Jornais condenados ignoram Justiça, diz inocentado de acusação de abuso
O brasileiro inocentado da acusação de abuso sexual reclamou na Justiça dos Estados Unidos do teor da retratação feita por jornais que atendem à comunidade brasileira da região de Boston.
Como o UOL mostrou, os jornais Brazilian Times e Negócio Fechado foram condenados a pagar US$ 540 mil (ou R$ 2,7 milhões) a um empresário e pastor brasileiro acusado pela ex-mulher de abusar sexualmente de seu próprio filho. A sentença contra os jornais diz que as afirmações publicadas pelos veículos eram falsas — o empresário já havia sido inocentado quando as notícias foram divulgadas.
Uma disputa entre o pastor e sua ex-mulher pela guarda do filho de 11 anos se arrastou entre 2011 e 2018. Neste período, ele passou 94 dias detido em cinco ocasiões diferentes. Mas, ao final, a Justiça deu a guarda do garoto ao pastor e empresário, afirmou que a ex-mulher, uma esteticista, fazia "campanha de acusações falsas" contra ele e ainda condenou os jornais que noticiaram a versão da ex-mulher.
Em documentos apresentados à Justiça na noite de segunda-feira (21), os periódicos Brazilian Times e Negócio Fechado afirmaram que cumpriram a sentença em relação à retratação e à ordem de apagar notícias. No entanto, eles não fazem menção ao pagamento da indenização de US$ 540 mil, como determinou a Justiça (veja mais abaixo).
Já o advogado Edward Prisby, que representa o empresário, afirmou ao UOL ter formalizado a queixa de descumprimento da decisão à juíza do Tribunal Superior de Middlesex, Maureen Mulligan, durante uma audiência realizada ontem (22) — segundo Prisby, os veículos repetiram as acusações infundadas da ex-mulher do pastor quando fizeram as retratações.
[Para preservar a identidade da criança, os nomes dela e de seus pais foram omitidos nesta reportagem.]
A audiência de terça-feira serviu para conferir se os jornais publicaram uma retratação e se apagaram notícias com afirmações falsas na internet. Na semana passada, os periódicos realmente publicaram retratações em seus sites, destacando que o empresário foi "inocentando [sic] das acusações".
Nossas desculpas ao sr. [empresário] por qualquer confusão causada pela publicação em 2018, bem como qualquer impressão negativa que tal reportagem possa ter criado a respeito do referido senhor"
Nota dos editores dos jornais Brazilian Times e Negócio Fechado
No mesmo texto da retratação, acrescentaram que a reportagem continha "uma investigação precisa e factual".
Houve uma entrevista da ex-esposa do acusado afirmando serem verdadeiras as informações"
Brazilian Times e Negócio Fechado
"Fomos julgados à revelia. E que somos uma mídia voltada para a comunidade e em defesa das mulheres vítimas de violência doméstica, muito comum, na comunidade brasileira", afirmavam os textos ao menos até sexta-feira (18).
Mas na segunda-feira (21) esses trechos foram apagados pelos dois jornais, assim como publicações em uma rede social em que Edirson Paiva, dono do Brazilian Times, criticava o tribunal de Middlesex.
Também curiosos estamos em saber como uma 'Corte Superior' deixou vazar e aceitar aleatoriamente os interesses daqueles que procuram o tal do 'fazer dinheiro fácil' "
Edirson Paiva, em rede social
Jornais descumprem ordem judicial, diz advogado
Para o advogado do brasileiro, Edward Prisby, disse que a retratação feita não atende à ordem judicial.
"Os réus violaram a ordem judicial", disse ele ao UOL. "Eles repetiram que eles acreditam que as acusações da esteticista contra seu ex-marido são verdadeiras. Isso faz qualquer retratação que eles fazem agora sem sentido, o que é uma violação da ordem judicial."
O empresário e pastor também reclamou. Ele disse que, mesmo depois da decisão judicial, a comunidade brasileira não entendeu o que aconteceu com sua família. "Quem nos conhece sabe que a verdade foi exposta ao Brasil. Porém, nos EUA, ainda há uma manipulação de opinião por parte de um dos réus e na própria retratação de todos."
O UOL procurou a ex-mulher do empresário, mas ela não prestou esclarecimentos. Edirson Paiva, do Brazilian Times, não atendeu aos telefonemas da reportagem nem respondeu às mensagens, assim como Walter Medeiros, do jornal Negócio Fechado.
A reportagem ainda pediu informações ao jornalista que escreveu as notícias para os dois jornais. Na semana retrasada, ele disse que uma ordem judicial o impedia de comentar o caso.
Periódicos apagaram notícias
Na semana retrasada, Paiva afirmou ao UOL que foi julgado à revelia porque um advogado admitiu culpa no tribunal mesmo sem ter autorização para representar sua empresa.
Em petição apresentada à Justiça na segunda-feira (21), Edirson Paiva informou que apagou as notícias em 7 de março. Em outra petição, Walter Medeiros, disse que o Negócio Fechado já havia feito isso no decorrer do ano de 2020.
Ambos os jornais exibiram à Justiça de Middlesex cópias das retratações feitas. Mas, nelas, há apenas os pedidos de desculpas, sem os comentários da entrevista feita pela ex-mulher do empresário e sobre o fato de serem voltados à defesa de vítimas de violência doméstica. Esses trechos foram retirados da internet.
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