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Guerra da Rússia-Ucrânia

Notícias do conflito entre Rússia e Ucrânia


Zelensky visita Bucha e convida Merkel para ver 'torturados' na Ucrânia

Do UOL*, em São Paulo e no Rio

04/04/2022 05h30Atualizada em 04/04/2022 18h11

O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, visitou, hoje, a cidade de Bucha, alvo de um massacre durante a ocupação das forças russas. Cerca de 410 corpos foram achados em territórios na região de Kiev, capital ucraniana. Em Bucha, aproximadamente 280 estavam em valas comuns.

A Rússia nega ter matado civis na cidade de Bucha. "Rejeitamos categoricamente todas as acusações", disse hoje o porta-voz do governo russo, Dmitry Peskov.

Zelenskiy declarou que a negociação com a Rússia se torna mais difícil depois que Kiev tomou conhecimento das "atrocidades cometidas pelas forças russas na Ucrânia".

"Estes são crimes de guerra e serão reconhecidos pelo mundo como genocídio", disse Zelenskiy, usando colete à prova de balas e cercado por militares .

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Sob forte esquema de segurança, o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky (ao centro, sem capacete), visitou a cidade de Bucha
Imagem: Ronaldo Schemidt/AFP

"É muito difícil falar quando se vê o que eles fizeram aqui", disse. "Quanto mais tempo a Federação Russa demorar para o processo de uma reunião, pior será para eles e para esta situação e para esta guerra".

Também há relatos de que os militares russos tenham estuprado mulheres ucranianas na cidade.

"Mulheres estupradas na frente de seus filhos, meninas (estupradas) na frente das suas famílias, como ato deliberado de subjugação. Estupro é um crime de guerra", informou Melinda Simmons, embaixadora do Reino Unido na Ucrânia.

Segundo relatos de membros do governo, Zelensky conversou com moradores durante sua passagem por Bucha. O presidente disse que a Rússia cometeu crimes de guerra e genocídio na Ucrânia, mas ainda considera possíveis as negociações para o fim da guerra, que hoje chegou ao seu 40º dia.

Na visita, o presidente disse que era importante a presença da imprensa no local para mostrar "ao mundo o que estava acontecendo" em Bucha.

Zelensky —que também esteve em Irpin e Stoyanka, cidades também da região de Kiev— criou um órgão especial para investigar os massacres nas áreas em que as forças russas se retiraram na região da capital, depois que Moscou reorientou a ofensiva para o leste da Ucrânia.

Convite a Merkel e Sarkozy

Zelensky convidou a ex-chanceler alemã Angela Merkel e o ex-presidente francês Nicolas Sarkozy para visitarem a cidade de Bucha, onde corpos foram encontrados pelas ruas após a retirada russa. Hoje, Alemanha e França anunciaram a expulsão de diplomatas russos dos países.

"Convido Merkel e Sarkozy a visitarem Bucha e verem ao que a política de concessões à Rússia levou em 14 anos. Para ver com seus próprios olhos os homens e mulheres ucranianos torturados", disse Zelensky, segundo relato da mídia ucraniana. O presidente ucraniano fez referência à cúpula da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), realizada em abril de 2008, em Bucareste, na Romênia. Merkel e Sarkozy estavam presentes na ocasião.

O presidente ucraniano disse que não culpa ninguém "além dos militares russos específicos que fizeram isso contra nosso povo". "E aqueles que lhes deram ordens. Mas temos o direito de falar sobre indecisão". Para Zelensky, a Otan, em 2008, teve a chance de tirar a Ucrânia da "zona cinzenta" na Europa Oriental. "Fora da 'zona cinzenta' entre a Otan e a Rússia, em que Moscou acha que é permitido tudo. Até os crimes de guerra mais terríveis."

Provocada por Zelensky, a ex-chanceler respondeu, por meio de um porta-voz, que defende suas decisões na cúpula de 2008 e que apoia todos os esforços para acabar com a "barbárie e a guerra da Rússia na Ucrânia". Não foi mencionada uma resposta sobre o convite para ir a Bucha.

Um dos principais negociadores da Ucrânia nas conversas com a Rússia, Mykhailo Podolyak disse que a "reação de Merkel à oferta de examinar as atrocidades russas em Bucha indica que as elites ocidentais ainda estão sob perigosas ilusões".

Alemanha e França consideraram que era muito cedo, em 2008, para a adesão da Ucrânia —uma ex-república soviética, vizinha da Rússia— à Otan e que não havia condições políticas para isso.

Merkel foi criticada após a invasão da Ucrânia pela Rússia por sua política de distensão para com o Kremlin e pela crescente dependência da Alemanha das importações de gás russo, durante seus anos no poder. A agora ex-chanceler se aposentou da política no ano passado, depois de exercer quatro mandatos.

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Foto de dezembro de 2019 mostra o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, ao lado de Angela Merkel, então chancelar alemã, do presidente francês, Emmanuel Macron, e do presidente russo, Vladimir Putin, durante encontro em Paris, capital da França
Imagem: 9.dez.2019 - Ludovic Marin/AFP

Novos ataques

Nesta segunda (4), autoridades ucranianas informaram sobre ataques a cidades do leste do país, área separatista, onde esperavam um "grande avanço russo", como disse Serhii Haidai, chefe da administração militar regional de Lugansk.

Novovorontsovka e Marianske, cidades a cerca de 500 quilômetros de Kiev, foram atingidas por bombardeios. Em Mykolaiv, mais ao sul do país, também há relatos de ataques, com registro de morte de 10 civis e 46 feridos, de acordo com o prefeito Oleksander Senkevich.

Para a inteligência do Ministério da Defesa do Reino Unido, aliado da Ucrânia, "as forças russas continuam a se consolidar e reorganizar à medida que reorientam sua ofensiva" para a região separatista do leste da Ucrânia.

Hoje, a vice-primeira-ministra ucraniana, Iryna Vereshchuk, informou que há 7 ônibus com civis bloqueados em um dos corredores humanitários utilizados para evacuar Mariupol. Ela afirma que a Rússia "viola sistematicamente" os acordos sobre a evacuação.

O Comitê Internacional da Cruz Vermelha disse que não conseguiu chegar a Mariupol para auxiliar na evacuação.

"Devido a condições de segurança, nossa equipe não conseguiu chegar a Mariupol hoje", afirmou um porta-voz da Cruz Vermelha, Jason Straziuso, à agência Reuters.

Enterros proibidos

Em Bucha, o funcionário municipal Serhii Kaplychnyi disse à agência AFP que as tropas russas impediram os moradores de enterrar os mortos na cidade. "Eles disseram que, enquanto estivesse frio, os deixariam lá", afirmou. Quando finalmente conseguiram recuperar os corpos, "cavávamos uma vala comum com um trator e enterramos todos."

A alta comissária da ONU para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, se declarou "horrorizada" com as imagens de corpos na cidade de Bucha.

"As informações que estão chegando desta região e de outras apresentam perguntas graves e preocupantes sobre possíveis crimes de guerra e infrações graves do direito internacional humanitário, assim como graves violações dos direitos humanos", destacou Bachelet em um comunicado, no qual pediu que "todas as evidências sejam preservadas".

Hoje, o governo ucraniano relatou que o corpo da prefeita de Motyzhyn, cidade perto de Kiev, foi encontrado, em uma cova rasa. Os corpos de seu marido e filho estavam juntos com o dela, segundo relato da agência Reuters.

Mapa Rússia invade a Ucrânia - 26.02.2022 - Arte UOL - Arte UOL
Imagem: Arte UOL

"Primeira batalha"

Para o ministro da Defesa da Ucrânia, Oleksiy Reznikov, "os defensores ucranianos venceram a primeira batalha pela capital". "A região de Kiev foi libertada do inimigo [exército russo]. Ele também está recuando nas regiões de Chernihiv e Sumy para reagrupar forças e mudar a direção dos ataques."

Reznikov, porém, lamenta as cenas vistas em Bucha. Segundo seu relato, corpos de civis foram encontrados com as mãos amarradas e tiros na parte de trás da cabeça. "Nossos corações estão cheios de dor pelas centenas de civis que foram brutalmente torturados por soldados russos."

A Polônia pediu, hoje, que seja criada uma comissão de investigação internacional sobre as mortes em Bucha. A UE (União Europeia) começou a debater novas sanções contra a Rússia. O secretário-geral da ONU (Organização das Nações Unidas), António Guterres, se disse "profundamente chocado" com as atrocidades cometidas em Bucha. Segundo ele, uma investigação internacional deve apontar os responsáveis pelo massacre.

Segundo Reznikov, os "os combates pesados agora continuam" em Kharkiv, segunda maior cidade do país, e nas regiões separatistas de Lugansk e Donetsk. "Ainda há uma alta probabilidade de ataques aéreos e de mísseis contra alvos civis em Kharkiv", disse comunicado do ministério nesta segunda.

Reforço russo

O Reino Unido disse hoje que "tropas russas, incluindo mercenários da empresa militar privada Wagner, ligada ao Estado russo, estão sendo transferidas para a área" do leste ucraniano. O Ministério da Defesa da Ucrânia também observa um movimento de ampliação, dizendo que a Rússia "iniciou medidas para mobilizar secretamente reservistas a fim de trazer unidades militares".

Na semana passada, o governo russo convocou 134 mil reservistas. Na avaliação da Ucrânia, "o Comando das Forças Armadas da Federação Russa espera envolver cerca de 60 mil pessoas na mobilização".

O Ministério da Defesa da Rússia disse hoje que seu exército continua "a atacar a infraestrutura militar da Ucrânia". E cita como exemplo uma ação contra um posto de comando em Lysychansk, a 850 quilômetros de Kiev, em Luganks, região separatista.

Os russos alegam ter destruído "armazéns próximos com munição, armas e equipamentos militares". Não foi possível checar a informação com fontes independentes.

Segundo informou a Reuters, a Rússia retirou cerca de dois terços de suas forças que estavam nos arredores de Kiev, com muitas tropas se consolidando em Belarus, onde se espera que sejam reequipadas, reabastecidas e redistribuídas em outros lugares da Ucrânia, disse nesta segunda-feira um alto funcionário da defesa dos EUA.

Desminagem

O serviço de emergências da Ucrânia, em comunicado, pediu que a população na região de Kiev olhe "atentamente" para o chão e reporte caso encontre explosivos. A área está "repleta de minas, granadas, granadas e outros 'presentes' mortais do exército russo". Segundo o serviço, suas equipes continuam a retirar minas da região.

Hoje, 4 de abril, é Dia Internacional de Conscientização e Assistência Contra Minas. "Nunca quisemos que nossas cidades e vilarejos, nossa bela terra ucraniana, se tornassem a personificação deste dia, que visa chamar a atenção do mundo para as terríveis consequências do conflito armado para os civis", disse o comunicado.

Para a ONU (Organização das Nações Unidas), a Ucrânia é um exemplo do poder arrasador de minas terrestres.

(Com Ansa, Reuters, AFP e RFI)