Rússia tem munição e alimentos para não mais que três dias, diz Ucrânia
O Ministério da Defesa da Ucrânia disse hoje que as forças russas estão ficando sem suprimentos para a guerra, que entra em seu 27º dia. "De acordo com as informações disponíveis, as forças de ocupação russas que operam na Ucrânia têm estoques de munição e alimentos para não mais de três dias", disse, em comunicado, o ministério, que apontou "situação semelhante com combustível".
O governo russo, por sua vez, disse que a Ucrânia "usa seus próprios cidadãos como 'escudo humano'" e fez uma comparação com o nazismo. "As Forças Armadas da Ucrânia colocam armas pesadas nas áreas residenciais de Mariupol [cidade portuária na Ucrânia]. Os nazistas fizeram o mesmo em Berlim [capital da Alemanha] sitiada em 1945", disse o Ministério de Relações Exteriores da Rússia. Mariupol, que é o principal foco de tensão nos últimos dias, terá corredores de evacuação a partir de áreas próximas à cidade.
As autoridades da Ucrânia não relataram ataques à capital, Kiev, nas últimas horas. Desde as 20h de ontem, horário local (15h, em Brasília), a cidade está sob um toque de recolher de 35 horas. Hoje, por ao menos oito vezes —até as 10h15 (horário de Brasília)—, as sirenes de alerta para ida a abrigos foram acionadas na capital.
O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, falou nesta terça (22) ao Parlamento da Itália e pediu para que os italianos ajudem a parar a guerra "feita por uma só pessoa", em referência ao líder russo, Vladimir Putin. Zelensky também conversou com o papa Francisco, a quem pediu apoio na mediação do conflito. Hoje, o governo russo avaliou que as negociações em curso com a Ucrânia deveriam ser mais "substanciais". "Está em curso um certo processo [de negociações], mas gostaríamos que fosse mais enérgico, mais substancial", disse o porta-voz russo, Dmitri Peskov.
A ONU (Organização das Nações Unidas) diz que ao menos 3,5 milhões de pessoas deixaram a Ucrânia em razão do conflito.
Defesa ucraniana
O Ministério da Defesa da Ucrânia disse que ao menos 300 militares russos "se recusaram a cumprir a ordem de realizar hostilidades" na região de Okhtyrka, cerca de 350 quilômetros a leste de Kiev, perto da fronteira com a Rússia.
A Ucrânia também disse que em Donetsk e em Lugansk, áreas separatistas no leste do país, "o inimigo continua tentando avançar e se firmar, mas sem sucesso". O Ministério da Defesa da Rússia, porém, disse que tem avançado nessas regiões, e que tem atingido instalações militares ucranianas pelo país.
Em Sievierodonetsk, na região de Lugansk, "o exército russo destruiu armazéns atacadistas com alimentos", segundo Serhiy Haidai, chefe da administração militar local. "Eles acertaram o alvo porque sabem exatamente onde. Eles conseguiram infligir perdas ao comércio local, mas os moradores da cidade terão comida —nosso abastecimento foi ajustado".
Hoje, em Druzhkivka, na região de Donetsk, a polícia local disse que por volta das 6h30, horário local (1h30, em Brasília), "as tropas russas lançaram um ataque com mísseis". "Existem vítimas", disse o órgão, sem dar detalhes. "O inimigo disparou contra civis de aeronaves, mísseis e artilharia pesada."
Recado com ameaça
Em comunicado, o ministro da Defesa da Ucrânia, Oleksii Reznikov, com um tom de ameaça, fez um "apelo aos residentes dos distritos russos temporariamente ocupados das regiões de Donetsk e Lugansk". "Nos últimos dias, o exército ucraniano tem capturado cada vez mais pessoas que foram mobilizadas à força pelos ocupantes russos e jogadas na batalha como bucha de canhão".
Ainda os consideramos cidadãos da Ucrânia. Nós consideramos você como nosso. Se você não cometeu um crime, você está seguro. Vamos lidar com algumas diferenças mais tarde. Podemos nos dar ao luxo de ser diferentes porque somos uma nação livre. Mas nós somos um. Tente evitar a mobilização violenta de qualquer forma. Isso salvará a tua vida
Oleksii Reznikov, ministro da Defesa da Ucrânia
Para os ucranianos que cometeram crimes no conflito, Reznikov dá duas alternativas: fugir ou desistir. "O verdadeiro arrependimento será levado em consideração", disse, dando um exemplo: "se você capturar um oficial russo, pode contar com uma pena reduzida."
"Após as atrocidades da Rússia em Mariupol, Kharkiv, Sumy, Chernihiv, nossos soldados estão prontos para queimar todos os intervencionistas e seus auxiliares com ferro em brasa. Não estará entre eles. Não cometa erros", completou.
Mariupol sitiada
O governo ucraniano disse hoje que está "trabalhando duro na evacuação de Mariupol". "Entendemos que não haverá assentos suficientes para todos, portanto, venha até os ônibus de maneira organizada, de acordo com as instruções de nossa equipe local", disse a vice-primeira-ministra, Iryna Vereshchuk.
A Ucrânia se recusou ontem a atender uma exigência russa para a rendição de Mariupol, que é considerada uma posição estratégica no conflito. A cidade está cercada pelos russos, que negam impedir a saída de civis da região. Nesta terça, houve relatos de bombas lançadas no centro de Mariupol.
"Deteremos todos os bandidos e fascistas. Os militares russos não criam barreiras para a população civil, mas ajudam a sobreviver, fornecem alimentos e remédios", disse o Ministério das Relações Exteriores da Rússia. Os russos disseram que, "para evitar operações de sabotagem dos batalhões nacionais ucranianos", seus militares "inspecionam cuidadosamente os veículos que se dirigem para regiões seguras".
"É do interesse de todos os países do mundo desarmar os jovens fascistas e levá-los à justiça. As forças armadas russas salvarão a população civil e destruirão os nazistas", disse o ministério.
Cidade pede que pessoas saiam
Volodymyr Borysenko, prefeito de Boryspil, cidade a 40 quilômetros de Kiev, pediu para que os cidadãos deixam a região.
"Não há necessidade urgente de estar na cidade agora. A luta já está acontecendo por aí", disse, em vídeo, que publicou nas redes sociais, informando que a cidade providenciará transporte para quem não tiver veículo próprio. "Quanto menos civis na cidade, mais fácil é para as Forças Armadas operarem", justificou.
Porto atacado
A infraestrutura portuária de Mykolaiv, a cerca de 490 quilômetros a sudeste de Kiev, foi atingida por um ataque, segundo a Administração de Portos Marítimos da Ucrânia.
"A infraestrutura portuária sofreu danos significativos. Segundo informações preliminares, não há vítimas", disse a instituição no Facebook.
(Com Reuters, AFP e Ansa)
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