Provocação de Zelenksy a Merkel e Sarkozy vem de 14 anos atrás; entenda
Durante vista hoje à cidade de Bucha, o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, se direcionou à ex-chanceler alemã Angela Merkel e ao ex-presidente francês Nicolas Sarkozy e disse que convidava os dois a visitarem a cidade, onde cerca de 410 corpos foram achados após a retirada russa, "para ver com seus próprios olhos os homens e mulheres ucranianos torturados".
"Convido Merkel e Sarkozy a visitarem Bucha e verem ao que a política de concessões à Rússia levou em 14 anos", afirmou Zelensky, segundo relato da mídia ucraniana.
Esta foi uma referência à cúpula da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), de abril de 2008, realizada em Bucareste, na Romênia. Merkel e Sarkozy estavam presentes na ocasião e, para Zelensky, poderiam ter tirado a Ucrânia da "zona cinzenta entre a Otan e a Rússia, em que Moscou acha que é permitido tudo. Até os crimes de guerra mais terríveis."
Zelensky criticou diretamente o que chamou de "recusa oculta" da Otan por causa do "medo absurdo de certos líderes políticos em relação" a Moscou.
O presidente ucraniano afirmou ainda que não culpa ninguém "além dos militares russos específicos que fizeram isso contra nosso povo. E aqueles que lhes deram ordens. Mas temos o direito de falar sobre indecisão". A Rússia nega ter matado os civis na região que fica 37 quilômetros a sudoeste da capital Kiev.
Alemanha e França consideraram que era muito cedo, em 2008, para a adesão da Ucrânia —uma ex-república soviética, vizinha da Rússia— à Otan e que não havia condições políticas para isso.
Provocada, Merkel respondeu, por meio de um porta-voz, que defende suas decisões na cúpula de 2008 e que apoia todos os esforços para acabar com a "barbárie e a guerra da Rússia na Ucrânia". Não foi mencionada uma resposta sobre o convite para ir a Bucha.
Em resposta, um dos principais negociadores da Ucrânia nas conversas com a Rússia, Mykhailo Podolyak disse que a "reação de Merkel à oferta de examinar as atrocidades russas em Bucha indica que as elites ocidentais ainda estão sob perigosas ilusões".
Merkel comandou a Alemanha de 2005 a 2021. Sarkozy foi presidente da França entre 2007 e 2012.
A agora ex-chanceler foi criticada após a invasão da Ucrânia por sua política de distensão para com o Kremlin e pela crescente dependência da Alemanha das importações de gás russo, durante seus anos no poder. Sarkozy ainda não se manifestou.
As imagens de Bucha se propagaram rapidamente pelas redes sociais, desencadeando indignação internacional.
Zelenski anunciou a criação de um "mecanismo de justiça especial" para "investigar e processar" todos os crimes cometidos pela Rússia em território ucraniano. Esse trabalho será realizado por um grupo de especialistas nacionais e internacionais.
Já a Polônia pediu, hoje, que seja criada uma comissão de investigação internacional sobre as mortes em Bucha. A UE (União Europeia) começou a debater novas sanções contra a Rússia. O secretário-geral da ONU (Organização das Nações Unidas), António Guterres, se disse "profundamente chocado" com as atrocidades cometidas em Bucha. Segundo ele, uma investigação internacional deve apontar os responsáveis pelo massacre.
A secretária de Estado britânica para Relações Exteriores, Liz Truss, declarou-se horrorizada com as atrocidades e reforçou o apelo ao Tribunal Penal Internacional (TPI), sediado em Haia, para que investigue potenciais crimes de guerra na Ucrânia.
O chanceler federal alemão, Olaf Scholz, afirmou que militares russos haviam cometido "crimes de guerra" em Bucha, e que a Alemanha e países aliados iriam definir novas sanções contra Moscou nos próximos dias.
O presidente francês, Emmanuel Macron, também defendeu a aplicação de mais sanções contra a Rússia.
O secretário de Estado americano, Antony Blinken, chamou as imagens de civis mortos na Ucrânia de "um soco no estômago" e afirmou que os Estados Unidos se unirão a seus aliados na documentação das atrocidades para responsabilizar os responsáveis.
(Com agências internacionais)
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