'Quero minha avó': pedido de menino brasileiro convenceu saída da Ucrânia
O pedido de uma criança convenceu uma ucraniana de 60 anos a se despedir do marido na casa onde morava em uma Kharkiv debaixo de bombas, entrar num trem em direção à fronteira com a Polônia usando um corredor humanitário para depois procurar por um voo em direção ao Brasil.
Preocupados com o pequeno Nicollas, que está abatido e sem dormir normalmente nos últimos dias devido à situação da avó em meio ao conflito com as tropas russas, os pais perguntaram o que ele queria de presente de aniversário de nove anos. Como resposta, disseram ter ouvido: "Não quero brinquedo. Só quero que salvem e tirem a minha avó da Ucrânia".
Iryna Uzhyk é mãe de Anton Uzhyk, ucraniano casado com uma brasileira que mora com os dois filhos pequenos em Atibaia, interior de São Paulo. Nos primeiros dias após a invasão das tropas russas ao seu país de origem, ele disse ao UOL que os pais estavam à espera da morte diante das tentativas fracassadas de retirá-los da zona de conflito com o apoio do Ministério das Relações Exteriores (Itamaraty).
- Veja últimas informações sobre guerra na Ucrânia e notícias do dia no UOL News com Fabíola Cidral:
Iryna estava disposta a correr o risco de morrer ao lado do marido na Ucrânia. É que Serhii Uzhyk, 56, está proibido de sair do território ucraniano por ao menos três meses de acordo com a lei marcial, que altera as regras de funcionamento de um país, sob vigência de leis militares. A medida, em vigor desde 24 de fevereiro, primeiro dia da invasão, impede a fuga de homens de 18 a 60 anos, que podem ser obrigados a se alistar.
As explosões estão a cada dia mais próximas da área residencial onde o casal mora. Em conversa com o filho ucraniano que mora no Brasil, Iryna e Serhii relataram ataques aéreos e bombas explodindo a menos de 500 m do imóvel.
Kharkiv já teve 48 escolas destruídas desde o começo da invasão das tropas russas, disse o governo ucraniano. Civis também ficaram sem aquecimento em temperaturas abaixo de zero na segunda maior cidade ucraniana, que tem 1,4 milhão de habitantes. Um reator nuclear foi atingido por bombas no município.
Em um cenário de guerra, Iryna estava determinada a permanecer com o marido mesmo em meio aos ataques aéreos que causam explosões diárias até em áreas residenciais de Kharkiv. Mas acabou se sensibilizando com o apelo do neto.
O meu filho começou a pedir: 'Mãe, vai buscar a minha avó na Ucrânia'. Ele não conseguia dormir e estava se alimentando mal. Aí, perguntamos o que ele queria de presente no aniversário. Ele pediu: 'Só quero que salvem a minha avó'. A minha sogra queria ficar com o marido na Ucrânia, mas se comoveu e mudou de ideia"
Luciana Cosin Uzhyk, nora de Iryna
"A minha mãe viveu a vida inteira ao lado do meu pai, e não queria sair de casa. Mas foi a melhor decisão. Se a situação piorar, o meu pai terá chance maior de sobrevivência se estiver sozinho", diz Anton.
Iryna se despediu do marido e saiu da casa em Kharkiv na última segunda-feira (14). De lá, pegou um trem que chegou a parar na capital Kiev e seguiu em direção a Lviv, perto da divisa com a Polônia. Em seguida, se encontrou com um voluntário brasileiro, que ficou encarregado de atravessar o corredor humanitário e cruzar a fronteira ontem (15).
Já em solo polonês, agora está em direção à capital Varsóvia, onde irá à Embaixada do Brasil no país para pegar um visto humanitário. A previsão é que ela embarque ainda hoje em direção ao aeroporto de Guarulhos (SP). Mas só deve chegar ao Brasil na amanhã (17).
E, só então, poderá atender com um forte abraço ao pedido do pequeno Nicollas, que queria a presença da avó ao seu lado como presente de aniversário em um lugar distante da triste realidade do conflito na Ucrânia.
Vaquinha virtual para bancar despesas
Agora, a família se mobiliza com o auxílio de uma vaquinha virtual para bancar as despesas. Iryna deixou o país apenas com os documentos e uma pequena mala para facilitar o seu deslocamento.
"A minha mãe não conseguiu trazer nada de valor da Ucrânia. Ela vai começar uma vida nova no Brasil", disse Anton.
Até a tarde desta terça-feira (15), já havia sido arrecadado R$ 4.425 —a meta é de R$ 20.000 para a aquisição de móveis, eletrodomésticos e roupas. Iryna vai morar em um sobrado no mesmo terreno do imóvel do filho.
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