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Guerra da Rússia-Ucrânia

Notícias do conflito entre Rússia e Ucrânia


Guerra faz ucraniana deixar apartamento e dormir em garagem subterrânea

Leonardo Martins

Do UOL, em São Paulo

04/03/2022 04h00

Desde o início dos ataques da Rússia contra a capital da Ucrânia, Kiev, Maryna Korniienko trocou seu apartamento pelo estacionamento subterrâneo de seu prédio. Seu carro virou sua cama.

Maryna, 26, e mais três amigos estão dormindo no estacionamento, contou ela ao UOL. Com medo de serem atingidos por um míssil, eles sobem até o apartamento apenas para serviços essenciais, como cozinhar alguma refeição e tomar banho. Mas, "muitas vezes por dia", disse Maryna, essas tarefas são interrompidas pelas sirenes que alertam para o perigo de novos ataques.

"Toda vez que descemos para o estacionamento, ficamos lá por pelo menos 30 minutos para garantir que é seguro sair. Não saímos do território do nosso complexo de apartamentos. Fomos duas vezes ao supermercado para comprar água. Tentamos escolher o horário na primeira parte do dia, quando as chances de bombardeio são um pouco menores", relatou a ucraniana.

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A técnica de TI enviou fotos à reportagem do acampamento onde dorme com os colegas. O carro ganhou iluminação de led, e os bancos viraram camas. Há até revezamento pela parte de trás do carro, onde o espaço é maior.

"Na Ucrânia, não temos tantos abrigos antibombas. Organizamos de forma que duas pessoas pudessem dormir na parte de trás e duas pudessem dormir no banco da frente, sentadas. Trocamos de turno com quem dorme no fundo todos os dias", explicou.

Mapa Rússia invade a Ucrânia - 26.02.2022 - Arte UOL - Arte UOL
Imagem: Arte UOL

As fotos enviadas por Maryna mostram outras pessoas também vivendo em seus carros. Alguns dormem em colchões no chão.

"Algumas pessoas colocaram um banco e um aquecedor com o gerador de eletricidade no único local onde há acesso à internet para que as pessoas possam sentar, se aquecer e escrever para suas famílias e verificar as notícias no subsolo", disse.

Além da guerra, outra preocupação são os ladrões. Os moradores do prédio se organizaram para proteger o local.

"Alguns homens que moram no prédio organizaram a equipe de segurança. Eles estão monitorando todas as noites para que não haja sabotadores e saqueadores chegando ao abrigo e ao próprio prédio. As pessoas estão se mantendo positivas principalmente e esperando o melhor", disse Maryna.

Ela também recordou o momento em que soube que a guerra tinha começado.

"Eu costumo colocar meu telefone no modo de dormir, então acordei bem tarde com muitas ligações perdidas da minha família e amigos sobre a guerra. Eu não preparei nada com antecedência, infelizmente. Sem sequer escovar os dentes, arrumei uma mala pequena por 15, 20 minutos e saí do apartamento que alugo."

Em sua cabeça, ela define a sensação como um torpor misturado com alerta.

"Senti medo, não pude acreditar no que estava ouvindo no telefone dos meus amigos, mas ao mesmo tempo me recompus e fiquei muito alerta. Eu estava entorpecida e ativa ao mesmo tempo".

Por enquanto, resta a esperança de que a vida irá melhorar.

"Não tenho certeza se volto para o meu apartamento, se algum dia vou ver meus amigos e familiares que agora estão espalhados pela Ucrânia, mas espero o melhor. Essa esperança me faz acordar todos os dias e tentar viver minha vida, apesar do medo e do cansaço", disse.