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Guerra da Rússia-Ucrânia

Notícias do conflito entre Rússia e Ucrânia


Provocação de Zelenksy a Merkel e Sarkozy vem de 14 anos atrás; entenda

Do UOL*, em São Paulo

04/04/2022 13h49Atualizada em 04/04/2022 16h17

Durante vista hoje à cidade de Bucha, o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, se direcionou à ex-chanceler alemã Angela Merkel e ao ex-presidente francês Nicolas Sarkozy e disse que convidava os dois a visitarem a cidade, onde cerca de 410 corpos foram achados após a retirada russa, "para ver com seus próprios olhos os homens e mulheres ucranianos torturados".

"Convido Merkel e Sarkozy a visitarem Bucha e verem ao que a política de concessões à Rússia levou em 14 anos", afirmou Zelensky, segundo relato da mídia ucraniana.

Esta foi uma referência à cúpula da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), de abril de 2008, realizada em Bucareste, na Romênia. Merkel e Sarkozy estavam presentes na ocasião e, para Zelensky, poderiam ter tirado a Ucrânia da "zona cinzenta entre a Otan e a Rússia, em que Moscou acha que é permitido tudo. Até os crimes de guerra mais terríveis."

Zelensky criticou diretamente o que chamou de "recusa oculta" da Otan por causa do "medo absurdo de certos líderes políticos em relação" a Moscou.

O presidente ucraniano afirmou ainda que não culpa ninguém "além dos militares russos específicos que fizeram isso contra nosso povo. E aqueles que lhes deram ordens. Mas temos o direito de falar sobre indecisão". A Rússia nega ter matado os civis na região que fica 37 quilômetros a sudoeste da capital Kiev.

Alemanha e França consideraram que era muito cedo, em 2008, para a adesão da Ucrânia —uma ex-república soviética, vizinha da Rússia— à Otan e que não havia condições políticas para isso.

Provocada, Merkel respondeu, por meio de um porta-voz, que defende suas decisões na cúpula de 2008 e que apoia todos os esforços para acabar com a "barbárie e a guerra da Rússia na Ucrânia". Não foi mencionada uma resposta sobre o convite para ir a Bucha.

Em resposta, um dos principais negociadores da Ucrânia nas conversas com a Rússia, Mykhailo Podolyak disse que a "reação de Merkel à oferta de examinar as atrocidades russas em Bucha indica que as elites ocidentais ainda estão sob perigosas ilusões".

Merkel comandou a Alemanha de 2005 a 2021. Sarkozy foi presidente da França entre 2007 e 2012.

A agora ex-chanceler foi criticada após a invasão da Ucrânia por sua política de distensão para com o Kremlin e pela crescente dependência da Alemanha das importações de gás russo, durante seus anos no poder. Sarkozy ainda não se manifestou.

Mapa Rússia invade a Ucrânia - 26.02.2022 - Arte UOL - Arte UOL
Imagem: Arte UOL

As imagens de Bucha se propagaram rapidamente pelas redes sociais, desencadeando indignação internacional.

Zelenski anunciou a criação de um "mecanismo de justiça especial" para "investigar e processar" todos os crimes cometidos pela Rússia em território ucraniano. Esse trabalho será realizado por um grupo de especialistas nacionais e internacionais.

Já a Polônia pediu, hoje, que seja criada uma comissão de investigação internacional sobre as mortes em Bucha. A UE (União Europeia) começou a debater novas sanções contra a Rússia. O secretário-geral da ONU (Organização das Nações Unidas), António Guterres, se disse "profundamente chocado" com as atrocidades cometidas em Bucha. Segundo ele, uma investigação internacional deve apontar os responsáveis pelo massacre.

A secretária de Estado britânica para Relações Exteriores, Liz Truss, declarou-se horrorizada com as atrocidades e reforçou o apelo ao Tribunal Penal Internacional (TPI), sediado em Haia, para que investigue potenciais crimes de guerra na Ucrânia.

O chanceler federal alemão, Olaf Scholz, afirmou que militares russos haviam cometido "crimes de guerra" em Bucha, e que a Alemanha e países aliados iriam definir novas sanções contra Moscou nos próximos dias.

O presidente francês, Emmanuel Macron, também defendeu a aplicação de mais sanções contra a Rússia.

O secretário de Estado americano, Antony Blinken, chamou as imagens de civis mortos na Ucrânia de "um soco no estômago" e afirmou que os Estados Unidos se unirão a seus aliados na documentação das atrocidades para responsabilizar os responsáveis.

(Com agências internacionais)