Brasileiros na Europa oferecem casa, comida, roupa e carona a refugiados
Um grupo de voluntários formou uma rede de mais de cem brasileiros para oferecer hospedagem, roupas, donativos, comida e transporte para refugiados que conseguiram sair da Ucrânia, invadida por forças militares da Rússia. Só nesta terça-feira (1º), o total de pessoas que estão à disposição com suas casas e estruturas passou de 77 para 106 pessoas.
O cadastro é organizado pelo grupo "Frente Brazucra". Segundo uma das organizadoras do movimento, a gerente de recursos humanos Lígia Lapa, 31, a "grande maioria" das pessoas que se oferecem para ajudar é formada por brasileiros. "Alguns são grupos e ONGs {organizações não governamentais}. Mas a maior parte é brasileiro mesmo, pessoas físicas", disse ela ao UOL.
O conflito entre Rússia e Ucrânia já deixou o menos 136 mortos, 400 feridos e 660 mil refugiados entre 24 de fevereiro e ontem, calculou a Organização das Nações Unidades nesta terça-feira.
O grupo mantém voluntários na fronteira com a Ucrânia resgatando pessoas com dificuldades de cruzar a divisa com a Polônia e outros países. Há também pessoas que ajudam de longe, como Lígia Lapa, que mora na Bulgária.
A maioria dos que oferecem abrigo aos refugiados mora na Alemanha, segundo o último balanço feito hoje. São 23 pessoas no país. Depois, vêm a Polônia (17 voluntários), que faz fronteira com a Ucrânia, o próprio Brasil (13) e mais dois países fronteiriços com a região de combate: Romênia (7) e Eslováquia (6). Mais seis pessoas de Portugal também oferecem abrigo.
Ao menos 65 pessoas ofereceram hospedagem em suas casas. O segundo item mais ofertado é alimentação (39), depois vêm roupas e donativos (31) e auxílio com tradução e comunicação (25).
Grupo tenta tirar mais brasileiros da Ucrânia
Enquanto nem todos conseguem cruzar a fronteira, os voluntários continuam o trabalho de tirar mais gente da Ucrânia, ou conseguir alimentos para quem está há dias tentando entrar em outro país.
Na segunda-feira, o cientista brasileiro Rodolfo Caires saiu da Polônia e foi em direção a Kiev, a capital sob bombardeio dos russos, mas acabou barrado pelos militares. Voltou a Lviv, no lado oeste da Ucrânia e nas proximidades da fronteira polonesa. Nesta terça-feira, passou o dia por lá, conforme contou ao UOL.
Estou com medo de sair da Ucrânia e entrar na Polônia, ficar preso na Polônia e ficar sem ninguém aqui presente na Ucrânia"
Rodolfo Caires, cientista
"Eu, estando aqui dentro, consigo fornecer outros tipos de apoio: buscar o pessoal na estação de trem, levar para o hotel, fornecer suprimentos e informação", disse.
Um colega de Rodolfo que faz parte da mesma frente de voluntários conseguiu transporte com ucranianos para os jogadores de futebol do time Zorya conseguirem sair da Ucrânia hoje.
Carro leva frutas, fraldas e remédios
Hoje à noite, Rodolfo e outra voluntária, Clara Martins, transportavam uma série de suprimentos. Isso incluía frutas em carros, remédios, como aspirina e medicamentos, comida de bebê, fraldas, meias, material de higiene pessoal e cobertores.
Na segunda-feira, Clara Martins, que vive na Alemanha, transportou três brasileiros, um nigeriano e uma ucraniana para fora do país, dirigindo um carro até a fronteira com a Hungria. Ela lembrou que foram todos apertados no veículo: "Ficamos esmagadinhos."
Hoje à noite, ela conseguiu voltar a Lviv, na Ucrânia. A ideia é tentar levar mais pessoas para fora, novamente, usando a fronteira com a Hungria ou com a Polônia.
Itamaraty se vale de voluntários
O trabalho dos voluntários é importante na fronteira. A Embaixada do Brasil fica em Kiev, a 540 quilômetros de Lviv, um trajeto de sete horas num trem. Hoje, em um comunicado no Telegram, a diplomacia brasileira forneceu nomes e telefones das pessoas que ajudam no trabalho de permitir que mais brasileiros escapem do conflito.
"Atenção! Voluntária que fala português na estação de trens de Lviv", dizia uma das notas. "Hoje, 01/03 a partir das 09:00 ao lado esquerdo da entrada a estação de trens de Lviv chegara voluntario [nome] com placar "Brazil" que poderá ajudar com informações de trens na estação", afirmava outro aviso da Embaixada.
Brasileiros que estava com recém-nascido sairiam hoje
A brasileira Maria Allane Zavgorodnii estava de férias no Brasil enquanto seu esposo, ucraniano, trabalhava na Europa. Com o início do conflito, o marido e os sogros não podem sair da cidade. Ela contou que um grupo de oito brasileiros estava escondido em uma estação do metrô em Kiev. Eles tinham dois bebês recém-nascidos. Segundo Maria Allane, hoje eles embarcariam num trem até a Polônia.
Enquanto isso, Maria Allane aguarda solução para a situação de sua família ucraniana. "Meu marido não pôde vir por questão do trabalho", disse ela ao UOL.
"Ele tinha acabado de entrar no trabalho e estava no período de experiência. Ele está lá com meus sogros. Não conseguiu sair da cidade por conta de segurança e a gente está esperando que as coisas melhorem."
Na segunda-feira (28), um brasileiro que mora Lviv conseguiu embarcar com a esposa, ucraniana, numa van em direção a Medyka, na Polônia. Ele, que não quis ser identificado, disse ao UOL que só conseguiu entrar por causa de sua mulher e que os motoristas só entendem ucraniano e russo.
Feita a travessia, o casal tomou uma condução para a Áutria. Eles devem rumar para Portugal. "Agora é tentar reconstruir a vida", afirmou o brasileiro à reportagem. Ele está na Europa há cinco anos e não pensa em voltar ao Brasil.
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