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Guerra da Rússia-Ucrânia

Notícias do conflito entre Rússia e Ucrânia


Após década de investimentos, Rússia tem arsenal bélico avassalador

Felipe Betim

Colaboração para o UOL, em São Paulo

25/02/2022 14h17Atualizada em 26/02/2022 15h37

O poder bélico da Rússia não pode ser medido apenas pelo arsenal nuclear herdado da Guerra Fria. O país, que iniciou uma guerra contra a Ucrânia na quinta-feira (24), incrementou seus investimentos nas forças armadas a partir de 2010 e passou por um processo de modernização, de acordo com a publicação anual The military balance de 2021, publicada pelo IISS (The International Institute for Strategic Studies).

O país gasta hoje cerca de US$ 61 bilhões (R$ 312 bilhões) por ano em Defesa e está entre os que mais investem na área, junto com Estados Unidos, China, Índia e Arábia Saudita.

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"Depois da queda da União Soviética, a Rússia passou por problemas econômicos graves que tiveram reflexos na capacidade de manter suas forças armadas, impactando sua qualidade e modernidade", explica o internacionalista João Pedro Sá Teles, especialista em segurança. "Mas nos últimos anos os russos vêm fazendo um esforço deliberado para reverter essa situação. É uma tendência de renovação e modernização que vem de mais de uma década."

Isso faz com que a Rússia possua a capacidade de promover ações rápidas, segundo o IISS. "O processo de modernização que a Rússia passa está envolvendo tanto capacidade nuclear como capacidade convencional", explica Marcelo Valença, professor de Relações Internacionais da Escola de Guerra Naval.

Mapa Ucrania - Arte/ UOL - Arte/ UOL
Imagem: Arte/ UOL

Segundo ele, o país tem know how, expertise e os recursos para fazer uma guerra convencional de grande porte. "Os ataques contra a Ucrânia nas três frentes mostram isso. Começou com ataques aéreos, depois teve ataques navais e ataques terrestres. É um poder convencional avassalador que supera, em muito, as defesas nacionais da Ucrânia", completa.

O que todo esse investimento significa em termos práticos? Em primeiro lugar, as forças armadas russas têm 900 mil homens e mulheres e mais 2 milhões de reservistas, contra 209 mil militares ativos da Ucrânia e outros 900 mil reservistas, segundo o IISS. "É importante dizer que esses 900 mil não estão todos mobilizados. A Rússia possui uma fronteira enorme, inclusive com a China, e precisa manter militares mobilizados em outras partes", explica Sá Teles.

Às vésperas da invasão, a Rússia mantinha mais de 150 mil militares cercando a Ucrânia. "Essa vantagem numérica da Rússia significa, no entanto, que a longo prazo o país tem maior capacidade de mobilização, caso a guerra se estenda", acrescenta.

Tanques, mísseis e jatos

Além disso, a Rússia possui mísseis Iskander, com capacidade de detonar bombas comuns e nucleares em até 500 quilômetros, espalhados por toda sua fronteira. Possui também mais de 10.000 tanques, sendo que neste ano começou a produzir em massa o T-14 Armada. O veículo se adapta melhor aos terrenos e carrega mísseis mais potentes e de maior alcance, podendo chegar a 90 quilômetros por hora.

Já a força aérea é composta principalmente pelos sofisticados jatos Sukhoi SU-35. Mas a Rússia já deu um passo adiante e adquiriu caças SU-57, de quinta geração, capazes de competir com a moderna força aérea dos Estados Unidos.

Do ponto de vista naval, a Rússia conta com navios estacionados no Mar Negro, como o Pyotr Morgunov, embarcação de desembarque capaz de levar até 30 blindados. A frota russa conta ainda com submarinos nucleares capazes de atingir alvos a 200 quilômetros, como o Georgy Pobedonosets.

"É característica das grandes potências militares, como Estados Unidos, China e Rússia, possuírem forças convencionais absolutamente completas, com capacidade militar significativa em todos os nichos possíveis", explica Sá Teles.

Míssil - VALENTYN OGIRENKO/REUTERS - VALENTYN OGIRENKO/REUTERS
Policiais inspecionam fragmentos de um míssil que caiu numa rua da capital Kiev, logo após Putin determinar a invasão da Ucrânia
Imagem: VALENTYN OGIRENKO/REUTERS

São elementos que poucas forças armadas possuem, como aviões de ataque, aviões de reconhecimento, mísseis de cruzeiro — usados sobretudo nos primeiros momentos da guerra, para inviabilizar a infraestrutura militar da Ucrânia —, mísseis de defesa de longo alcance, entre outros tipos de armamento.

Foi contando com todo esse aparato militar convencional que a Rússia chegou a Kiev já nesta sexta-feira (25). "Até o momento, a estratégia militar Russa tenta prevenir qualquer brecha de reação da Ucrânia. O país aumentou seus pontos de entrada, usando a Moldávia e a Bielorrússia como aliados de invasão, para dificultar a concentração de tropas [do país inimigo] e se infiltrar por linhas porosas", explica Valença. "É como uma boca fechando em cima da Ucrânia."

Armas nucleares

Além das forças convencionais, a Rússia possui o maior número de armas nucleares do mundo. São cerca de 4.500 ogivas, sendo que 1.600 são operacionais — cifra similar à dos Estados Unidos. Vladimir Putin demonstrou o poderio militar de seu país durante manobras em 19 de fevereiro. Na ocasião, exibiu dois modelos de mísseis hipersônicos, mísseis balísticos e de cruzeiro, entre outros.

Um deles é o poderoso Tsirkon, um míssil hipersônico com capacidade de levar uma ogiva nuclear. Em linhas gerais, armas hipersônicas superam em cinco vezes a velocidade do som, ultrapassando os 6.100 km/h. O poderoso Tsirkon, contudo, chega a cerca de 11.000 km/h.

No entanto, as armas nucleares da Rússia possuem um papel mais estratégico do que tático. "Não veremos sendo usadas em campo de batalha. Mas, no campo estratégico, impede a interferência de outra potência estrangeira", disse Sá Teles.

A explicação lembra a ameaça de Putin na quinta-feira: "Quem interferir levará consequências nunca antes experimentadas na história", disse o mandatário russo, em recado aos Estados Unidos e à Otan.