Guerra faz ucraniana deixar apartamento e dormir em garagem subterrânea
Desde o início dos ataques da Rússia contra a capital da Ucrânia, Kiev, Maryna Korniienko trocou seu apartamento pelo estacionamento subterrâneo de seu prédio. Seu carro virou sua cama.
Maryna, 26, e mais três amigos estão dormindo no estacionamento, contou ela ao UOL. Com medo de serem atingidos por um míssil, eles sobem até o apartamento apenas para serviços essenciais, como cozinhar alguma refeição e tomar banho. Mas, "muitas vezes por dia", disse Maryna, essas tarefas são interrompidas pelas sirenes que alertam para o perigo de novos ataques.
"Toda vez que descemos para o estacionamento, ficamos lá por pelo menos 30 minutos para garantir que é seguro sair. Não saímos do território do nosso complexo de apartamentos. Fomos duas vezes ao supermercado para comprar água. Tentamos escolher o horário na primeira parte do dia, quando as chances de bombardeio são um pouco menores", relatou a ucraniana.
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A técnica de TI enviou fotos à reportagem do acampamento onde dorme com os colegas. O carro ganhou iluminação de led, e os bancos viraram camas. Há até revezamento pela parte de trás do carro, onde o espaço é maior.
"Na Ucrânia, não temos tantos abrigos antibombas. Organizamos de forma que duas pessoas pudessem dormir na parte de trás e duas pudessem dormir no banco da frente, sentadas. Trocamos de turno com quem dorme no fundo todos os dias", explicou.
As fotos enviadas por Maryna mostram outras pessoas também vivendo em seus carros. Alguns dormem em colchões no chão.
"Algumas pessoas colocaram um banco e um aquecedor com o gerador de eletricidade no único local onde há acesso à internet para que as pessoas possam sentar, se aquecer e escrever para suas famílias e verificar as notícias no subsolo", disse.
Além da guerra, outra preocupação são os ladrões. Os moradores do prédio se organizaram para proteger o local.
"Alguns homens que moram no prédio organizaram a equipe de segurança. Eles estão monitorando todas as noites para que não haja sabotadores e saqueadores chegando ao abrigo e ao próprio prédio. As pessoas estão se mantendo positivas principalmente e esperando o melhor", disse Maryna.
Ela também recordou o momento em que soube que a guerra tinha começado.
"Eu costumo colocar meu telefone no modo de dormir, então acordei bem tarde com muitas ligações perdidas da minha família e amigos sobre a guerra. Eu não preparei nada com antecedência, infelizmente. Sem sequer escovar os dentes, arrumei uma mala pequena por 15, 20 minutos e saí do apartamento que alugo."
Em sua cabeça, ela define a sensação como um torpor misturado com alerta.
"Senti medo, não pude acreditar no que estava ouvindo no telefone dos meus amigos, mas ao mesmo tempo me recompus e fiquei muito alerta. Eu estava entorpecida e ativa ao mesmo tempo".
Por enquanto, resta a esperança de que a vida irá melhorar.
"Não tenho certeza se volto para o meu apartamento, se algum dia vou ver meus amigos e familiares que agora estão espalhados pela Ucrânia, mas espero o melhor. Essa esperança me faz acordar todos os dias e tentar viver minha vida, apesar do medo e do cansaço", disse.
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