Após década de investimentos, Rússia tem arsenal bélico avassalador
O poder bélico da Rússia não pode ser medido apenas pelo arsenal nuclear herdado da Guerra Fria. O país, que iniciou uma guerra contra a Ucrânia na quinta-feira (24), incrementou seus investimentos nas forças armadas a partir de 2010 e passou por um processo de modernização, de acordo com a publicação anual The military balance de 2021, publicada pelo IISS (The International Institute for Strategic Studies).
O país gasta hoje cerca de US$ 61 bilhões (R$ 312 bilhões) por ano em Defesa e está entre os que mais investem na área, junto com Estados Unidos, China, Índia e Arábia Saudita.
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"Depois da queda da União Soviética, a Rússia passou por problemas econômicos graves que tiveram reflexos na capacidade de manter suas forças armadas, impactando sua qualidade e modernidade", explica o internacionalista João Pedro Sá Teles, especialista em segurança. "Mas nos últimos anos os russos vêm fazendo um esforço deliberado para reverter essa situação. É uma tendência de renovação e modernização que vem de mais de uma década."
Isso faz com que a Rússia possua a capacidade de promover ações rápidas, segundo o IISS. "O processo de modernização que a Rússia passa está envolvendo tanto capacidade nuclear como capacidade convencional", explica Marcelo Valença, professor de Relações Internacionais da Escola de Guerra Naval.
Segundo ele, o país tem know how, expertise e os recursos para fazer uma guerra convencional de grande porte. "Os ataques contra a Ucrânia nas três frentes mostram isso. Começou com ataques aéreos, depois teve ataques navais e ataques terrestres. É um poder convencional avassalador que supera, em muito, as defesas nacionais da Ucrânia", completa.
O que todo esse investimento significa em termos práticos? Em primeiro lugar, as forças armadas russas têm 900 mil homens e mulheres e mais 2 milhões de reservistas, contra 209 mil militares ativos da Ucrânia e outros 900 mil reservistas, segundo o IISS. "É importante dizer que esses 900 mil não estão todos mobilizados. A Rússia possui uma fronteira enorme, inclusive com a China, e precisa manter militares mobilizados em outras partes", explica Sá Teles.
Às vésperas da invasão, a Rússia mantinha mais de 150 mil militares cercando a Ucrânia. "Essa vantagem numérica da Rússia significa, no entanto, que a longo prazo o país tem maior capacidade de mobilização, caso a guerra se estenda", acrescenta.
Tanques, mísseis e jatos
Além disso, a Rússia possui mísseis Iskander, com capacidade de detonar bombas comuns e nucleares em até 500 quilômetros, espalhados por toda sua fronteira. Possui também mais de 10.000 tanques, sendo que neste ano começou a produzir em massa o T-14 Armada. O veículo se adapta melhor aos terrenos e carrega mísseis mais potentes e de maior alcance, podendo chegar a 90 quilômetros por hora.
Já a força aérea é composta principalmente pelos sofisticados jatos Sukhoi SU-35. Mas a Rússia já deu um passo adiante e adquiriu caças SU-57, de quinta geração, capazes de competir com a moderna força aérea dos Estados Unidos.
Do ponto de vista naval, a Rússia conta com navios estacionados no Mar Negro, como o Pyotr Morgunov, embarcação de desembarque capaz de levar até 30 blindados. A frota russa conta ainda com submarinos nucleares capazes de atingir alvos a 200 quilômetros, como o Georgy Pobedonosets.
"É característica das grandes potências militares, como Estados Unidos, China e Rússia, possuírem forças convencionais absolutamente completas, com capacidade militar significativa em todos os nichos possíveis", explica Sá Teles.
São elementos que poucas forças armadas possuem, como aviões de ataque, aviões de reconhecimento, mísseis de cruzeiro — usados sobretudo nos primeiros momentos da guerra, para inviabilizar a infraestrutura militar da Ucrânia —, mísseis de defesa de longo alcance, entre outros tipos de armamento.
Foi contando com todo esse aparato militar convencional que a Rússia chegou a Kiev já nesta sexta-feira (25). "Até o momento, a estratégia militar Russa tenta prevenir qualquer brecha de reação da Ucrânia. O país aumentou seus pontos de entrada, usando a Moldávia e a Bielorrússia como aliados de invasão, para dificultar a concentração de tropas [do país inimigo] e se infiltrar por linhas porosas", explica Valença. "É como uma boca fechando em cima da Ucrânia."
Armas nucleares
Além das forças convencionais, a Rússia possui o maior número de armas nucleares do mundo. São cerca de 4.500 ogivas, sendo que 1.600 são operacionais — cifra similar à dos Estados Unidos. Vladimir Putin demonstrou o poderio militar de seu país durante manobras em 19 de fevereiro. Na ocasião, exibiu dois modelos de mísseis hipersônicos, mísseis balísticos e de cruzeiro, entre outros.
Um deles é o poderoso Tsirkon, um míssil hipersônico com capacidade de levar uma ogiva nuclear. Em linhas gerais, armas hipersônicas superam em cinco vezes a velocidade do som, ultrapassando os 6.100 km/h. O poderoso Tsirkon, contudo, chega a cerca de 11.000 km/h.
No entanto, as armas nucleares da Rússia possuem um papel mais estratégico do que tático. "Não veremos sendo usadas em campo de batalha. Mas, no campo estratégico, impede a interferência de outra potência estrangeira", disse Sá Teles.
A explicação lembra a ameaça de Putin na quinta-feira: "Quem interferir levará consequências nunca antes experimentadas na história", disse o mandatário russo, em recado aos Estados Unidos e à Otan.
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