos "neonazistas" que tomaram o poder.
Belarus fazia parte da ex-União Soviética e se tornou independente em 1991, mas continua até hoje sendo um aliado importante da Rússia.
De acordo com as autoridades ucranianas, as forças russas estão usando o território bielorrusso para invadir a Ucrânia, uma vez que posicionaram um contingente militar neste país há semanas, onde realizam exercícios conjuntos.
A capital ucraniana, Kiev, fica a apenas 150 quilômetros da fronteira bielorrussa.
Na manhã de hoje, o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, apelou a Belarus para que se abstenha de participar da ofensiva russa na Ucrânia, pouco antes de uma cúpula extraordinária do bloco para discutir a crise.
"Faço um apelo a Belarus e seu povo: vocês têm a opção de não acompanhar a ação destrutiva da Rússia", disse Michel em entrevista coletiva.
Michel fez essas declarações junto à presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, e do secretário-geral da Otan (Organização do Tratado Atlântico Norte), Jens Stoltenberg.
De acordo com Michel, "um cataclismo abalou a Europa" com o início da ação militar russa na Ucrânia. "Este ataque injustificado e não provocado é diferente de qualquer outro em solo europeu desde o fim da Segunda Guerra Mundial (1945)", disse ele.
Opositora bielorrussa denuncia apoio de Minsk a Putin
As dezenas de milhares de soldados russos posicionados em Belarus há semanas representam uma ameaça à independência do país, denunciou ontem a opositora exilada Svetlana Tikhanovskaya.
Considerada pelo Ocidente a verdadeira vencedora das eleições presidenciais de 2020 contra Lukashenko, ela foi alvo de ameaças de morte e recebeu asilo na Lituânia há quase dois anos.
A opositora expressou espanto com a ideia de que o referendo organizado no último domingo (20) em Belarus possa permitir a Lukashenko armazenar armas nucleares russas na ex-república soviética que faz fronteira com vários países da União Europeia.
O presidente bielorrusso, que reprimiu com mãos de ferro um movimento popular contra a reeleição em 2020, é "grato" à Rússia, segundo a opositora.
"O Kremlin apoiou Lukashenko, que agora quer mostrar sua lealdade. Ele está cedendo terras para manobras militares", acrescentou Tikhanovskaya, que estimou a presença militar russa em Belarus em cerca de 30 mil homens.
No entanto, na opinião dela, isso não beneficia Belarus, onde a população se recusa a "ser o apêndice de outro país". "As pessoas não querem essas tropas em nosso solo, não querem que o país se torne um agressor de nossos irmãos ucranianos", disse a opositora.
As manobras deveriam terminar em 20 de fevereiro, mas Belarus anunciou que os exercícios continuariam indefinidamente.
"Isso nos mostra aonde Lukashenko quer ir. Ele pode usar nosso território para [armazenar] armas nucleares, o que representaria uma ameaça gigantesca para a Europa", declarou.
* Com informações da AFP e da RFI
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