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Guerra da Rússia-Ucrânia

Notícias do conflito entre Rússia e Ucrânia


Tiktokers da Ucrânia deixam dancinhas de lado para mostrar cenas de guerra

Alina mostra sua rotina na Ucrânia em meio à guerra - Reprodução/Tiktok
Alina mostra sua rotina na Ucrânia em meio à guerra Imagem: Reprodução/Tiktok

Hygino Vasconcellos

Colaboração para o UOL, em Balneário Camboriú (SC)

06/03/2022 04h00

A invasão da Rússia à Ucrânia fez perfis de moradores ucranianos no TikTok ganharem uma nova finalidade. As dancinhas engraçadas deram espaço a vídeos com cenas da guerra — em andamento há dez dias no país.

O próprio presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, além de usar a rede, incluiu os tiktokers em um apelo para para que a população registrasse e publicasse nas redes sociais o que está acontecendo no país.

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'Academia é ir ao abrigo'

Com 60,4 mil seguidores, Alina Volik parou de postar vídeos de suas viagens para mostrar sua rotina durante o conflito. Nas postagens, ela escreve em inglês. "Eu mostro a verdade sobre a Ucrânia nos meus stories."

Em uma das postagens, aparece deitada numa cama, mas subitamente é acordada por uma sirene. "Som de bom dia na Ucrânia", diz, acrescentando que escutou o barulho quatro vezes num mesmo dia.

@alina__volik

And it's not the worst what I have right now. People in other cities can't even go to the grocery and they sleep on the floor in the metro.

? ???????????? ???? - ukr.kozak

Em outro vídeo, ela conta o que mudou na sua vida desde a invasão. "Nossa academia: ir até o abrigo e voltar para casa. Nosso entretenimento nesses dias é ir até o mercado ou à farmácia. Notícias ao invés de filmes", conta a jovem que, em uma das cenas, mostra prateleiras do supermercado com escassez de produtos.

@alina__volik

And this is nothing to what people are going through in other regions and cities? watch my inst stories alina__volik ??

? bringing the era back yall - chuuyas gf

Alina revela ainda ter deixado preparada uma mochila de emergência, colocada ao lado da cama, com documentos, dinheiro e kit de primeiros socorros. "Nossas janelas são seladas, então estilhaços não vão se espalhar. Você dorme vestida porque o alarme pode soar de repente. Seus amigos mandam vídeos dos abrigos."

Marta Vasyuta, que tem 193,8 mil seguidores, passou a repostar vídeos que circulam na internet. A maior parte deles mostra locais destruídos pelos ataques aéreos. Não é possível saber se ela permanece no país ou se está em outro lugar, e nem se algum dos vídeos são, de fato, dela.

Enquanto Anna Prytula deixou de compartilhar imagens de itens de luxo para mostrar cenas de guerra. Diferente das outras duas, há apenas três vídeos sobre os flagrantes do conflito e só um deles em inglês, no qual escreveu: "Não à guerra". Ela tem 41,9 mil seguidores.

Uso do TikTok é influenciado até por perfil do presidente

O uso do TikTok para retratar as cenas da guerra pode ser explicado pela utilização expressiva da plataforma em países com alfabeto cirílico, como é o caso da Ucrânia e Rússia, explica a professora de jornalismo na UFPel (Universidade Federal de Pelotas) e pesquisadora na área de redes sociais, Raquel Recuero.

"O TikTok é bastante usado também na Rússia e tem toda essa pegada, que fala mais pela emoção, mostra dança, mostra arte, brincadeira. É um pouco diferente de outras plataformas e é muito usado pelos jovens. Mas tem um nicho específico (de público) porque a maior parte das pessoas não fala inglês, tem essa barreira linguística muito importante."

Já o professor de jornalismo na USP (Universidade de São Paulo) Eugenio Bucci entende que a própria atuação do presidente da Ucrânia nas redes sociais influencia o uso massivo de usuários da plataforma para retratar a guerra.

"O presidente da Ucrânia é uma celebridade nas redes sociais. É um ator e ao mesmo tempo surpreende com uma liderança, que é, em grande medida, uma liderança exercida nas redes sociais, mas no sentido da defesa da paz. É algo novo. O que a gente está vendo na Ucrânia é um roteiro que a gente não tinha um rascunho. Por isso, é preciso muito cuidado para não fazer generalizações em relação a muitos atos desse teatro de guerra."

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A TV e a Guerra do Vietnã

Bucci relembra que na Guerra do Vietnã a televisão —novidade na época— fez com que a "população despertasse para a ausência de sentido humano" do conflito.

"A televisão no tempo da Guerra do Vietnã era veículo do mercado de consumo. E foi a televisão que começou a carregar imagens mais poderosas para alertar os Estados Unidos sobre os horrores da guerra. Se não tivesse chegado a televisão, não mostraria o que estava acontecendo. Na Ucrânia, o TikTok não é um pilar da democracia, mas indica um canal de reação"

Risco é divulgação de notícias falsas

No caso da Ucrânia, a professora da UFPel chama a atenção para uma possível "guerra informativa" devido à publicação de conteúdos verídicos ao lado de outros falsos —ou descontextualizados. "Não sei até que ponto vai trazer informação ou vai confundir."

Para Recuero, as postagens de cenas da guerra na Ucrânia no TiktTok podem representar uma mudança no que é produzido para a plataforma.

"Acho que essas ferramentas são importantes modos de comunicação. Talvez tenha aí uma mudança, do TikTok não ser mais tão focado no entretenimento e de entrar no hard news, em notícias. Já tinha antes, mas talvez com a guerra tenha chamado a atenção porque as pessoas locais narram o que está acontecendo."